Como foi a preparação do Brasil para o Mundial de 1978?
Índice
- 1 Com Rivellino e Zico, seleção tentaria o tetra na Argentina
- 2 Troca no Comando Técnico da seleção
- 3 Futebol Brasileiro: Surgia uma nova geração de craques
- 4 O início da preparação para a Copa de 1978
- 5 Seleção faz históricos amistosos pela Europa
- 6 A lista de convocados e de excedentes
- 7 Últimos testes antes de partir para o Mundial
Com Rivellino e Zico, seleção tentaria o tetra na Argentina
O Brasil já estava classificado para disputar a Copa do Mundo de 1978, que se realizaria na Argentina. Após um Mundial de 1974 sem grande brilho, em que se viu seleções como a da Holanda, com a famosa Laranja Mecânica, e a campeã Alemanha, de Franz Beckenbauer, a sua frente, a seleção brasileira chegava para aquele Mundial cheia de expectativa. O time brasileiro passava por um processo de reformulação e Roberto Rivellino, prestes a ir para o seu 3º mundial, passaria a atuar ao lado de craques como Reinaldo e Zico, dois jovens que começavam a disputar o protagonismo no futebol brasileiro.
Com Cláudio Coutinho no comando técnico, o primeiro semestre daquele ano de 1978 seria utilizado para alguns testes e uma viagem à Europa para grandes clássicos. Tudo em busca de um time ideal. Aqui vamos relembrar daquele primeiro semestre de 1978, quando da preparação e desavenças daqueles que seriam (ou não) convocados!
Troca no Comando Técnico da seleção
Capa da revista Manchete Esportiva falando sobre a preparação do escrete canarinho para o Mundial de 1978. Na foto de capa Claudio Coutinho, técnico da seleção naquela Copa. pic.twitter.com/IWjQ4S5kNO
— Lendas do Futebol (@futebol_lendas) August 20, 2021
Em 1977, na estreia das Eliminatória para a Copa do Mundo, a seleção brasileira, então comandada por Oswaldo Brandão não teve uma apresentação muito convincente, fora de casa, contra a Colômbia. No empate sem gols, Brandão não suportou as fortes críticas da imprensa, onde já havia um desgaste, e optou por deixar a seleção. Para o seu lugar foi “convocado” Claudio Coutinho, de formação militar.
Eram tempos de Ditadura Militar no Brasil – não que isso tivesse sido fundamental para a escolha do novo treinador – mas Coutinho era reconhecido como um disciplinador. Considerado inexperiente para o cargo que ocuparia, ele já havia realizado trabalhos anteriores como preparador físico da própria seleção brasileira e do Olympique de Marseille, da França. Como treinador era totalmente familiarizado com o futebol do Rio de Janeiro, onde já havia comandado o Vasco da Gama, o Botafogo/RJ e também o CR Flamengo. Além de uma breve passagem pela seleção olímpica em 1976.
Pesou a seu favor na escolha do técnico o seu histórico dentro da seleção em diferentes funções, desde auxiliar na preparação física a chefe de delegação. Porém, também vale ressaltar seus conhecimentos sobre futebol moderno, muito inspirado no Carrossel Holandês, que agradavam a alta cúpula da CBD naquele momento.
As ideias de Claudio Coutinho para o Mundial de 1978
Coutinho tinha apenas 38 anos naquele ano de 1977, para se ter uma ideia ele era apenas cinco anos mais velho do que o capita Carlos Alberto Torres, que na primeira partida sob o comando do novo treinador atuou como líbero.
Quando assumiu o comando técnico do Brasil, ainda em fevereiro de 1977, ele buscava fazer uma revolução no futebol brasileiro, principalmente com base em conceitos observados no futebol europeu como: disciplina tática e foco na preparação física. Situações, porém, que já haviam sido destacadas na conquista de 1970 da seleção brasileira. O futebol havia evoluído fisicamente e o Brasil precisava correr atrás.
Entusiasta do futebol praticado pela seleção da Holanda no mundial de 1974, Coutinho pinçou alguns conceitos da Laranja Mecânica de Rinus Michels e Johan Cruyff. Entre eles a pressão na saída de bola adversária e a movimentação constante dos jogadores. Além da ausência de posição fixa, e os atacantes voltando para recompor o meio de campo, entre outros.
No final das contas, porém, após uma excelente Eliminatórias, suas convicções viraram incertezas em meio a preparação e a atuação no Mundial de 1978.
