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Na temporada de 1995, em pleno ano de centenário, o Flamengo mexeu no futebol brasileiro. Além de já contar com uma das maiores promessas do país, o jovem Sávio “Anjo Loiro”, o clube trouxe um trio que tinha tudo para dar certo: o técnico Vanderlei Luxemburgo, além de Romário e Edmundo.
O Baixinho, vindo do Barcelona era – então – o melhor jogador do mundo, campeão da Copa do Mundo como principal destaque. Já o Animal Edmundo era o melhor jogador do Brasil, com temporadas fantásticas pelo Palmeiras.
Com um time como esse, era esperado que o Flamengo conquistasse todos os títulos possíveis. Contudo, não foi isso que aconteceu e o elenco rubro-negro decepcionou a muitos, com nenhum título conquistado e uma má campanha no Campeonato Brasileiro.
Mas, o que fez com aquele time tão estrelado desse errado? É sobre esse tema que nós vamos discorrer nesse texto.
Em 1995, o CR Flamengo vivia o ano de seu centenário, e para impressionar a torcida e também a imprensa, em seu primeiro ano de mandato, o então presidente Kleber Leite, fez questão de trazer contratações de impacto.
No elenco, a equipe já contava com o “Anjo Loiro” Savio, formado nas categorias de base rubro-negra, que na época tinha 21 anos de idade. Na formação do grupo, o Flamengo também contou com outros jogadores formados na base como o zagueiro Gélson Baresi, o zagueiro Jorge Luís, os meias Fabinho e Marquinhos, além do atacante Nélio.
Para completar o time, os rubro-negros trouxeram o lateral-esquerdo Branco, atuou campeão mundial pelo Brasil, que fora espirrado pelo Corinthians após a derrota na final do Brasileiro de 1994. Também chegaram o lateral-direito Marcos Adriano do São Paulo, o volante Charles Guerreiro do Guarani, o meia Willian do Vasco da Gama e um tal de Romário.
Para o comando do time foi contratado Vanderlei Luxemburgo, treinador que havia sido bicampeão brasileiro pelo `Palmeiras.
Branco, Luxa e Romário.
Flamengo 1995.
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Ao melhor estilo, aos 29 anos, Romário chegou abraçado pela nação rubro-negra em janeiro de 1995, após ser contratado pelo Flamengo por 4,6 milhões de dólares. Em um caminhão cedido pela Brahma, um boné na cabeça e rodeado de torcedores, o Baixinho foi recebido como rei e não à toa, pois era o atual melhor do mundo, eleito pela FIFA e recém-campeão da Copa do Mundo com o Brasil.
Na época, muitos ficaram impactados com a contratação, porém, Romário queria voltar ao Brasil, pois já não se sentia feliz no Barcelona. O estilo rígido de treinamentos em solo europeu e o cumprimento de regras e horários desagradaram o jogador, que gostava muito mais de uma vida boêmia.
Sua estreia foi diante da seleção uruguaia no estádio Serra Dourada, com a camisa número 100, em alusão ao centenário do clube. Na ocasião, o jogo terminou empatado em 1 a 1, com gol de Nélio.
#Flamengo campeão da Taça Guanabara 1995. pic.twitter.com/r97NxnTNZV
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O ano de 1995 para o Flamengo teve um início arrasador, pois a equipe passou por seus adversários com tranquilidade no decorrer da Taça Guanabara. Foram 10 vitórias, 4 empates e uma derrota sofrida para o Fluminense, que seria o algoz dos rubro-negros na final do Campeonato Carioca.
Para a decisão da Taça Guanabara, Romário mostrou o motivo de ser considerado o melhor do mundo e anotou os três gols do Flamengo em vitória por 3 a 2 diante do Botafogo/RJ. Do outro lado, os botafoguenses ainda perderam o seu maior craque, o artilheiro Túlio Maravilha, que foi expulso após discutir com o zagueiro flamenguista Agnaldo. Naquele instante tudo parecia estar a favor dos rubro-negros e os títulos pareciam questão de tempo.
Você sabia? No famoso FLAFLU do lendário "gol de barriga", do Renato Gaúcho, que ficou muito famoso no Brasil, tem uma bandeira da Fanáticos presente? pic.twitter.com/hDulEBkL8V
— Velharia Os Fanáticos (@VelhOsFanaticos) March 24, 2021
Na fase final do Campeonato Carioca, o Flamengo era mais um dos oito times presentes em uma disputa de pontos corridos. O último jogo dos rubro-negros, líderes daquela fase, seria justamente contra o Fluminense FC, equipe estava a apenas dois pontos da liderança. Ou seja, aquele duelo seria uma espécie de final por parte das duas equipes.
