O que foi a Democracia Corinthiana?
Índice
- 1 Um sopro de luz contra os ventos da Ditadura
- 2 Fim da era Vicente Matheus e início de uma nova era
- 3 Em que ano foi a Democracia Corinthiana?
- 4 Como se organizou este movimento contra a Ditadura Militar?
- 5 Qual era o objetivo da Democracia Corinthiana?
- 6 Doutor Sócrates: Grande símbolo da Democracia Corinthiana!
- 7 Campeonato Paulista 1982 e 1983: As conquistas da Democracia!
- 8 A emenda Dante de Oliveira
- 9 O fim da Democracia Corinthiana
- 10 A Democracia Corinthiana VIVE!
Um sopro de luz contra os ventos da Ditadura
Enquanto o Brasil vivia sob uma violenta ditadura militar, com diversas classes e cenários sendo censurados, em uma luta que parecia não ter mais fim, surgia uma luz no final do túnel nos gramados brasileiros. Mais precisamente no Parque São Jorge, dentro do SC Corinthians Paulista. Sob ideais revoucionários e debaixo de uma série de mudanças, sob inspiração do sociólogo Adilson Monteiro Alves e do craque Sócrates Brasileiro, nascia ali a Democracia Corinthiana.
Esse importante período do futebol e da história de lutas e democracia em território brasileiro durou apenas dois anos, de 1982 a 1984, mas como uma chama para incendiar as ruas durante aqueles dias, que fortaleceram a campanha das “Direitas Já” – pelo retorno ao voto popular.
Chama essa que, inclusive, até os dias de hoje, se mantém acesa, ainda que em leve sopro, onde pouco se vê nos gramados brasileiros atuais jogadores e instituições politizadas em prol de movimentos populares ou pela democracia.
Fim da era Vicente Matheus e início de uma nova era
Com início em 1971, no ano de 1982 chegava ao fim a “era” Vicente Matheus a frente ao comando do Corinthians, o mandatário mais icônico em toda a história corinthiana. Além do histórico folclórico, com frases e momentos até hoje lembrados na memória dos torcedores e cronistas brasileiros, foi com ele na presidência que o Timão quebrou jejum de 23 anos sem conquistas, com o Campeonato Paulista de 1977.
Contudo, no último ano de seu mandato, o Corinthians já se via em maus lençóis, com fracas campanhas no Campeonato Paulista e no Brasileiro de 1981. Foi então que, em 1982, Waldemar Pires assumiria a presidência do clube com a missão de colocar mudanças internas para retomar o caminho das vitórias. Isso sob o pano de fundo da Ditadura Militar, que perdurava desde o ano de 1964, e já sem a mesma força de antes, por conta governos seguidamente impopulares.
Em que ano foi a Democracia Corinthiana?
Waldemar Pires assumiu a presidência do Corinthians em abril de 1982, e uma das suas primeiras ações como mandatário do clube foi trazer o sociólogo Adilson Monteiro Alves para ser diretor de futebol. Vale destacar que o filho de Adilson, Duílio Monteiro Alves, se tornaria presidente do Timão, quase 40 anos depois.
Observando o cenário da época, com a Ditadura Militar já perdendo força principalmente no cenário político do país, já que a sua impopularidade já era imensa, Adilson Monteiro Alves decidiu que um movimento a favor do voto popular e da democracia deveria começar de dentro do Parque São Jorge. E ao lado dos líderes do então elenco corinthiano à época, como Doutor Sócrates, Walter Casagrandes e Wladimir, se iniciou um movimento que previa uma série de mudanças internas no clube, e que chegaram para alterar a hierarquia do SC Corinthians.
Esse movimento ficaria conhecido como Democracia Corinthiana, assim cunhado pelo publicitário Washington Olivetto (corinthiano roxo), que também criou uma logomarca, inspirada na tipologia da Coca-Cola. Na época, Washington Olivetto havia conhecido Adilson Monteiro Alves através do narrador Osmar Santos em uma campanha para a Rádio Globo, e ocuparia o cargo de vice-presidente de marketing do Timão. Já Osmar Santos, além de mítico narrador, também foi uma das figuras centrais do movimento das Diretas Já!
Como se organizou este movimento contra a Ditadura Militar?
Democracia é uma palavra grega que significa a soberania de um povo e diferente do que vinha acontecendo no Brasil, com quase 20 anos de Ditadura Militar. Após golpe incostitucional no ano de 1964, que levou o país a alguns dos momentos mais sombrios de sua política, naquele período João Figueiredo era o então presidente da república, mas o povo sequer tinha o direito de votar e escolher os seus representantes.