O Brasil nas Eliminatórias de 1977
A participação da seleção brasileira nas Eliminatórias de 1977, tirando o episódio relacionado a saída de Brandão e ainda na primeira rodada, foi de certa forma tranquila para o escrete canarinho. Em uma forma de disputa com três grupos, com três seleções por grupo (a Argentina não participou por já estar classificada devido em ser a sede do Mundial), o Brasil conseguiu se classificar de maneiras invicta.
Na primeira fase, no Grupo A com Paraguai e Colômbia, duas vitórias com dois empates, num total de oito gols marcados e apenas um sofrido. Destaque para a goleada por 6 a 0 sobre a Colômbia. Em uma Estádio do Maracanã tomado por 162.764 torcedores, um show da seleção com gols de Roberto Dinamite (dois), Zico (um), Marinho Chagas (dois) e Roberto Rivelino (um).
Já na Fase Final, em um grupo com Peru e Bolívia, com confrontos diretos, com as três partidas realizadas em Cali, na Colômbia, mais duas vitórias com mais uma goleada, 8 a 0 para cima da Bolívia, e 1 a 0 para cima do Peru. Campeão das Eliminatórias, o Brasil teria um ano para se preparar, agora, para o Mundial da Argentina.
Futebol Brasileiro: Surgia uma nova geração de craques
Cláudio Coutinho tinha como principal meta reformular a seleção, e para isso contava com uma nova geração de talentos que se destacavam no Futebol Brasileiro. De jogadores que estavam no tricampeonato de 1970, restavam apenas dois: Roberto Rivellino, um titular daquele mundial, e o goleiro Emerson Leão que, em 1970, era apenas um jovem de 20 anos. Em 1978 eram titulares incontestáveis.
Entre esses novos jogadores da seleção, e começando pela zaga central estava uma dupla formada na Ponte Preta: Oscar e Polozzi. Além deles, outro homem de confiança de Coutinho era o central Amaral, então no Guarani de Campinas, e que posteriormente seria vendido ao SC Corinthians.
No meio de campo, aos 22 anos, Toninho Cerezo chamava a atenção pelas suas excelentes atuações pelo Atlético/MG, sendo que naquele ano de 1977 ele havia sido eleito o melhor jogador do Campeonato Brasileiro. O Atlético/MG ficou com o vice-campeonato, ao perder para o São Paulo, nos pênaltis, em pleno Estádio do Mineirão.
Ainda no meio de campo, Zico, que completaria 25 anos em março de 1978, já era venerado pela torcida do Flamengo, mas ainda estava em busca de se afirmar na seleção brasileira. Era ainda muito questionado por um pouco do bairrismo que havia, principalmente pela imprensa de São Paulo. Paulo Roberto Falcão, com 24 anos, era outro jovem talento que já era um dos destaques do futebol brasileiro, e que apesar da pouca idade, comandava o meio de campo do SC Internacional, bicampeão brasileiro nos anos de 1975 e 1976.
No ataque, a fortíssima briga por uma vaga no elenco, tínhamos Roberto Dinamite, ídolo do Vasco da Gama, e Nunes, que vivia excelente fase no Santa Cruz/PE – ambos com 24 anos. Ao lado deles, porém e já convivendo com muitas lesões, um fenômeno: o jovem Reinaldo, ídolo do Atlético/MG, e de apenas 21 anos. Era o camisa 9 no momento do futebol brasileiro.
. Reinaldo: Um fora de série pressionado
Pelo Campeonato Brasileiro de 1977, Reinaldo faria história. Em 18 partidas chegaria a incrível marca de 28 gols, superado apenas 20 anos depois por Edmundo, que no Brasileiro de 1997 anotou 29 gols pelo Vasco da Gama. O jovem Rei poderia ter ainda ampliado o seu recorde de gols, caso não tivesse ficado de fora da partida decisiva contra o São Paulo, que rendeu o primeiro título Brasileiro ao Tricolor do Morumbi.
O talento natural somado a um faro de gols fora do comum, fizeram com que o jogador do Atlético Mineiro caísse nas graças da torcida brasileira e do técnico Claudio Coutinho, que bancou sua ida a Copa do Mundo, mesmo envolto a problemas físicos. Naquela altura do campeonato, o jogador já havia operado os seus dois joelhos.
O próprio atacante tinha as suas próprias incertezas e se mostrava inseguro em alguns momentos quanto ao seu próprio desempenho e a sua capacidade física e técnica.
Porém, no final, Reinaldo seria convocado para o Mundial, e seria dele o primeiro gol brasileiro em solo argentino. Na comemoração, como de costume, ergueria o punho cerrado, como forma de protesto contra o racismo e a ditadura militar.
