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Em um cenário onde os principais clubes brasileiros eram recheados de atletas talentosos, vencer o Campeonato Brasileiro era um dos maiores prestígios esportivos do período. Ainda mais quando a competição nacional começava a ganhar maior interesse entre os gigantes do país. Dando sequência aos antigos Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Campeonato Brasileiro foi organizado pela CBD e, para muitos, é o início da “valorização” de um campeonato nacional.
A Sociedade Esportiva Palmeiras era desde a década de 1960 uma das principais forças do futebol brasileiro, num período que surgia a Primeira Academia, rivalizando diretamente com o Santos de Pelé e cia. Ali o Verdão conquistou por duas vezes a Taça Brasil (1960 e 1967), além da Taça de Prata/Roberto Gomes Pedrosa também em duas oportunidades (1967 e 1969).
Com o Atlético Mineiro campeão do Campeonato Brasileiro de 1971, o Brasileiro de 1972 recebeu mais seis clubes em relação à edição anterior, isso mesmo sem rebaixamento e acesso no regulamento. Questões políticas envolvendo o Governo Militar, que também interferia nas decisões da CBD, trouxe mais um representante da Bahia, agora somando dois clubes do Estado. Além de incluir um representante do Amazonas, Pará, Alagoas, Rio Grande do Norte e Sergipe.
Os vinte e seis participantes foram divididos em quatro grupos, dois com seis clubes e mais dois com sete. Todos os clubes se enfrentaram em turno único, sendo que os quatro melhores de cada grupo se classificariam para a próxima fase.
A segunda fase reuniu dezesseis clubes, separados em chaves com quatro equipes cada, onde apenas o campeão de cada grupo iria para as semifinais. Nesta fase, disputada em partida única, os melhores times das fases anteriores teriam prioridade no mando de campo, bem como a vantagem do empate para avançarem à final.
Já na grande final a mesma regra de vantagem do empate foi mantida. E o clube com melhor campanha da competição, em caso de igualdade no jogo único sairia campeão. Assim, o campeão foi conhecido no fim do ano de 1972, coroando um campeonato de grande equilíbrio e com grandes craques em cada equipe.
O período que o futebol brasileiro vivera no fim de década de 1960 e início dos anos 1970 seria um dos mais pródigos e talentosos que o mundo já viu. Com todos os jogadores campeões do mundo com a seleção brasileira em 1970 ainda atuando em território brasileiro, muitos clubes entraram e tinham condições de vencer a competição, causando confrontos entre grandes gênios e equipes inesquecíveis.
Assim, a SE Palmeiras, que mantinha uma grande regularidade nas competições nacionais dos últimos anos, e com uma base muito forte, liderada pelo “Divino” Ademir da Guia era um dos mais cotados ao título. Entre outros destaques, também o Botafogo/RJ, liderado pelo “Furacão” da Copa de 1970, Jairzinho, assim como o Corinthians do craque Roberto Rivelino. Além, é claro, do Santos Futebol Clube, base da seleção tri-campeã mundial com Pelé, Carlos Alberto Torres e Clodoaldo.
Nessa lista também podemos adicionar o Internacional/RS, de Claudiomiro, Valdomiro e Carpegiani, o São Paulo de Pedro Rocha e Gérson, além do Atlético/MG, então atual campeão do Campeonato Brasileiro.
Elenco do Palmeiras que sagrou-se Campeão Brasileiro de 1972 contra o Botafogo pic.twitter.com/bzmaPJqTaN
— HistóriaDoPalmeiras (@HistoriaSEP) April 16, 2018
O Palmeiras é um dos poucos times do Brasil que manteve grande regularidade nos principais torneios durante alguns anos. No período que o equilíbrio imperava no futebol do país, o Verdão sempre encabeçava a lista de favoritos e, por vezes, terminando os torneios nas primeiras colocações. Foi ali que surgiria a Primeira Academia de futebol do Palmeiras.
