Zizinho, craque que inspirou o Rei Pelé
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Antes do Brasil conquistar a sua primeira estrela, e até mesmo antes do Mundo conhecer o Rei Pelé, Zizinho era o cara que encantava os gramados do Brasil afora. Meia habilidoso, além de excelente driblador, o “Mestre Ziza” foi o principal jogador brasileiro entre o período em que sucedeu a Leônidas da Silva e antecedeu o início da trajetória de Pelé. Considerado por muitos como o maior ídolo do CR Flamengo até a chegada do Galinho Zico.
Figura presente na primeira Copa do Mundo realizada no Brasil, em 1950, Zizinho esteve em campo no fatídico 16 de julho, que acabou por traumatizar milhões de brasileiros. O famoso episódio do Maracanazo causou dor e mágoa a muitos jogadores ali presentes, e o craque brasileiro teve poucas oportunidades na seleção brasileira desde então.
O início da carreira de Zizinho
O centenário de Zizinho: o maior gênio da história rubro-negra antes de Zico – Flamengo_Alternativo https://t.co/8pNpPrUhKd
— Marquinhos Assunçãoᶜʳᶠ 🚩🏴 (@MarquinhosAssu2) September 14, 2021
Zizinho nasceu em 14 de setembro de 1921, na cidade de São Gonçalo/RJ. Iniciou sua carreira nas categorias de base do Byron, de Niterói/RJ, e acabou por se tornar profissional pelo CR Flamengo, após ser recusado em um teste pelo América/RJ – seu time de infância.
Sob os olhos de Flávio da Costa, o jogador teve as suas primeiras oportunidades ainda jovem, em 1939, aos 18 anos, com a missão de substituir justamente Leônidas da Silva, o maior ídolo rubro-negro naquela época. Em seu ano de estreia, Zizinho faturou o campeonato estadual do Rio de Janeiro.
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Pelo rubro-negro, o meia também conquistou o tricampeonato carioca (1942, 43 e 44), o primeiro na história do clube, onde se tornou ídolo incontestável. Ali o craque construía uma nova era no Flamengo, subindo o patamar do clube para um nível jamais imaginado. Tudo isso construído durante os onze anos que o “Mestre Ziza” defendeu o Flamengo, em meio a 318 partidas e 146 gols anotados.
Mas, quis o destino, que Zizinho deixasse a equipe de uma maneira indesejável. Reza a lenda que, em 1950, o jogador acabou vendido ao Bangu por meio de uma aposta feito entre os mandatários de Flamengo e Bangu. Na ocasião, o presidente rubro-negro duvidara que o presidente do time alvirubro tivesse dinheiro para contratar o jogador e fez a famigerada aposta. Esse episódio irritou ‘Mestre Ziza”, que ainda foi taxado de mercenário pela torcida flamenguista.
Trajetória na seleção brasileira
As suas atuações destacadas pelo Flamengo levaram a sua primeira convocação para a seleção brasileira em 1942. Naquele mesmo ano, Zizinho disputou o Campeonato Sul-Americano (atual Copa América), competição que voltaria a disputar em 1945. Pouco depois, viria a sua primeira conquista com a seleção, a Copa Rocca de 1945, contra a arqui rival Argentina.
Porém, a sua conquista mais importante com a camisa do Brasil aconteceu em 1949, com o Campeonato Sul-Americano. Um verdadeiro show de atuações do “Mestre Ziza” durante a campanha, que na época era disputada em pontos corridos. Com um jogo extra de desempate, contra o Paraguai, o Brasil massacrou o rival por 7 a 0. Nessa partida Zizinho não deixou o seu, mas ele estava em ótimas companhias, destaque para Jair da Rosa Pinto e Ademir de Menezes. A vitória encerrou um jejum de 27 anos do escrete canarinho.
Zizinho também participou de outras conquistas com a seleção brasileira, como:
- Copa Rio Branco em 1950
- Campeonato Pan-Americano de 1952
- Taça Bernardo O´Higgins em 1955
- Taça Oswaldo Cruz de 1955 e 56
- Taça do Atlântico de 1956.
Porém, nenhuma dessas conquistas tiraram o sabor amargo da derrota na Copa do Mundo de 1950, disputada no Brasil. Derrota essa que veio justamente no mesmo ano que o jogador encarou a sua fatídica saída do Flamengo.
A Copa do Mundo de 1950
Zizinho era um dos principais jogadores daquela seleção brasileira, ao lado dos já citados Ademir de Menezes, craque do Vasco da Gama, e do habilidoso atacante Jair da Rosa Pinto, que no período atuava pela SE Palmeiras. Dono da camisa 8, o meia era o grande condutor das jogadas de ataque da seleção. Era considerado um maestro, tanto que sua alma era a de um verdadeiro camisa 10.
Se recuperando de uma lesão, Zizinho teve que ficar de fora das duas primeiras partidas daquele mundial – contra México e contra a Suíça. Sua estreia naquele Mundial aconteceu diante da antiga Iugoslávia, no estádio do Maracanã. Sua participação neste jogo foi fundamental para a classificação da seleção brasileira. Foi dele o passe para o gol de Ademir de Menezes, que inaugurou o placar, e coube a ele também marcar o gol que fechou a vitória em um potente chute sem chances para o goleiro Brkucic.