. Nunes, Dinamite e Chulapa na briga
Por outro lado, na concorrência por uma das vagas no ataque da seleção brasileira estava o jovem Nunes, na época jogador do Santa Cruz/PE (ele que, anos mais tarde faria história no Flamengo de Zico, Júnior e cia). O atacante aproveitava bem as chances que lhes eram dadas na seleção, com gols e empenho dentro de campo que fazia a alegria dos torcedores brasileiros.
Pelo Campeonato Brasileiro, Nunes marcou 14 gols em 17 partidas, alcançando o terceiro lugar no topo dos artilheiros.
E n briga com Nunes por uma das vagas para o Mundial de 1978 estavam ninguém menos do que dois gênios na arte de anotar gols: Roberto Dinamite e Serginho Chulapa.
Chulapa vivia o seu melhor momento pelo São Paulo e era quase nome certo para a Copa do Mundo. Porém, havia levado uma suspensão pesada, devido a uma agressão a um bandeirinha em um jogo contra o Botafogo de Ribeirão Preto, o que lhe tirou da final do Brasileiro contra o Atlético/MG, além de sua participação na Copa do Mundo.
Já Dinamite era a referência do Vasco da Gama, em um confronto direto contra Zico e o Flamengo.
O início da preparação para a Copa de 1978
Com a classificação para a Copa do Mundo da Argentina já garantida, a seleção brasileira faria uma série de amistosos e testes para se preparar e chegar na ponta dos cascos para o mundial. Em sua primeira convocação do ano de 1978, Cláudio Coutinho chamou 21 jogadores para uma rotina de treinos em Teresópolis, além da disputa de uma série de amistosos de menor relevância. Mas o que se mostraria é que a base já estava montada, tanto é que, desta lista, apenas quatro jogadores não embarcariam para a Argentina.
Os convocados por Coutinho para os amistosos:
. Goleiros: Emerson Leão e Carlos
. Laterais: Toninho, Zé Maria, Amaral
. Zagueiros: Polozzi, Oscar, Abel Braga, Edinho e Rodrigues Neto
. Meio campistas: Romeu, Toninho Cerezo, Batista, Rivellino, Dirceu, Jorge Mendonça e Zico
. Atacantes: Reinaldo, Gil, Tarciso e Nunes.
Nestes amistosos, a maioria contra seleções estaduais ou combinados regionais, destaque para os cinco gols do Galinho Zico contra a seleção do interior do Rio de Janeiro. Também – pelo lado negativo – as fortes vaias que Reinaldo recebeu no amistoso contra a seleção do Paraná. Estes amistosos foram usados para testar o entrosamento entre Reinaldo e Zico, sendo que Claudio Coutinho, inclusive, chegou a adotar um esquema de trabalho específico para que a dupla se entendesse melhor dentro e fora de campo.
E foi nos amistosos realizados em março que Dirceu, jogador do Vasco da Gama começaria a garantir o seu espaço no time. O jogador, que costumava atuar como ponta, tinha como características retornar defensivamente para ajudar a fechar espaços. Era o tipo de jogador polivalente que Coutinho tanto buscava para um futebol mais moderno. O famoso carregador de piano que se doava em campo, para que os craques como Rivellino, Zico e Reinaldo pudessem brilhar.
Seleção faz históricos amistosos pela Europa
Já no mês de abril de 1978, a seleção brasileira partiu para a Europa onde faria uma série de amistosos, contra adversários com um nível técnico mais elevado. Em uma partida equilibrada, o Brasil acabou derrotada pela seleção da França, por 1 a 0, com um gol de um jovem que ainda se destacaria ao longo dos anos, se tornando um dos principais de sua geração: Michel Platini. Na época, aos 22 anos, Platini já era destaque, mas atuando pelo Nancy/FRA. Uma curiosidade é que, além de Platini, a partida contou com mais dois gênios do futebol, Rivellino e Zico.
Na partida seguinte, em Hamburgo, na Alemanha, o time da casa não foi páreo para o Brasil. Cláudio Coutinho fez algumas mudanças, entre elas colocando Zé Maria no lugar de Toninho, na lateral direita. Neste confronto, o time canarinho saiu com a vitória, com um gol de Nunes, em jogada que contou com a participação do Super Zé.