Mas o ano de 1972 seria uma temporada muito especial para o torcedor Alviverde, quando o clube conquistaria os dois principais torneios a disputar. Começou com disputa do Campeonato Paulista, em uma disputa com os três principais rivais do estado, além de outros clubes que costumavam incomodar os gigantes paulistas.
Após a fase inicial, que classificou seis equipes para se juntarem a Palmeiras, São Paulo, Corinthians, Santos FC, Portuguesa e Ponte Preta, o torneio foi disputado em dois turnos. Com todos se enfrentando em duas vezes. Na rodada final, Palmeiras e São Paulo se enfrentariam, com o Verdão a frente por um ponto. Com o empate, o clube garantiu o título de forma invicta, além de ver o rival Tricolor também sem derrotas no torneio, como vice-campeão. Então um feito inédito na história.
Com a campanha do título Paulista, o Palmeiras chegou embalado para a disputa do Campeonato Brasileiro de 1972, que iniciaria dias depois do campeonato estadual.
NESSE DIA | Em 1972, Corinthians 1×0 Palmeiras, gol anotado por Marco Antônio
A partida foi realizada no Pacaembu pelo campeonato brasileiro pic.twitter.com/m8spz32hfa— Informativo Coringão (@info_coringao) November 1, 2021
Diferente do Campeonato Brasileiro de 1971, que usou como molde o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Campeonato Brasileiro 1972 teve algumas alterações. Disputado entre os dias 9 de setembro e 23 de dezembro, a principal das alterações foi a inclusão de seis clubes de outras localidades do país, agregando mais regiões do torneio.
Todos os clubes se enfrentariam em turno único. A Sociedade Esportiva Palmeiras estava no Grupo B, ao lado de Coritiba, Cruzeiro EC, Flamengo, Remo, Náutico e ABC. Os quatro melhores da chave passaram à segunda fase.
Depois de vinte e cinco partidas, o Alviverde terminou a primeira fase em primeiro lugar do seu grupo, com quatorze vitórias, oito empates e apenas três derrotas. As derrotas ocorreram para o Coritiba, ainda na primeira rodada, para o Santos e para o arquirrival SC Corinthians. O Verdão chegou à segunda fase com sobras, se credenciando como grande favorito ao título.
Os dezesseis melhores da fase anterior, sendo eles os quatro melhores de cada grupo, chegaram a uma nova fase do Campeonato Brasileiro 1972. Divididos em quatro grupos compostos com quatro equipes cada, a partir dali apenas o campeão de cada um dos grupos chegaria às semifinais da competição. Isso após um turno de embates.
O Palmeiras ficou no Grupo 2. E ali tinha um grande rival na disputa, o São Paulo FC, que vinha em grande fase liderados por seu astro uruguaio, Pedro Rocha. Ao lado deles também estavam o Coritiba e o América/RJ.
Na primeira rodada, o Verdão acabou derrotado no clássico Choque-Rei, com vitória de 2 a 0 para o Tricolor Paulista. Mas, na rodada seguinte veio a recuperação, e bateram o América/RJ, por 3 a 1. Na última rodada, a vitória por 3 a 0 sobre o Coxa, além da derrota do São Paulo para o América/RJ, classificaram o Palmeiras para as semifinais. Com o mesmo número de pontos do rival paulista, o Verdão se deu melhor por conta dos critérios de desempate.
Com o final das três rodadas da segunda fase, foram conhecidos os semifinalistas do Campeonato Brasileiro de 1972. Com isso, Palmeiras e Internacional/RS se enfrentariam no Pacaembu. Já na outra semifinal, Botafogo/RJ e Corinthians se encontrariam no Estádio do Maracanã. O Palmeiras fez valer sua vantagem de empate para avançar à final. Em um embate equilibrado, com o 0 a 0 o Verdão garantiu a classificação para a decisão.
O adversário seria histórico. Uma partida contra o Botafogo/RJ, que bateu o Corinthians em partida recheada de polêmicas da arbitragem. Mesmo saindo atrás do placar logo no início da partida, os cariocas viraram o marcador no segundo tempo, com gols de Jairzinho e Nei, enlouquecendo o Maracanã. A final estava conhecida, agora só faltava o palco que a CBD se encarregaria de escolher.
