Por que Reinaldo não jogou a final do Brasileirão de 1977?
Índice
- 1 Atacante atleticano sofreu retaliações vindo “de cima”
- 2 O Rei era um “Pequeno Príncipe”
- 3 Os títulos de Reinaldo pelo Atlético Mineiro
- 4 Reinaldo faz campanha incrível no Brasileirão de 1977
- 5 Punhos que bateram na Ditadura Militar
- 6 A frustração de Reinaldo
- 7 Título de 2021 do Atlético/MG lavou a alma do Rei-Reinaldo
Atacante atleticano sofreu retaliações vindo “de cima”
Uma imagem marcou esse o Campeonato Brasileiro de 2021. Um dos maiores – senão o maior – jogador na história do Clube Atlético Mineiro, Reinaldo, chorou copiosamente com a conquista do Galo, após 50 anos do primeiro e único título nacional do clube.
Antes deste bicampeonato, o clube teria ainda mais três chances para conquistar novamente o principal campeonato do Brasil – 1977, 1980 e 1999. Ali seria derrotado por São Paulo, Flamengo e SC Corinthians, respectivamente. Reinaldo esteve em duas destas ocasiões (1977 e 1980) quando era a principal estrela do time e também um dos destaques do futebol brasileiro. Em 1977, Reinaldo e o Galo fizeram uma campanha irretocável até a grande decisão, quando acabaram derrotados nos pênaltis pelo Tricolor Paulista.
Maior artilheiro do Brasil naquele ano, Reinaldo foi praticamente impedido de atuar na decisão por interferências externas e “de cima”. E aqui vamos contar um pouco dessa história e do ano de 1977 para o grande Rei do Mineirão!
O Rei era um “Pequeno Príncipe”
Reinaldo surgiu para o futebol ainda jovem e quase como um prodígio. Com apenas 14 anos de idade ele disputou um jogo treino entre os titulares e reservas do Atlético Mineiro no ano de 1971, quando o Galo se tornaria campeão brasileiro. Após essa partida, ele passou a integrar a base do clube, onde já se destacava por ter uma faro diferente na hora de balançar as redes. Tanto é que faria 54 gols em 44 partidas, faturando os títulos da base do Campeonato Mineiro de 1971 e 1972.
Reinaldo com apenas 14 anos no juvenil do Atlético. 1971. pic.twitter.com/Pt7Ki8MKpr
— Procópio Cardozo (@procopiocardozo) May 12, 2021
Assim, não iria demorar para ser integrado ao time profissional do Galo, onde estrearia oficialmente em janeiro de 1973, aos 16 anos. Seu jogo de estreia foi contra o Valério, modesto time de Itabira, em Minas Gerais, na derrota por 2 a 1.
Pouco tempo depois, Reinaldo passaria a ser um titular inquestionável com a 9 do clube, período em que também começaria a conviver com as constantes lesões que atrapalharam – e muito – a sua carreira. Em 1974, aconteceu a primeira contusão mais grave, uma torção no joelho depois de pisar num buraco em uma partida contra Ceará. Na mesma época, o jogador ainda teve que extrair os meniscos do joelho, após entrada do zagueiro de sua própria equipe durante os treinamentos.
Lesões à parte, em seu início, o jovem atleta logo também começaria a anotar muitos gols e a levantar os primeiros títulos pelo gigante clube mineiro.
Os títulos de Reinaldo pelo Atlético Mineiro
O primeiro título oficial de Reinaldo com a camisa do Atlético Mineiro seria o Campeonato Mineiro de 1976. Após ver o rival Cruzeiro ficar com o título estadual em 1977, a partir de 1978 iniciaria um sequência fantástica, que culminaria com o Haxecampeonato Mineiro até o ano de 1983, para consagrar uma fantástica geração e na qual Reinaldo participaria ativamente.
Além do Hexa Mineiro, o – agora – Rei, ainda levaria o clube a uma série de títulos menores pelo Galo, como a Taça de Minas Gerais (1975, 1976 e 1977), além da Copa dos Campeões do Brasil em 1978. Além de títulos nas excursões internacionais que o time realizou e muito comum naqueles período entre os principais clubes brasileiros. Porém, uma conquista iria faltar na carreira do jogador e, por duas vezes ele chegaria muito próximo: o Campeonato Brasileiro.
E o Rei do Mineirão teria duas oportunidades, contra São Paulo FC e CR Flamengo, nos anos de 1977 e 1980, respectivamente. Mas seria o ano de 1977 que ficaria para sempre marcado na carreira do atacante, então melhor jogador do Brasil, que viu sua presença na final ser impedida por questões que vão além das quatro linhas.