Zizinho é o melhor contra a Suécia
No primeiro jogo da fase final contra a seleção da Suécia, o Brasil não tomou conhecimento e massacrou pelo placar de 7 a 1. Ademir chamou a atenção ao anotar quatro tentos, mas foi Zizinho a grande atração do confronto. Embora não tenha marcado gols nesta partida, o meia-direita teve uma atuação de gala. Foi o maestro do time, além de chamar a atenção pelo excelente domínio de bola.
Cada vez que dominava a pelota, uma jogada deslumbrante se desenhava. “Mestre Ziza” participou da jogada do segundo gol, e deu a assistência para o quarto gol do Brasil.
Contra a Espanha, mais uma atuação destacada
No jogo contra a seleção espanhola, mais uma vez disputado no estádio do Maracanã, a seleção brasileira – como um todo – teve uma atuação impecável. A imprensa esportiva ao redor do mundo ficaram boquiabertos depois de tamanha demonstração de superioridade técnica diante de um rival de nível elevado. Classificaram o escrete brasileiro como praticamente imbatível, após a goleada por 6 a 1.
Tratado como gênio e o principal destaque da Copa do Mundo até então, Zizinho mais uma vez foi brilhante. Foi novamente o maestro do jogo e sua atuação rendeu elogios inclusive, do ex-técnico Vittorio Pozzo, bicampeão mundial no comando da Squadra Azurra. Também por um jornalista italiano do jornal Gazzetta dello Sport foi descrito como “Da Vinci pintando uma obra rara”.
Zizinho iniciou a jogada do segundo gol e também contribuiu no lance do quarto gol brasileiro. No quinto gol conduziu a bola até a linha de fundo para driblar dois defensores espanhóis antes de levantar a bola para Ademir de Menezes converter mais um gol. Porém, a partida não poderia terminar sem um gol do Mestre. Chico foi a linha de fundo e tocou para trás, foi então que o camisa 8 dominou enganando a marcação e completou para o fundo do gol!
A tragédia do Maracanazo
70 anos do Maracanazzo. Tempo suficiente para entendermos que a Copa do Mundo de 1950 foi decidida num QUADRANGULAR. Brasil x Uruguai foi uma partida da última rodada. Contamos mais no fio abaixo 🔽 pic.twitter.com/eeHQ0aLAaH
— Sem Firulas (@sem_firulas) July 16, 2020
A seleção brasileira chegava como ampla favorita para a disputa daquele jogo contra a seleção uruguaia. Bastava o empate para que o Brasil conquistasse o seu primeiro título Mundial, e ainda em sua casa. Seria inesquecível!
O escrete canarinho havia vencido os dois primeiros jogos do quadrangular final com tamanha facilidade. Já o Uruguai havia empatado contra a Espanha (2 a 2), e vencido a Suécia (3 a 2), isso após estar duas vezes atrás do placar contra os suecos.
O clima de favoritismo estava presente no ar, inclusive com a mídia local já dando como certa a comemoração do primeiro título mundial. Situação utilizada como combustível para o Uruguai motivar seus atletas para a “grande finalíssima”.
E o Brasil iniciou bem, com Friaça abrindo o placar após jogada de Zizinho para Ademir, que deu uma assistência para o atacante do São Paulo FC no começo do segundo tempo. Porém, não demorou para Schiaffino empatar para a Celeste. Mas o resultado de empate ainda favorecia ao Brasil.
Porém, o destino não foi legal com o Brasil em um dos lances mais famosos da história do futebol – isso numa época que as imagens de TV eram precárias. O atacante Ghiggia recebeu em velocidade pela direita e, quase sem ângulo, fulminou o goleiro Barbosa, para deixar 200 mil pessoas no estádio do Maracanã incrédulos. Para sempre lembrada como Maracanazo.
Mais do que isso, colocou para sempre uma culpa em cima do goleiro Barbosa, que pagou e foi lembrado até o final da sua vida pelo fatídico lance do segundo gol.
Zizinho foi um dos poucos poupados pela crítica, junto de Ademir de Menezes, artilheiro do mundial com oito gols. Além disso, o camisa 8 ainda foi eleito o melhor jogador da competição apesar da derrota no jogo final.
A sequência de Zizinho na seleção brasileira
🇧🇷 Tomás Soares da Silva, o Zizinho.
Maior jogador brasileiro até o surgimento de Pelé, Mestre Ziza atuou na Seleção Brasileira entre 1942 e 1957. Um total de 54 jogos, com 30 gols marcados.
