Em revanche e com Maradona, Argentina e Holanda se enfrentaram em 1979
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Partida foi por celebração dos 75 anos da FIFA
Para celebrar os seus 75 anos de existência, a FIFA convidou as duas melhores seleções da época para a realização de um amistoso. Argentina e Holanda foram as convidadas para a disputa, pois – além de contarem com elencos recheados de craques – eram as atuais campeã e vice do Mundial disputado um ano antes, em 1978. O amistoso ocorreu em Berna, na Suíça, no dia 22 de maio de 1979.
Numa partida equilibrada, as duas seleções empataram no tempo normal em 0 a 0, sendo que o confronto foi decidido apenas nas penalidades máximas, com os argentinos levando a melhor, com grande decisão de Fillol. Como se não bastasse, esse jogo também ficou marcado pela estreia de um ainda jovem Diego Armando Maradona desfilando em gramados europeus. Ainda uma estrela em ascensão, Dieguito entrava em campo apenas sua terceira partida pela seleção.
Argentina: Atual campeã e sobre escombros
Naquele ano de 1979, a seleção argentina de futebol colhia os louros de seu inédito título de Copa do Mundo, em um mundial muito questionado que foi disputado na própria Argentina. Ainda assim, naquele período em questão, o selecionado celeste era considerado um dos melhores do planeta.
Porém, e mesmo com uma equipe notável tecnicamente, naquele período o país (assim como grande parte da América Latina) passava por uma ditadura militar violenta, iniciada em 1976. Algo que interferiu diretamente no futebol, já que nas vésperas da realização do mundial, quando os militares assumiram o poder também tomaram conta de toda a organização da competição.
Sem contar que, ainda no início do regime, o então responsável pela organização do evento, Omar Carlos Actis, foi assassinado pelos militares. Dali em diante, uma série de fiascos começou a ocorrer como, por exemplo, gastos exorbitantes para a disputa do mundial junto ao crescimento da dívida da Argentina. Próximo a disputa do mundial em casa, o país estava à beira de um colapso.
Apesar de tudo, o primeiro mundial chegou
He Was 25 years and 31 days on the day of the 1978 final,Argentina’s Daniel Alberto Passarella remains the youngest player to captain his side to victory in a World Cup final.He Captained the Argentina team that won the 1978 World Cup. Argentina beat Netherlands 3-1 in the final. pic.twitter.com/HkClfZFPrN
— STANLEY PAUL IKAWU. (@paul_ikawu) May 5, 2020
Com tantos gastos e a beira de um colapso, o título para os argentinos se tornava uma necessidade. Ainda mais que a seleção albiceleste vinha de uma sequência desastrosa de decepções nas Copas anteriores. Em 1970 o selecionado sequer passou das eliminatórias. Já em 1974, caiu na segunda fase de grupos, sem fazer sombra para favoritos como Brasil e Holanda. Mas, na Copa do Mundo de 1978, a sorte mudou para os argentinos e o tão sonhado título mundial finalmente chegou.
Regado a polêmicas, sendo a mais famosa delas no confronto contra o Peru quando – já sabendo do resultado necessário para chegar à final – pela segunda fase de grupos venceu justamente pelos necessários 6 a 0. Na época, os argentinos deixaram para trás a seleção brasileira do craque Rivellino, com uma desconfiança, até hoje muito mal explicada, sobre interferência de militares para cima da seleção peruana.
Polêmicas à parte, a seleção argentina chegou à grande decisão e venceu os holandeses pelo placar de 3 a 1, com brilho do camisa 10 Mário Kempes, que iluminado anotou dois gols.
Para 1979, Argentina manteve a base campeã
Para enfrentar a Holanda no amistoso de 1979, a seleção argentina contou com a base campeã mundial. Aguerrido, o time argentino era formado por jogadores jovens, reconhecidos pelo excesso de entrega e forte organização em campo. Tanto que o símbolo daquela equipe era o zagueiro artilheiro Daniel Passarela, capitão que ergueu a taça em 1978.
Ao lado dele, nas laterais, os hermanos contavam com o regular Jorge Olguín na direita, além do lendário Alberto Tarantini na esquerda. No gol, quem estava embaixo das traves era o ágil e seguro Fillol – um dos maiores goleiros da história argentina.
Do meio para frente, as referências eram os atacantes Alberto Ortiz e Leopoldo Luque. Na partida em questão, em relação ao elenco campeão de 1978, a Argentina só não contava com o seu protagonista do título, Mário Kempes. Porém, para o lugar dele, seleção argentina passou a contar com o jovem Diego Maradona.
Maradona em seus primeiros passos na seleção!
Aquele jogo contra a Holanda em 1979 seria o terceiro de Maradona com a camisa da seleção argentina. Aos 18 anos de idade, o habilidoso canhoto já era considerado um fenômeno, para muitos uma injustiça ele não ter estado nos convocados para o mundial de 1978. Ainda atleta e destaque dos Argentinos Juniors, Maradona partiria para o gigante Boca Juniors apenas na temporada de 1981.
“El Pibe de Oro”, como era chamado, havia sido convocado pela Argentina pela primeira vez ainda em 1977, quando tinha apenas 16 anos. Na ocasião, estreou em amistoso contra a Hungria, um vitória em casa, por incríveis 5 a 1. Porém, ele só voltaria a participar de uma partida pela Argentina justamente em 1979, agora em outro amistoso, contra a seleção da Bulgária, com triunfo também em solo argentino pelo placar de 2 a 1.