E a Democracia Corinthiana surgir para acender essa fagulha da democracia dentro da população. Além de colocar essa palavra que, até então, estava em desuso no país – DEMOCRACIA – o movimento também serviu para mostrar para a população como funcionava o modelo democrático. O intuito era protestar e pedir pela volta do voto popular. Gritar pelas “Diretas Já”! Inflamar a população para as ruas em busca do democrático direito na escolha de seus representantes. Movimento que rapidamente foi abraçada pelo povo brasileiro.
Qual era o objetivo da Democracia Corinthiana?
No movimento da Democracia Corinthiana, todos de dentro do clube tinham direito a voto em relação a importantes decisões do dia a dia do clube. Sendo que cada voto tinha peso igual. Ou seja, desde o roupeiro, a jogadores, dirigentes e o técnico Mario Travaglini, tinham voz para votar em relação a contratações, escalações e outros temas internos. A famosa concentração antes dos jogos também estava abolida.
Quando iam para campo, os jogadores carregavam faixas com os seguintes dizeres: “Diretas Já” e “Eu quero votar para presidente”, além de outros escritos invocando ao voto na camisa de cada um deles. Nas arquibancadas, a torcida corinthiana abraçou a ideia, e também levava faixas pedindo pela volta da democracia. Tudo muito arriscado para o período, pois o Brasil ainda vivia um regime de censura por parte dos militares contra qualquer tipo de protesto ao governo – ainda que com menos virulência do que anos anteriores.
Doutor Sócrates: Grande símbolo da Democracia Corinthiana!
Doutor Sócrates completaria 67 anos hoje!
Ídolo, líder da Democracia Corinthiana e campeão pelo Timão. Sua passagem pelo Parque São Jorge pode ser resumida de tantas formas
Saudades, Doutor ❤
📷 Divulgação#MeuTimão pic.twitter.com/MSzk7miAmm
— Meu Timão (@MeuTimao) February 19, 2021
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira, ou simplemente Doutro Sócrates, além de um extenso nome também possuía a referência do famoso flósofo grego, idolatrado pelo pai, amante da filosofia. E com essa inspiração não poderia ser diferente. A maior arte de sua vida era pensar, seja dentro como fora dos gramados. Nas quatro linhas, o jogador era capaz de ditar o ritmo do jogo e criar jogadas geniais. Fora dele, era capaz de cativar a todos a sua volta com suas idéias e maneira de enxergar a vida.
E foi dessa forma que Doutor Sócrates se tornou o grande líder de uma revolução que se daria a partir de então. Virando referência para sempre no Brasil e nos quatro cantos do mundo.
Contratado pelo Corinthians no ano de 1978, Magrão – como também era conhecido – anos depois receberia a importante parceria de outro rebelde do futebol, o ainda menino Walter Casagrande Júnior. Outra importante liderança daqueles anos era o lateral esquerdo Wladimir, no Timão desde 1970. Também vale destacar como destaques daquele CORINTHIANS os jogadores Biro-Biro, Zé Maria e Zenon. Fundamentais no vitorioso perído dentro de campo da Democracia Corinthiana.
Campeonato Paulista 1982 e 1983: As conquistas da Democracia!
12/12/1982 – Há 35 anos, a Corinthians, com sua Democracia, vencia o Campeonato Paulista. pic.twitter.com/xyvQcj0xaI
— Diego Salgado (@diegosalgado7) December 13, 2017
Em qualquer time de futebol, títulos e vitórias são importantes para consagrar grandes momentos. E durante o período do Timão na Democracia Corinthiana não foi diferente. Este movimento só deu ainda mais certo porque, dentro de campo, todo o time correspondia, sendo uma das principais equipes do país naqueles anos. Período fértil de grandes equipes, como o Flamengo de Zico, com os principais jogadores atuando em território nacional.
E, noss dois principais anos de Democracia Corinthiana, o Corinthians faturou os Campeonatos Paulistas de 1982 e 1983, em um período que os estaduais eram tão importantes e difíceis como a disputa do Campeonato Brasileiro. Na primeira conquista, em 1982, o Timão se classificou em primeiro lugar na primeira fase do torneio, batendo o forte time do São Paulo na grande decisão (por 1 a 0 e 3 a 1), em dois jogos no Estádio do Morumbi.