Em outro confronto de campeões do mundo, agora a seleção brasileira iria para a Inglaterra enfrentar os ingleses no mítico estádio de Wembley. A seleção da Inglaterra não havia conseguido uma das vagas para o mundial, ainda que no período contava com Kevin Keegan, um dos grandes atacantes ingleses na história do futebol. Em empate por 1 a 1, Keegan marcou para os ingleses e Gil, do Botafogo/RJ, fez o gol do Brasil.
Nestes amistosos o zagueiro Edinho, do Fluminense, foi testado como lateral-esquerdo. Marinho Chagas e Júnior Capacete, dois laterais esquerdos de destaque do futebol brasileiro ficaram de fora da lista. Marinho, aliás, era o titular da lateral-esquerda do Fluminense, companheiro de clube de Edinho.
A seleção brasileira ainda enfrentaria e venceria nesse período de amistosos preparatórios a Internazionale de Milão/ITA, o Atlético de Madrid/ESP e o Al-Ahly Jeddah, time da Arábia Saudita.
A lista de convocados e de excedentes
Durante a turnê de amistosos pela Europa, com parada na Arábia Saudita, Cláudio Coutinho divulgou uma lista de excedentes com 19 jogadores. Ou seja, jogadores que poderiam ser convocados caso jogadores se contundissem. A lista era extensa e de muita qualidade. Nela, nomes como Serginho Chulapa, Wladimir, Adílio, Nelinho, Joãozinho, Luís Pereira e Falcão faziam parte, para muita discussão e debate sobre acerto ou não em não levarem estes jogadores.
Com o corte de Zé Maria e Nunes, às vésperas do Mundial, Nelinho foi convocado de última hora
A lista final com os 22 escolhidos de Coutinho foi a seguinte:
. Goleiros: Emerson Leão (SE Palmeiras), Carlos (Ponte Preta), Waldir Peres (São Paulo)
. Defensores: Toninho (CR Flamengo), Oscar (Ponte Preta), Amaral (Corinthians), Edinho (Fluminense), Nelinho (Cruzeiro EC), Abel Braga (Vasco da Gama), Polozzi (Ponte Preta), Rodrigues Neto (Botafogo)
. Meios-campistas: Chicão (São Paulo FC), Toninho Cerezo (Atlético Mineiro), Zico (Flamengo), Rivelino (Fluminense), Dirceu (Vasco da Gama), Batista (SC Internacional), Jorge Mendonça (Palmeiras)
. Atacantes: Zé Sérgio (São Paulo), Roberto Dinamite (Vasco da Gama), Reinaldo (Atlético Mineiro), Gil (Botafogo)
Paulo Roberto Falcão de fora!
Com tanto talento em solo brasileiro, era natural que alguns jogadores ficassem de fora na lista final da convocação para o Mundial de 1978. Mas, sem sombra de dúvidas, nenhuma ausência foi mais sentida do que a de Paulo Roberto Falcão, que vivia grande fase na carreira e terminaria o ano de 1978 como melhor jogador do campeonato brasileiro.
Falcão chegou a jogar as Eliminatórias para o mundial, mas não seria mais chamado desde a partida contra o Paraguai, ainda no ano de 1977. Ele inclusive participou do último amistoso de preparação da seleção, mas defendendo a seleção gaúcha.
Sua presença naquele mundial seria sentida, mas Falcão teria a oportunidade de dar a volta por cima quatro anos depois, quando seria um dos pilares da histórica seleção brasileira de 1982.
Últimos testes antes de partir para o Mundial
Nos dois amistosos oficiais pré-Copa do Mundo da Argentina, os adversários foram as seleções do Peru e da Tchecoslováquia. Zico e Reinaldo brilharam, mostrando que eram sim uma dupla que poderia dar certo na Copa do Mundo, sendo os responsáveis pelos gols nas vitórias por 3 a 0 e 2 a 0, respectivamente.
Entre o jogo contra o Peru e contra a Tchecoslováquia, houve um amistoso contra a seleção de Pernambuco, que terminaria em 0 a 0. Depois, um último teste antes do embarque para a Argentina, o amistoso seria o já citado contra a seleção do Rio Grande do Sul, que tinha a presença de Falcão.
A seleção gaúcha que contava também com Tarciso, não tratou o jogo como um simples amistoso e endureceu a partida. A torcida Gaúcha foi ao delírio quando Lúcio e Éder Aleixo anotaram os gols da seleção gaúcha, em jogo que terminou empatado por 2 a 2.
A delegação brasileira desembarcou em Mar del Plata no dia 26 de maio, mas voltaria da Argentina sem a cobiçada quarta estrela.
1 Comment
Excelente matéria.