Ídolo do Flamengo, só é superado por Zico, como maior jogador da história rubro-negra. pic.twitter.com/qGvFdEUD9o— Mengão Retrô (@MengaoRetro) June 17, 2018
No campeonato Sul-Americano de 1953, Zizinho foi excluído do torneio nas vésperas do jogo de desempate contra o Paraguai. Embora alegasse problemas físicos, e de fato havia sido substituído no jogo anterior, muitos atribuíram sua saída a desentendimentos com José Lins do Rego, chefe da delegação brasileira, por questões relacionadas a premiação dos jogadores na competição. O Brasil acabou perdendo a decisão para os paraguaios por 3 a 2 e Zizinho só voltaria a ser chamado depois da Copa do Mundo de 1954.
No mundial da Suíça, mesmo sendo considerado o nome mais conhecido no futebol brasileiro, e certamente um dos titulares, acabou não sendo convocado em virtude de seu afastamento na seleção. Em seguida o jogador foi poucas vezes convocado, até que em 1957 aconteceu a sua despedida da seleção, após o Campeonato Sul-Americano de 1957, no qual marcou dois gols.
No total, Zizinho defendeu a seleção brasileira em 54 jogos, tendo marcado 30 gols. É até hoje o maior artilheiro da Copa América com 17 gols, em seis participações.
“Mestre Ziza” tem brilhante trajetória no Bangu
Zizinho era ídolo no CR Flamengo e não tinha ambições de sair da Gávea. Porém, devido a sua saída conturbada da equipe, ele saiu mordido do clube que tanto amou. Tanto é que, no reencontro com o antigo clube, foi um jogo para ficar na história. O placar de 6 a 0 a favor do Bangu fez jus a atuação de Zizinho, coroada com um belo gol de falta.
Pelo alvirubro, o “Mestre Ziza” teve muito destaque, chegando a marca de 122 gols pelo time de Moça Bonita, fato que o coloca no posto de 5º maior artilheiro do clube, e também um dos maiores ídolos de sua história. Em meio a esses gols, quatro foram anotados em uma só partida, na goleada por 6 a 2 diante do Canto do Rio/RJ, pelo Campeonato Carioca de 1952, no qual também foi artilheiro com 19 gols.
Além disso, o meia foi vice-campeão do Campeonato Carioca de 1951, em final perdida (jogos desempates) para o Fluminense FC, no mesmo Maracanã, palco da tragédia de 1950. Irritado com a perda, o jogador disse aos jornais da época:
“Este Maracanã foi feito para me tirar campeonatos”.
Em 1957, após 283 partidas disputadas, deixou o Bangu para defender as cores do São Paulo. Se tratando de conquistas, ele faturou apenas o Torneio Início em 1950 e em 1955, e o Torneio Início do Rio-São Paulo de 1951. Todas competições de pré-temporada, além do vice-campeonato carioca de 1951.
Zizinho tem passagem vitoriosa pelo São Paulo FC
Zizinho, 100 anos: Família relembra presente do São Paulo #SPFC https://t.co/vJGWnbZrAk
— SPFC.net (@spfc_net) September 13, 2021
Quando foi contratado pelo São Paulo FC, em 1957, a sua chegada era vista com certa desconfiança. Afinal, o que um jogador veterano, já com 35 anos, poderia oferecer ao clube? Porém, todos estavam enganados. O “Mestre Ziza” conquistou em 1957 o Campeonato Paulista, sendo inclusive eleito o melhor jogador do campeonato. Tanto é que, a partir de sua chegada, o Tricolor Paulista teve uma arrancada histórica na competição, durante a fase de pontos corridos.
Pelo time paulista, Zizinho marcou no total 27 gols em 66 partidas. O camisa 8 permaneceu no São Paulo de 1957 a 1959, sua última grande passagem em clubes na carreira. Antes de pendurar as chuteiras, ele ainda iria atuar por clubes de menor expressão como Uberaba/MG e Audax Italiano/CHI.
Zizinho ainda trabalhou como técnico durante os anos 1970, chegando a dirigir a seleção brasileira de base por um curto período, no pan-americano de 1975. Dali em diante, ele se afastou do futebol, até o seu falecimento em 2 de fevereiro de 2002, aos 80 anos, após sofrer infarto.
Zizinho era ídolo de um jovem Pelé
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Tido como a maior referência no futebol para Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, por coincidência, Zizinho quase atuou junto do Rei do Futebol. Na ocasião, o “Mestre Ziza” faria a sua última participação pela seleção brasileira no dia 3 de abril de 1957, enquanto o jovem Pelé estrearia pelo selecionado nacional meses depois, em julho de 1957.
Entretanto os dois se enfrentaram quando Zizinho atuou pelo São Paulo, e um ainda jovem Pelé estava em início de carreira pelo Santos. O velho mestre levou a melhor sobre o futuro maior jogador de todos os tempos, e ainda deixou o seu na goleada por 6 a 2, em pleno estádio da Vila Belmiro. A partida foi válida pelo Campeonato Paulista de 1957.
Além disso, o “Mestre Ziza” inspirou ainda o jovem craque no modo de cobrar pênalti com paradinha. Esse foi apenas um detalhe, em meio a tantas inspirações que Pelé adquiriu do veterano jogador, no qual o Rei sempre considerou como um jogador completo e inspiração.
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