Já na segunda conquista de Campeonato Paulista, do ano de 1983, em mais uma oportunidade o Timão bateu o Tricolor Paulista, ao empatar em 1 a 1 e vencer por 1 a 0. Em disputa também equilibradíssima, com duas equipes históricas. A geração de Doutor Sócrates, Casagrande, Zeno, Biro-Biro, entre outros, também fazia história dentro dos gramados.
A emenda Dante de Oliveira
Um dos principais objetivos da Democracia Corinthiana era dar mais liberdade a escolha dos jogadores do clube, nas ecolha das decisões, mas também fortalecer todo o movimento pela volta da democracia e do voto popular ao Brasil. Uma resistência a Ditadura Militar. E foi justamente naquele período, mais especificamente no ano de 1983, que uma proposta de emenda constitucional previa a volta das eleições diretas. Essa emenda ficou conhecida como Dante de Oliveira, em homenagem ao então jovem Deputado do MBD, que a propôs.
Essa possibilidade de um retorno à democracia inflamou as ruas no país, fortalecendo a presença das população em passeatas e encontros, também pedindo calorosamente a votação dessa emenda. Inclusive com os jogadores do Corinthians, vistos constantemente nos comícios pelas “Diretas Já!”.
Mas, para a decepção daqueles que ansiavam pelo retorno da democracia e do voto popular, essa emenda foi barrada na Câmara dos Deputados em 1984. Na ocasião, era necessário dois terços dos votos a favor para a emenda ser aprovada e passada na sequência ao Senado Federal. Dos 320 votos necessários, apenas 298 foram obtidos, com 65 votos contra, 113 ausências e 3 abstenções.
O fim da Democracia Corinthiana
@Corinthians, coloca os jogadores pra entrar com a faixa da Democracia Corinthiana hoje, EU TE IMPLORO! pic.twitter.com/9UU2NT3Tub
— 𝙼𝚘𝚘𝚗𝚌𝚑𝚒𝚕𝚍 |♥️ (@2Pacswifey_) September 7, 2021
No ano de 1983, o Corinthians contratou o experiente goleiro Emerson Leão, eternamente identificado como um dos maiores ídolos na hsitória da SE Palmeiras. A época, alguns jogadores corinthianos foram contra a sua contratação, não por conta da identificação com o rival, mas sim pelo fato do goleiro ser adeptos a antigas hierarquias.
Contudo, mesmo com alguns jogadores sendo contra, a maioria venceu e Emerson Leão acabou contratado pelo clube de Parque São Jorge. A partir dali se iniciava um pequeno racha no elenco alvinegro, com alguns atletas se bandeando para o lado do temperamental goleiro, enquanto outros se mantinham ao lado do movimento da Democracia Corinthiana. Um forte esgaste já estava prevendo o fim do movimento.
Mas, sem dúvida, o que acelerou esse processo se deu por conta da negativa em relação à emenda Dante de Oliveira. Sócrates, o maior símbolo da Democracia Corinthiana, ficou decepcionado com a situação e acabou por se transferir para a Itália, onde teria rápida e pouca lembrada passagem pela Fiorentina, em 1984. A saída do Doutor Sócrates foi o ponto crucial para o movimento chegar ao fim. Ele era o grande símbolo, o porta-voz. No ano seguinte, Adilson Monteiro Alves também perdeu a presidência do clube.
Chegava ao fim a Democracia Corinthiana, movimento esse que – porém – sobreviveu ao tempo com um símbolo de resistência tanto dentro como fora dos gramados.
A Democracia Corinthiana VIVE!
Se durante o período da Democracia Corinthiana o obejtivo principal não foi alcançado, pelo menos não enquanto ela sobreviveu, ela pelo menos deixou frutos e um legado inestimável para a sequência da história do país. Tanto que, já no ano de 1985, o primeiro presidente civil pós era dos militares foi eleito, sendo ele Tancredo Neves. E mesmo que tenha sido apenas pelo colégio eleitoral.
Quatro anos mais tarde, a população pode enfim escolher o seu presidente da República, nas eleições de 1989. Isso depois de 25 anos de militares no poder. Fernando Collor de Mello foi o presidente eleito, o primeiro em votação popular desde 1964, quando João Goulart venceu o pleito, mas foi derrubado pelos militares.
Desde a eleição de Fernando Collor até os dias atuais, a Democracia Corinthiana sempre é evocado em momentos que se clama pelo poder popular e contra os movimentos antidemocráticos.