Sócrates ou Raí: Craques dentro e fora de campo!
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Irmãos e craques de carreiras semelhantes
Ídolos de clubes rivais, Sócrates e Raí foram grandes referências de suas respectivas gerações, principalmente dentro do futebol brasileiro. Geniais e de qualidade técnica invejáveis, os irmãos possuem tantas semelhanças como diferenças, seja na personalidade como no estilo de jogo e na forma de levar a vida. Enquanto o mais velho foi, não somente considerado um do melhores, como também uma espécie de porta-voz de sua geração, era um atleta alguém não muito afeito a treinamentos e como uma vida boêmia destacada. Raí, o mais novo, era fisicamente acima da média, um atleta no melhor sentido da palavra.
Com carreiras gigantes, algo que talvez mais o destaque e coloquem lembrança em ambos, além do início no Botafogo/SP, passagem por gigantes do futebol brasileiro e participação em Copa do Mundo, foi a relação de ambos com aquele que é considerado um dos melhores treinadores brasileiros, o mestre Telê Santana.
Botafogo/SP é o berço dos irmãos craques
Nascido em Belém do Pará, no ano de 1954, Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, se mudou ainda criança para a cidade de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. E seria nela que tanto ele, quanto seu irmão mais novo, Raí, iniciariam a jornada de ambos no futebol.
Sócrates iniciou no juvenil do Botafogo de Ribeirão Preto no ano de 1970, com apenas 16 anos. Contudo, e durante todo esse período ate se tornar profissional, “Magrão” teria que dividir o futebol com os estudos, mais pra frente, com os estudos na faculdade de medicina. O pai dos craques incentivava e influenciava na educação dos seus filhos. Inclusive, foi seu pai, um assíduo leitor de filosofia, que lhe daria o nome do filósofo, além de ter lhe ajudado a construir um senso crítico. Característica muito presente na carreira e na vida do “Doutor”.
Seria somente em 1973 que Sócrates assinaria seu contrato de profissional com o time de Ribeirão Preto. Ali, ele atuaria por 4 temporadas, e mesmo com a alta atura, 1,92m, e a pouca força física, logo se destacaria no futebol paulista chamando a atenção dos principais clubes do estado. Jogaria em 269 partidas, tendo anotado 101 gols, conquistando como título a Taça Cidade de São Paulo.
Raí estrearia somente em 1984
Raí, 1984.
Botafogo FC Ribeirão Preto. pic.twitter.com/ASL9COvKCi— Olympia (@olympia_vintage) March 3, 2016
No ano de 1980, foi a vez do irmão caçula da família Vieira de Oliveira começar a jogar entre os juvenis do Botafogo/SP. A fim de afastar qualquer pressão por ser irmão do “Doutor Sócrates”, Raí iniciou escondendo seu parentesco, embora sempre ter afirmado que o tivesse como principal ídolo. Contudo, não demorou para o jovem mostrar um talento incomum, assim como Sócrates, embora fosse mais atlético e com maior explosão.
Sua estreia no profissional aconteceria quatro anos depois, no ano de 1984, como um meia mais avançado, com maior chegada ao ataque e dentro da área, além de também se destacar por ser um organizador. Sua passagem pelo Botafogo/SP foi mais rápida, tendo atuado por três temporadas, com apenas 10 gols marcados em 38 partidas disputadas. Nesse meio tempo, Raí também teve uma breve passagem por empréstimo, pela Ponte Preta.
Ídolos máximos de Corinthians e São Paulo
Enquanto atuava pelo Botafogo/SP, Sócrates já era tido como um dos principais jogadores do Brasil, despertando o interesse principalmente dos gigantes paulistas. Foi então que o SC Corinthians, sob a figura de Vicente Matheus, que o clube alvinegro atravessou um negócio praticamente selado entre o jogador e o São Paulo FC.
Sócrates estreou com o manto alvinegro em 1978, um ano depois do histórico título paulista de 1977, que quebraria um jejum de 23 anos sem conquistas pelo Alvinegro da capital. Seu primeiro título pelo Corinthians viria no ano de 1979, com o Campeonato Paulista daquele ano. Ainda seria o artilheiro do clube na competição, com 10 gols, ao lado de Geraldão, atacante do Timão.
Já Raí chegaria ao Tricolor Paulista na temporada de 1986, num período que Sócrates já havia se transferido o futebol europeu, onde atuaria pela Fiorentina, e voltado ao Brasil para atuar pelo CR Flamengo. A exemplo de seu irmão, ele quase foi parar em um rival do São Paulo, porém, no seu caso, o destino seria o inverso, até porque, quando o Timão demonstrou interesse no atleta, o São Paulo logo o contratou.