A partir de 1979, o jovem craque passaria a ser convocado com maior frequência, herdando a camisa 10 de Kempes para também consagrá-la como uma das maiores na história do futebol.
Carrossel Holandês fez história na década de 1970
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— Scottish Footy Cards (@ScotsFootyCards) April 16, 2021
Aquela década de 1970 ficou marcada no mundo do futebol por uma seleção que jogava em um futebol total. Um país que, até então, não era considerada uma das principais potências futebolísticas da Europa, a partir do final dos anos de 1960 e início dos anos de 1970, uma nova equipe – sob uma geração fantástica – eternizaria um novo modelo para o futebol. Com a base do Ajax FC, a Holanda do “Carrossel Holandês” amargaria dois vice-campeonatos mundiais em 1974 e 1978.
Na Copa do Mundo de 1974, o selecionado holandês tinha um time considerado mais encorpado e forte, sendo que contava com o maior jogador holandês da história: Johan Cruyff. Porém, no mundial de 1978, o atleta não esteve presente entre os convocados, por um motivo que até hoje poucos sabem. Na época, o jornal alemão Bild levantou algumas especulações, sendo que uma delas foi a que o craque holandês se recusou a viajar para a Argentina, por conta da Ditadura que o país vivia Fato que foi negado anos mais tarde.
Para piorar, a Holanda não vivia um bom clima às vésperas da Copa do Mundo de 1978. Até porque, o treinador Ernst Happel, atual campeão da Liga dos Campeões com o Feyenoord Rotterdam não tinha bom relacionamento com os atletas.
Futebol Total e ofensivo!
Apesar de contar com poucos jogadores da base que encantou o mundo em 1974 sob o comando de Rinus Michels, a Holanda ainda contava com boa parte base em 1978, mesclada com novos jogadores. Mesmo sem encantar como nos anos anteriores, aquele grupo ainda mostrava resquícios do famoso Carrossel Holandês, pela forma ofensiva de jogar.
Dentre seus principais destaques para o início de 1979, a referência técnica era o meia Johan Neeskens, agora líder do time, e que na época vestia a camisa do FC Barcelona. Além dele, o atacante Johnny Rep também era um dos craques remanescentes do mundial de 1978, junto ao ponta direita René van de Kerkhof, que no amistoso contra os hermanos começaria no banco.
Argentina e Holanda fazem revanche em 1979
No amistoso, que serviria como uma revanche para os holandeses, quem chegou primeiro ao ataque foi a Argentina. Logo nos primeiros minutos, Leopoldo Luque soltou um chute de fora da área, porém, muito fraco, sem trabalho para o goleiro Pim Doesburg.
Na sequência, foi a vez dos holandeses darem a resposta. Em uma pancada de Poortvliet fora da área, o goleiro Pato Fillol foi obrigado a fazer uma boa defesa em dois tempos.
Em um primeiro tempo de ataque e contra-ataque, as duas equipes não paravam de se cutucar. Daniel Passarela cobrou falta de longa distância e fez com que a bola passasse rente à trave esquerda. Como não poderia ser diferente, a Holanda respondeu a altura e também de bola parada. Em cruzamento, Johnny Rep subiu mais e resultou em uma perigosa cabeçada.
Porém, mesmo com as duas equipes se alternando no ataque, com direito a boas chances, o placar não saiu do zero no primeiro tempo. Sem contar que a Argentina teve mais duas boas oportunidades em faltas cobradas por Passarela.
Segundo termo morno para um jogo que começou quente
Ao contrário do primeiro tempo, a segunda etapa foi aquém das expectativas. Até porque as duas seleções diminuíram a intensidade no ataque e criaram as suas principais oportunidades através de bolas paradas.
Uma delas saiu dos pés do jovem Diego Maradona, que naquela partida estava aquém as expectativas, ainda muito jovem, e pela pressão de jogar uma partida daquele tamanho. Em cobrança de falta próximo à área, o jogador bateu rasteiro para a boa defesa de Pim Doesburg, em seu lance mais perigoso da partida.
Fillol brilha nas penalidades
El mejor portero que ha tenido Argentina, Pato Fillol. pic.twitter.com/CxNGHELhI4
— Jugad Por Abajo (@JugadPorAbajo) August 19, 2020
Por conta do fraco segundo tempo, o placar da partida não saiu do zero, forçando que a decisão fosse para as penalidades. Logo, a estrela do goleiro da Argentina “Pato” Fillol começaria a brilhar. Já na segunda cobrança da Holanda, Fillol fez grande defesa. Quis o destino, que essa cobrança partiria justamente dos pés de René van de Kerkhof, que havia entrado na segunda etapa.
Como se não bastasse, o goleiro argentino voltaria a fazer mais duas defesas, o que lhe tornou o grande herói do jogo. Até porque, a Argentina havia perdido duas cobranças com Jorge Olguín e Osvaldo Ardiles, e mesmo assim saiu vencedora pelo placar de 8 a 7.
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2 Comments
Ótima matéria! Relembrando um dos maiores clássicos do futebol que poucas vezes é contato.
Que bom que gostou, Aline!