Reinaldo faz campanha incrível no Brasileirão de 1977
Um dos melhores períodos de sua carreira, a temporada de 1977 também marcaria o Campeonato Brasileiro. Naquele ano, Reinaldo se tornaria artilheiro da competição com incríveis 28 gols, com marca que seria batida apenas 20 anos depois, por Edmundo no Vasco da Gama, no Brasileiro de 1997. Porém, o eterno 9 do Galo teria uma média muito melhor e, até hoje, inalcançável por qualquer outro artilheiro do Campeonato Brasileiro. Ele anotaria os seus 28 gols em apenas 18 partidas, média de 1,55 gols por jogo.
E sua média poderia ter sido bem maior já que sua última partida naquele campeonato seria a primeira partida da semifinal contra o Londrina, quando anotou três gols na vitória por 4 a 2. Um dia antes da partida de volta, que aconteceria no Paraná, Reinaldo foi julgado por uma suposta agressão contra um jogador na partida contra o Fast Club.
Na partida em destaque, ele recebeu o cartão vermelho e teve que cumprir suspensão automática para a partida contra o Botafogo/RJ. Antes da partida de volta contra o Londrina, o atacante acabou julgado pelo Tribunal Desportivo e ficando de fora da final contra o Tricolor Paulista.
Punhos que bateram na Ditadura Militar
O maior jogador da história do @Atletico
O atleticano Reinaldo enfrentou a Ditadura militar brasileira com sua comemoração de punho cerrado fazendo alusão aos Panteras Negras. O atacante foi monitorado, boicotado e ameaçado de morte pela Operação Condor. pic.twitter.com/3h8qoPFbKM— 🇾🇪ˢᵒᵘ ᴮᵘᵈᵉ́ 🇾🇪 (@Budetricolor) April 6, 2021
Ao anotar cada um de seus gols Reinaldo tinha como hábito cerrar os punhos e erguer o braço direito. E esse era mais do que um gesto. Era um protesto a favor do movimento negro e também contra a Ditadura Militar que vigorava no Brasil naquele período. A prática de levantar o braço com o punho cerrado era característico do movimento Panteras Negras, com início em 1966 nos Estados Unidos e que lutava a favor dos direitos civis dos negros na terra do Tio Sam.
Os punhos cerrados de Reinaldo – que o acompanharam durante toda a carreira – lhe custaram caro por diversas vezes. Seja atuando em solo brasileiro ou quando convocado para vestir a amarelinha da seleção brasileira. Ser intimado pelas forças obscuras que dominavam o país naquele período era uma constância para Rei. Mas a suspensão para a final do Campeonato Brasileiro de 1977 é um dos fatos mais marcantes e obscuros de sua vitoriosa carreira.
E este movimento foi repetida diversas vezes durante o Brasileirão de 1977, ainda mais com o atacante anotando um gol atrás do outro. O próprio jogador já afirmou por diversas vezes ter ficado de fora da final, que aconteceria em pleno Estádio do Mineirão, por decisão e pressão dos militares.
“A maior frustração da minha carreira foi a final de 1977, que não me deixaram jogar, contra o São Paulo. Os militares me impediram”, disse Reinaldo em entrevista ao blog de Breiller Pires.
Sem seu Rei, Atlético/MG amarga único jogo sem gols e perda de título
Sem presença de Reinaldo na final, o Atlético Mineiro amargaria assim o seu único jogo no Campeonato Brasileiro sem gols. Com a melhor campanha disparada em toda a competição, o Galo acabaria perdendo o título para o São Paulo FC nas penalidades máximas, após empate por 0 a 0 no tempo regulamentar. Dessa forma, o time perderia o bi Brasileiro de forma invicta.
Toninho Cerezo, Joãozinho Paulista e Márcio perderam suas respectivas cobranças e os tricolores venceram por 3 a 2 com um show de malandragem do goleiro são paulino, Waldir Peres.
Vale lembrar que os tricolores também estavam sem o seu principal artilheiro, já que Serginho Chulapa cumpria suspensão de uma ano, após agressão a um bandeirinha.
Em 1978, os punhos cerrados também na Copa do Mundo
Um dos principais e maiores destaques do futebol brasileiro naquela década de 1970, Reinaldo também esteve presente nas convocações da seleção brasileira naquele período. Seu grande momento na seleção tinha tudo para ser na Copa do Mundo de 1978, que aconteceria na Argentina, e que também vivia uma violenta Ditadura Militar.
