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Claudio Taffarel disputou três Copas do Mundo como titular absoluto da seleção brasileira. Foi campeão em uma e viu seu nome decorado e gritado na ponta da língua dos torcedores por muitos anos, com direito a uma narração emocionante de Galvão Bueno. “Sai que é sua, Taffarel!”. E quando o país parava para assistir aos jogos do Brasil, e o sentimento de nervosismo prevalecia de norte a sul, lá estava ele, com uma tranquilidade habitual e fora do comum, protegendo a meta canarinho.
Antes de todo o planeta futebol conhecê-lo, Taffarel brilhou na cidade de Porto Alegre, mais precisamente no Sport Club Internacional, clube que defendeu de 1985 a 1990. Nesse período, acumulou uma porção de prêmios individuais, incluindo a Bola de Ouro de 1988, entregue anualmente pela Revista Placar ao melhor jogador do Campeonato Brasileiro.
Taffarel nasceu na gaúcha Santa Rosa, em 8 de maio de 1966, e tinha o vôlei como esporte principal quando adolescente. Já o futebol era secundário, praticava em algumas ocasiões, e chegou a atuar de centroavante no Tupi Futebol Clube, modesto clube de Crissiumal, cidade no noroeste do Rio Grande do Sul.
Embora gostasse do esporte-bretão, o futuro dentro das quatro linhas parecia inviável. Os futebolistas, em geral, começavam mais cedo.
Apesar do cenário desfavorável, ele decidiu tentar a sorte, e esbarrou em algumas pedras pelo caminho. Reprovações em alguns testes de goleiro na dupla Grenal adiaram o seu desejo de defender uma equipe grande de seu estado.
Taffarel passou na peneira do Internacional em 1984, aos 18 anos de idade, e logo chamou a atenção.
No início de 1985, defendeu a meta do Brasil no Sul-Americano Sub-20 e deu a volta olímpica. A estreia no profissional do Colorado ocorreu contra o Aimoré, em junho daquele mesmo ano, numa partida válida pelo Campeonato Gaúcho. Nos meses de agosto e setembro, ele disputou e venceu o Mundial Sub-20 com a camisa verde-amarela.
O goleiro, ainda conhecido como “Claudio”, obteve grande destaque na campanha, sofrendo apenas um gol em seis partidas e obtendo a marca de 484 minutos sem buscar a bola no fundo das redes.
A próxima façanha seria a titularidade no Colorado, conquistada também em setembro. Pouco depois, Claudio viraria “Taffarel” nas escalações.
Taffarel cavou espaço entre os grandes arqueiros do país no Campeonato Brasileiro de 1986. Isso, apesar de ter agredido o árbitro José de Assis Aragão numa partida contra o Cruzeiro/MG, o que lhe rendeu um gancho de 45 dias fora dos gramados.
Firmando-se cada vez mais entre os grandes jogadores do Brasil, na temporada seguinte, na polêmica Copa União de 1987, suas ótimas atuações ajudaram o Internacional a chegar à final da competição, contra o Flamengo. Após empate por 1 x 1 em Porto Alegre, os cariocas levaram a taça na partida de volta, com um gol solitário de Bebeto.
A Revista Placar concedeu a Bola de Prata, prêmio destinado ao melhor goleiro do torneio, ao jovem Taffarel. Era um prenúncio do brilhantismo no ano de 1988 para o arqueiro.
Claudio Taffarel chegou com moral aos Jogos Olímpicos de Seul. Comandado por Carlos Alberto Silva, o Brasil tinha um elenco de alta qualidade, com Romário, Bebeto, Neto e companhia. Era o favorito para ser campeão e conquistar a inédita medalha de ouro.
A semifinal contra a Alemanha, terminada em 1 x 1, escancarou o seu talento em pegar penalidades. Naquela partida, defendeu uma cobrança no tempo-extra e duas na disputa de pênaltis, ajudando o Brasil a se classificar.
Os brasileiros, entretanto, pararam nos soviéticos na finalíssima, que marcaram na prorrogação, após empate de 1 x 1 no tempo normal. A medalha de prata veio com um sabor amargo, por sua vez, o camisa 1 havia se destacado na campanha.
Taffarel, Fluminense v Internacional no @saojanuario, 11 de dezembro de 1988. 2-2 no tempo normal, Inter ganhou 6-5 nos penaltis. #Taffarel #SCInternacional @SCInternacional @HistoriaDoInter #VamoInter #Internacional pic.twitter.com/MjyKZwWuDI
— Juha Tamminen (@TamminenJuha) May 22, 2019
O arqueiro entrou em definitivo na galeria de ídolos colorados durante o Campeonato Brasileiro de 1988.
Após eliminar o Cruzeiro/MG, o Internacional mediria forças com o arquirrival Grêmio nas semifinais do Brasileirão. Porto Alegre e o Rio Grande do Sul iriam parar.
A partida de ida, disputada no Estádio Olímpico, terminou num empate sem gols. O jogo seguinte, no Beira-Rio, ficaria conhecido como o “Grenal do Século”.
Outra igualdade no placar daria a vaga ao SC Internacional. Em contrapartida, o retrospecto da época favorecia ao Tricolor Imortal, que vinha de um tetracampeonato gaúcho, sempre com o rival como vice.
Fazia um calor de torrar os miolos, a temperatura beirava os 40 C. Os gremistas saíram na frente, com Marcos Vinicius. Para a galera colorada, o pior se desenhava de novo, no entanto, Nilson marcou duas vezes, e numa virada histórica, classificou o Inter para mais uma decisão. Pela frente, só restava o Bahia.
No primeiro duelo, jogado na Fonte Nova, Leomir até colocou os gaúchos em vantagem, mas Bobô anotou dois gols e garantiu a vitória, de virada, para o Tricolor Baiano. Na partida de volta, o 0 x 0 acabou por dar o título para o Bahia, em pleno Beira-Rio, numa gigante decepção colorada.
Na campanha daquele Brasileiro de 1988, Taffarel liderou o Inter e colecionou grandes atuações. Além de receber mais uma Bola de Prata, ele levou ainda a Bola de Ouro, prêmio de maior honraria do futebol nacional.
O jornal El País, do Uruguai, o posicionou em terceiro lugar no prêmio Rey de América daquele ano, atrás dos uruguaios Ruben Páz (Racing – Argentina) e Hugo de León (Nacional – Uruguai).
O sonhado tetracampeonato brasileiro do Inter bateu na trave outra vez, mas o trabalho do goleirão era sucesso de público e crítica em todo o país.
Taffarel levou só um gol na Copa América 1989, exercendo papel crucial na conquista da seleção brasileira. Mais tarde, a IFHS o deixaria em sétimo lugar na lista de melhores goleiros daquela temporada.
Em julho de 1990, ele rumaria ao Parma, da Itália, após bom desempenho na Copa do Mundo. Seria, assim, o primeiro arqueiro brasileiro a atuar no futebol italiano e, mais do que isso, importante na abertura de mercado aos goleiros brasileiros no Velho Continente.
A passagem pelo Colorado se marca pelo contraste entre sua grandeza técnica com as luvas e a ausência de títulos oficiais. Ao todo, foram cinco vices no Campeonato Gaúcho (todos para o Grêmio) e dois no Brasileirão.
Em seu pouco mais de 1,80m, Claudio Taffarel se valia da frieza e do posicionamento para se transformar num gigante debaixo do travessão. Avesso a saltos espetaculares, ele escreveu uma história espetacular e única no futebol brasileiro e mundial. É, até hoje, uma das principais referências na posição.