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Após longa passagem pelo Sport Club Corinthians e com apenas a conquista de um Rio-São Paulo, Roberto Rivellino saiu escorraçado do clube onde havia atuado durante toda a carreira. E foi em um sábado de carnaval, do ano 1975, que o tricampeão do mundo em 1970 com a seleção brasileira, estreava em sua nova casa: o Fluminense Football Club. Mais do que isso, Rivellino faria sua estreia em um amistoso justamente contra o ex-clube.
Durante toda a sua carreira, já pós-jogador de futebol, como comentarista, Rivellino nunca escondeu a mágoa por ter que deixar o Corinthians e da forma que aconteceu. Time onde surgiu e onde atuou praticamente toda a sua carreira, sentiu que foi usado de bode expiatório pelos anos sem conquistas do clube alvinegro.
A derrota para o arquirrival Sociedade Esportiva Palmeiras, na final do Campeonato Paulista de 1974, colocou fim a sua vida de jogador no Timão.
Francisco Horta foi eleito presidente do Fluminense em 1975 com um projeto ambicioso de montar um supertime nas Laranjeiras. Sua intenção era sacudir não só o futebol do Tricolor Carioca como também o do Rio de Janeiro. E a contratação de Roberto Rivelino seria o início de uma nova era para o Flu, a era da Máquina Tricolor.
Segundo Horta, a época:
“Eu li que o Rivellino, na véspera, não tinha sido feliz em um jogo contra o Palmeiras. Palmeiras ganhou de 1 a 0. Na saída do Morumbi, a torcida do Corinthians destrói um posto de gasolina chamado Rivellino. Li isso, e embarquei para São Paulo, pra ir a casa de Rivellino”.
Rivellino chegou para vestir a Camisa 10 do Fluminense entre os anos de 1975 e 1978, em um período que ainda era um dos principais jogadores do país. Tanto é que, na Copa do Mundo de 1978, era o grande nome da seleção canarinho.
E para marcar a estreia do craque nas Laranjeiras foi marcado um jogo amistoso contra seu antigo clube, o Corinthians, em um Maracanã tomado com 40 mil torcedores. Técnico do tricolor na época, Paulo Emílio Frossard relembra:
“Chegou no Rio e, logo de saída, fez três gols contra o Corinthians. Foi num sábado de carnaval a estreia dele. Foi 4 a 1 para o Fluminense e ele fez três gols. Depois fomos campeões da Taça Guanabara em 75”.
Na primeira etapa da partida, Roberto Rivellino logo colocou o Fluminense à frente do Timão, com dois gols do meia. O time paulista diminuiu. E, no segundo tempo o craque continuou com sua estreia de gala. No 3 a 1 fez uma pintura de muita técnica, por cobertura. “Todos os três gols eu vibrei, da mesma maneira que vibrei no Corinthians, no Fluminense”, diria Riva sobre a sua estreia.
Gil ainda fechou o placar de 4 a 1, na primeira grande atuação do time que seria bicampeão carioca nos anos de 1975 e 1976. Era o presságio de um grande momento na história do futebol brasileiro.
Rivelino. Campeonato Carioca de 1976. #FluMemória pic.twitter.com/jxdtfjOsW4
— Fluminense F.C. (@FluminenseFC) December 7, 2017
A chegada de Roberto Rivellino ao clube das Laranjeiras deu início à um período mágico no Fluminense. Conhecido como “Máquina Tricolor”, foi formada uma verdadeira seleção com jogadores como Félix, Carlos Alberto Torres, Edinho, Dorval, Paulo César Caju, entre outros.
E enquanto a Máquina Tricolor esteve em atividade, 16 jogadores do Fluminense foram convocados para a Seleção Brasileira naquele período. O time atraia verdadeiras multidões as suas partidas, seja no Maracanã, na cidade do Rio de Janeiro, como em outros estados. Afinal, era praticamente uma seleção em campo. O espetáculo era garantido.
Em 159 partidas, o meia, que atuou mais avançado no clube das Laranjeiras, quase como um atacante, anotou 57 gols durante toda a sua passagem. Além do Campeonato Carioca de 1975 e 1976, também recebeu, entre outros prêmios individuais, o de 2º Melhor Jogador Sulamericano do Ano de 1977.
No entanto, nem tudo foram flores em sua passagem pelo Fluminense. Na busca pelo Campeonato Brasileiro de 1976, que seria o primeiro do clube no novo formato (que iniciou em 1971) ficou no quase. E uma partida ficou marcada neste período que seria, podemos dizer assim, a verdadeira revanche de Rivellino contra o ex-clube, SC Corinthians.
Um dos mais marcantes eventos do Campeonato Brasileiro, no dia 5 de dezembro de 1976 a torcida paulista invadiu o Rio de Janeiro para acompanhar a semifinal entre Fluminense e Corinthians. O episódio ficou conhecido como “A Invasão Corintiana”.
Com mais de 140 mil torcedores no Maracanã, cerca de 80 mil corintianos se fizeram presentes. Ex-craque do Corinthians, Rivellino era o grande personagem da partida.
A partida terminaria empatada em 1 a 1, com o Corinthians vencendo nas penalidades. Na final, porém, o Timão acabou derrotado na final, pelo Internacional de Paulo Roberto Falcão.
A Máquina Tricolor também teve a oportunidade de fazer diversas partidas amistosas contra times europeus naquele período.
Em 1975, e num dos amistosos mais lembrados, o clube enfrentou o poderoso Bayern de Munique, atual bicampeão europeu e base da seleção alemã campeã do mundo um ano antes. Contra Sepp Mayer, Breitner, Gerd Muller e o “Kaiser” Franz Beckenbauer, entre outros, a equipe liderada por Roberto Rivellino venceu por 1 a 0, no Maracanã.
Neste mesmo ano, o Tricolor das Laranjeiras realizou diversos jogos em território europeu. Chegou a vencer o Torneio de Paris, que celebrava os 50 anos de Santos Dumont sobre a capital francesa. Competição essa que acontecia anualmente E desde o ano de 1957.
No mesmo ano, o Fluminense disputou a Copa Viña del Mar, um torneio de amistosos criado pelo Everton/ING. Disputado em 1976 na cidade chilena de Viña del Mar, ainda houve mais algumas edições anos depois. E ter o Fluminense nestes torneios, durante aqueles anos, era um grande privilégio, ainda mais com a presença de Rivellino, um dos maiores gênios do futebol na época.
De todas as edições, apenas Fluminense e Sport Club Internacional foram os clubes brasileiros que conseguiram vencer este torneio.
Com o passar do tempo, a “Máquina Tricolor” foi perdendo sua força com a saída dos principais jogadores. Além disso, sem conquistar títulos nos anos de 1977 e 1978, e sem fazer grandes campanhas nas principais competições, o Al Hilal, da Arábia Saudita, foi atrás de Rivellino. Ao aceitar a proposta do mundo árabe, o craque dava por encerrada sua passagem no tricolor carioca.
No clube árabe, o Patada Atômica chegou a ser campeão da Copa do Rei e Campeão Saudita em 1979, 1980 e 1981. E após desavenças com o príncipe Kaled, dono do Al Hilal, Rivellino optou por encerrar sua carreira aos 35 anos, mais cedo do que desejava.