Por ser irmão de Sócrates, Raí teve maiores dificuldades no seu início no tricolor. Era considerado muito lento e grandalhão para atuar pelos lados do ataque. E seria somente após a chegada do mestre Telê Santana, no ano de 1990, que de fato o jogador se encontraria com o clube, onde conquistaria praticamente todos os títulos possíveis. Ali viveria os melhores momentos na carreira.
Sócrates como líder da Democracia Corintiana
Jogador com uma técnica acima da média, porém, Sócrates sempre teve preocupações que iam além do futebol. Em um período inesquecível na história do Corinthians, ao lado de jogadores como Casagrande, Wladimir, Zenon e Biro-Biro, o meia era o líder do time, tanto dentro como fora de campo. Apesar de ter conquistado apenas mais dois campeonato paulistas, o clube vivia um momento único no Brasil, e isso tudo em meio a Ditadura Militar.
A Democracia Corintiana foi um momento de resistência dentro do futebol durante aqueles anos sombrios pelos quais o país passava, porém, já em um processo de abertura política e de protestos pelas Diretas Já. Sócrates e o Corinthians eram um símbolo para tudo aquilo.
Porém, um ano depois de sua última conquista com o clube, em 1984, e desiludido com a revogação da emenda que previa eleições diretas, o jogador aceitou uma oferta milionária da Fiorentina/ITA, e se despediu do Brasil. No SC Corinthians foram 297 partidas, com 172 gols.
Raí como jogador decisivo no São Paulo de Telê
E assim como o irmão mais velho, Raí escreveria uma história única e peculiar no futebol paulista e brasileiro. Capitão e craque em um histórico time do São Paulo, campeão Brasileiro de 1991, da Copa Libertadores de 1992 e 1993, além do Mundial Interclubes de 1992, sempre se mostrou como jogador decisivo nas grandes partidas e finais.
Pela final do Campeonato Paulista de 1991, contra o Corinthians de – na época – Neto, o meia marcou três gols na primeira partida decisiva, além de ser o artilheiro da competição com 20 gols.
Uma ano depois, e na decisiva da Copa Libertadores de 1992, foi dele o único gol que levaria o confronto para as penalidades máxima, contra o Newell’s Old Boys, da Argentina. Partida que resultaria na primeira Libertadores do clube, em um Estádio do Morumbi tomado. Porém, a partida mais lembrada do craque em sua carreira é, sem dúvida, a final do Mundial Interclubes, contra o Dream Team do Barcelona de Johan Cruyff. Na vitória de virada por 2 a 1, Raí marcaria os dois gols tricolores.
Melhor do Brasil, Raí faz sucesso no PSG
Raí acertou sua transferência com o Paris Saint Germain ainda em 1993, e rapidamente se adaptou ao futebol da França. Lá conquistaria títulos e a torcida francesa. Antes do PSG ser uma potência mundial, com muito dinheiro e investimentos, Raí fez parte de uma era de ascensão do clube, que já montava seus primeiros grandes times. Naquele período, passaram pelo clube atletas como Leonardo e George Weah, com o PSG vencendo títulos na França e ganhando espaço no cenário Europeu.
Ali, Raí conquistaria um Campeonato Francês 1993-94, duas Copas da Liga Francesa em 1994-95 e 1997-98, além da Recopa Europeia em 1995-96. Sua saída se deu pouco depois do 2º título da Copa da Liga, em 1998, após 215 jogos e 72 gols marcados.
Assim, com tantos títulos e feitos, o meia se tornou um dos maiores ídolos da história do PSG, sendo venerado até hoje.
Sem sucesso na Fiorentina, Sócrates retorna para o CR Flamengo
Sócrates at Fiorentina. pic.twitter.com/kEexQzbmmg
— Michael Glasper (@michaelglasper) June 28, 2020
Sócrates chegou à Europa quase dez anos antes que Raí. Seu destino foi a Fiorentina, em 1984, quando naquele período o futebol italiano era o mais forte do Velho Continente. A promessa era de que seria um dos principais jogadores do Calcio, e na intenção de fazer história semelhante ao seu companheiro de seleção, Paulo Roberto Falcão, que se transformou no Rei de Roma.
Porém, Sócrates encontrou muitas dificuldades no futebol europeu, sendo a primeira delas a forma de treinamento, considerada muito dura para o jogador. A segunda delas, era o seu estilo festeiro que lhe rendeu diversas críticas. Com isso, Sócrates ficou na Fiorentina por apenas uma temporada, deixando o clube em 1985. Por lá, atuou em apenas 25 jogos, com seis gols.