As polêmicas para a decisão do Campeonato Brasileiro de 1972 ficaram à cargo da CBD, que organizou o torneio e definiria onde seria realizado a partida finai. O palco escolhido foi o Estádio do Morumbi, o que não agradou o imponente treinador do Verdão, Oswaldo Brandão. Além disso, o dia escolhido foi 23 de dezembro, antevéspera de Natal, com o horário escolhido às 16h.
O horário também gerou reclamações, por conta da data conhecida como de alta intensidade do comércio, o que dificultaria a mobilidade dos torcedores ao estádio. Mesmo com muita reclamação, a preferência do elenco pelo Pacaembu, a CBD manteve suas posições e o jogo ocorreu no local, data e horários pré-definidos.
No dia da decisão os clubes demoraram um bocado para saírem dos vestiários. O Palmeiras com meia hora de atraso e se aquecendo debaixo de uma forte chuva. Já o Botafogo/RJ entrou em campo com 45 minutos de atraso. Ao iniciar a partida o Verdão manteve o controle do início ao fim da partida.
Palmeiras, Penta Campeão Brasileiro em 1972.
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O placar de 0 a 0 foi mantido até o apito final do árbitro gaúcho Agomar Martins. O super time do Palmeiras conseguiu anular qualquer tentativa do super time do Fogão. o Palmeiras anulando todas as possíveis chances do Fogão. As equipes estraram assim:
Palmeiras: Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu (Zé Carlos) e Ademir da Guia, Edu Bala (Ronaldo), Leivinha, Madurga e Nei. Técnico: Osvaldo Brandão.
Botafogo/RJ: Cao, Valtencir, Brito, Osmar Guarnelli e Marinho Chagas, Carlos Roberto e Nei Conceição; Zequinha, Jairzinho, Fischer e Ademir Vicente (Ferreti). Técnico: Sebastião Leônidas.
O craque Divino Ademir da Guia comandou o ritmo do time palmeirense, porém, naquela disputada final, não conseguiu servir os atacantes, principalmente Leivinha. Luís Pereira foi soberano na zaga do Verdão, prevalecendo com sua técnica e força contra o forte ataque dos cariocas.
E dessa forma, o Palmeiras sagrou-se como o campeão do Campeonato Brasileiro de 1972. Uma competição difícil, como todos naquele período recheados de grandes times, mas dando sequência a Academia Alviverde. O clube manteve a base vitoriosa do campeonato para o ano seguinte, quando conquistou novamente o título na temporada de 1973. O primeiro bicampeão com a nova forma de organização da competição.
Como estava virando tradição, o prêmio Bola de Prata da Revista Placar foi entregue aos melhores jogadores de cada posição do Campeonato Brasileiro de 1972. A premiação coroou dois astros do Palmeiras. Mas seria impossível não citar outros componentes daquele grupo campeão. Além do goleiro Emerson Leão e o do astro Ademir da Guia, ambos premiados, Eurico, Luís Pereira, Alfredo, Zeca, Dudu, Edu Bala, Leivinha, Madurga e Nei foram importantes na conquista. O comandante da conquista, Oswaldo Brandão, ficou marcado no futebol paulista por comandar os rivais Corinthians e Palmeiras com muito sucesso.
Na premiação do Bola de Prata da Revista Placar, os jornalistas davam notas ao longo das rodadas e uma equipe democrática era eleita. E o time do campeonato ficou assim: Emerson Leão (PAL), Aranha (REMO), Elias Figueroa (INT), Beto Bacamarte (GRE), Marinho Chagas (BOT); Piazza (CRU), Ademir da Guia (PAL), Zé Roberto (COR); Osni (VIT), Alberi (ABC) e Paulo César Caju (FLA).
O artilheiro do Campeonato Brasileiro de 1972 seria Dadá Maravilha, do Atlético Mineiro, repetindo o feito da temporada anterior quando o Galo foi o campeão Brasileiro de 1971.