Muito se diziam na época – e desde então – sobre a pressão que os generais brasileiros faziam para cima da alta cúpula da CBD (antiga CBF) sobre a convocação do camisa 9. Mas seu momento era tão bom – porém, já envolto as contusões – que ele iniciaria a Copa de 1978 como titular. Com isso, muitos questionavam e pressionavam para que o ainda jovem, de apenas 21 anos, não fizesse a comemoração no mundial. Mas não demorou, e logo na estreia, no empate por 1 a 1, Reinaldo marcaria e faria sua icônica comemoração.
O próprio presidente da República a época, Ernesto Geisel, já havia mandado um recado direto a Reinaldo, dizendo para ele se preocupar apenas em jogar futebol, que eles tomariam conta da política. Mas, quem disse que o jogador deu ouvido a essas palavras?
A frustração de Reinaldo
DIA HISTÓRICO!
HÁ 40 ANOS, O FLAMENGO CONQUISTAVA O SEU PRIMEIRO BRASILEIRO. AO VENCER O ATLÉTICO POR 3×2, O MAIS QUERIDO CONQUISTOU O CAMPEONATO DE 1980, DIANTE DE MAIS DE 154 MIL TORCEDORES NO MARACANÃ.
⚽Nunes 7' 82'
⚽Zico 44'⚽Reinaldo 8' 66' pic.twitter.com/udzbgkYrqd
— FlaTorcedor (@flattorcedor) June 1, 2020
Após ser impedido de atuar na final do Campeonato Brasileiro de 1977, Reinaldo teve a oportunidade de vencer a competição três anos depois, em 1980. Porém, o forte time do Galo teve pela frente aquele que seria um dos principais times daqueles anos que viriam. Sob condução do Galinho Zico, o Flamengo iniciava um período de conquistas que culminaria no tricampeonato brasileiro (1980, 1982 e 1983), da Copa Libertadores da América e do Mundial Interclubes de 1981.
No primeiro jogo da final, em pleno Mineirão, Reinaldo provou o motivo de ser considerado tão decisivo e anotaria o único gol do Galo na vitória por 1 a 0. Porém, na partida de volta, os rubro-negros venceram pelo placar de 3 a 2, com dois gols de Nunes e um do Galinho de Quintino.
Reinaldo atuaria pelo Atlético Mineiro até o ano de 1985, para tentar a sorte em clubes como a SE Palmeiras e, acreditem, o arqui-rival Cruzeiro, mas sem conseguir se firmar. A época, Reinaldo deixava o Galo como o maior artilheiro do Estádio do Mineirão e também do clube, com 255 gols.
Título de 2021 do Atlético/MG lavou a alma do Rei-Reinaldo
A história se repete… 🐔⚽🗣️
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📸: Reprodução/Divulgação/CAM#reinaldo #hulk #galo #atleticomg #atletico #cam #brasileirao pic.twitter.com/ovbW3tDpTZ— LANCE! (@lancenet) November 29, 2021
Depois de bater na trave por três oportunidades no mata-mata – e em mais duas vezes nos pontos corridos – o Atlético Mineiro finalmente viria a conquistar o Bicampeonato Brasileiro em 2021, 50 anos após o primeiro título. E justamente em um dos jogos mais decisivos da campanha atleticana, o atacante Hulk anotou um golaço de falta, virou o jogo contra o Fluminense FC, na 36º rodada da competição, e repetiu o gesto de comemoração de Reinaldo.
Mais um gesto de homenagem do que de algum cunho político, foi o reconhecimento de um jogador que fez de tudo pela equipe mineira, e só não teve mais chances de ser campeão nacional com o clube por interferências externas. Ao ver tal cena, Reinaldo se desmanchou em lágrimas, nas tribunas do Mineirão. Essas lágrimas lavaram a alma do centroavante e da torcida atleticana.
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3 Comments
Só esqueceu de comentar que o Atlético jogou contra o juiz também em 1980.
Sim, com 5 expulsões. inclusive um vermelho direto por reclamação do Reinaldo.
O Leonardo, vc não citou que meteram a mão no galo também na final contra o Flamengo. Bateram nele o juiz Carlos rosa martins não fez nada. Mesmo mancando ele ainda fez o segundo gol. Depois o juiz expulsou ele alegando que estava catimbando. Ou seja, foi uma vergonha. O Flamengo tinha um super time mas aquele ano teria sido do galo se não metessem a mão.