O retorno ao Brasil foi para mexer com o país. Acertou contrato como o CR Flamengo, em 1986, onde voltaria a atuar com o Galinho Zico. Porém, já com muitos problemas físicos, atuou pouco novamente, em apenas 25 partidas, com 5 gols marcados pelo gigante rubro-negro.
Sócrates y Zico. Flamengo. pic.twitter.com/RFUrgsiBaf
— Nostalgia Futbolera ® (@nostalgiafutbo1) September 27, 2021
Pensando em desistir do futebol e se concentrar apenas na carreira de médico, Sócrates ainda teve rápida passagem pelo Santos FC, em 1988. Na equipe da baixada conseguiu entrar em alguns momentos numa boa performance, entrando em campo por 47 partidas, com 14 gols marcados. No ano seguinte, ainda deu tempo do Magrão retornar ao Botafogo de Ribeirão Preto para se aposentar aos 35 anos.
Raí volta com tudo ao São Paulo, mas lesões atrapalham
Após um período de ouro no PSG, Raí retornou ao São Paulo justamente numa final de Campeonato Paulista, em 1998. E mal colocou os pés no Estádio do Morumbi, o jogador ajudou sua equipe a conquistar o título, justamente em decisão contra o Corinthians, em vitória por 3 a 1, com um gol de Raí.
Contudo, apesar de voltar ao São Paulo a todo vapor, o meia rompeu os ligamentos do joelho pouco tempo depois, ficando parado por oito meses. De volta aos gramados, Raí não conseguiu recuperar a velha forma física, e resolveu se aposentar após a final da Copa do Brasil de 2000, encerrando uma trajetória vencedora no tricolor, como o Terror do Morumbi, com 128 gols em 395 jogos pelo São Paulo. Coincidentemente, o ídolo tricolor se aposentou aos 35 anos de idade, assim como seu irmão.
Sócrates e Raí tem histórico com a seleção brasileira
Dr. Sócrates representou a seleção brasileira pela primeira vez ainda em 1978, pouco tempo depois de ser contratado pelo Corinthians. Não demorou muito para que ele tomasse conta do meio-campo da seleção, sendo, inclusive, alçado muitas vezes ao posto de capitão. Sócrates fez parte da histórica seleção de 1982, comandada pela mestre Telê Santana. Era uma seleção mágica, formada por craques como Zico, Falcão e Toninho Cerezo, porém, eliminados para a Itália, naquilo que ficou conhecido como a Tragédia de Sarriá.
Em 1986, na Copa do Mundo do México, e já em declínio de sua carreira, Sócrates ainda recebeu mais um voto de confiança de Telê Santana. O Brasil até fez uma campanha respeitável, tinha grandes jogadores entre os convocados, mas foram eliminados pela seleção da França, do craque Michel Platini. Inclusive, este seria o último jogo de Sócrates pela seleção brasileira, após 63 partidas e 25 gols marcados.
No banco, Raí foi Campeão do Mundo em 1994
Enquanto Sócrates se despedia da seleção brasileira, Raí fazia o caminho inverso. Ainda como jogador do Botafogo/SP, o irmão caçula do Doutor estreava no escrete canarinho no ano de 1987.
Contudo, o meia teve uma participação menos lembrada vestindo a camisa do Brasil, com maior participação nas eliminatórias para Copa do Mundo de 1994. Ali ele se firmaria como titular e também como capitão da seleção que iria se classificar apenas na última rodada, em partida histórica contra o Uruguai. Porém, durante a Copa – que o Brasil se sagraria campeão – Raí perderia a posição de titular e a faixa de capitão logo no início do torneio, e mesmo com a conquista, sem dúvida aquele seria um dos mais complicados momentos de sua carreira.
Raí ainda foi convocado por Mário Jorge Zagalo para um amistoso decisivo contra a Argentina, para decidir se seria convocado ou não. Foi mal na partida, sendo vaiado por uma Estádio do Maracanã tomado, e seria a última participação dele com o Brasil, se despedindo após 51 jogos, com 17 gols.
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1 Comments
Eu amava vê o Sócrates atuar em campo ele foi um grande jogador pena que ele se foi, o mundo nunca mais terá jogadores como ele, o Zico, o Raí o Casagrande eles jogavam com a alma e raça eles tinham amor pela bola, meu coração chorou quando perdemos o Doutor Sócrates.