O Flamengo, com Romário e Sávio no ataque, era considerado favorito, porém, do outro lado, os tricolores contavam com Renato Gaúcho. Dentro de campo, o que se viu foi a garra tricolor prevalecendo em campo, com uma vantagem de 2 a 0 logo no primeiro tempo. Foi então que o Flamengo acordou e empatou o jogo, após expulsão de três jogadores do Fluminense. O Baixinho e Fabinho empataram o jogo, mas o gol de barriga de Renato no finzinho do jogo mudou toda a história: 3 a 2 para o Flu.
A derrota na final do Campeonato Carioca, foi o início do caos do Flamengo de 1995. Muitos esperavam o título rubro-negro, e por conta disso, sobrou para Vanderlei Luxemburgo que acabou pedindo demissão. A pressão em cima do treinador era tamanha e seus desentendimentos com Romário também foram fundamentais para tal desfecho. Naquela altura, o Baixinho mandava no time.
O clima entre jogador e treinador nunca foi muito bom, pois Romário não gostava muito de treinador, o que causou conflito com Luxemburgo. Então, foi feita a vontade do Baixinho que tinha a palavra final.
Quem assumiu em seguida foi o técnico Edinho e naquele instante, o Flamengo passou a viver uma de suas piores crises do ano, perdendo todos os jogos da Copa dos Campeões Mundiais. Na ocasião, os rubro-negros foram derrotados por Santos FC, São Paulo e Grêmio em um quadrangular.
Romário e Edmundo cantam rap dos bad boys | 19/05/1995. pic.twitter.com/xj8ZClQqjV
— Acervo do Futebol Brasileiro (@acervofutbr) May 11, 2021
Por conta da decepção no Campeonato Carioca, Kleber Leite resolveu agir mais uma vez e bancou outras badaladas contratações para o Flamengo no segundo semestre de 1995. Chegaram o zagueiro Ronaldão, que veio do São Paulo, o lateral Luís Carlos Winck, do Botafogo, o goleiro Paulo César, da Portuguesa e o meia Pingo, do Cruzeiro. Para completar o elenco e mostrar poder de compra, o Flamengo ainda trouxe os meias Djair, Lira e Márcio Costa, recém-campeões cariocas com o Fluminense.
Em meio a essas contratações, a cereja do bolo seria Edmundo, contratado por 5 milhões de reais, e que vinha de dois anos maravilhosos pelo Palmeiras, com direito a dois Campeonatos Brasileiros. Na ocasião, o jogador só deixou o alviverde, pois não estava satisfeito no clube, colecionando desafetos.
Após a demissão de Edinho por maus resultados, em Setembro de 1995, o Flamengo foi atrás de outro treinador. A imprensa acreditava na contratação de Telê Santana, que na época dirigia o São Paulo. Porém, para a surpresa de todos, o time carioca contratou Washington Rodrigues, mais conhecido como Apolinho, jornalista de respeito da Rádio Globo e muito próximo da diretoria rubro-negra.
Apesar de entender sobre futebol, Apolinho não tinha experiência como treinador e por isso se espantou ao receber o convite.
“Estava jantando e o Kleber Leite me convidou para encontrá-lo em um restaurante. Imaginei que queria conselhos sobre o momento do time e fui preparado para sugerir a contratação do Telê Santana. Ninguém queria pegar o Flamengo. O papo varou a madrugada. Até que por volta das 3h30 havia um prato virado na mesa e sem uso. O Kleber me disse que tinha um nome e pediu para que virasse o prato. Quando vi que era o meu tomei um susto e perguntei se ele estava brincando. Pensei rápido e aceitei, já que o Flamengo é uma convocação. Foi uma correria. Tinha que me desligar da rádio, TV, jornal. Tudo para evitar conflito”.
Romário, Sávio e Edmundo, assim ficou conhecido o melhor ataque do mundo. Essa rima até parece mesmo um rap, mas esse talento pertence mesmo ao Baixinho e ao Animal que realmente fizeram dupla musical para produzir uma letra. Ambos se designavam como bad boys rubro-negros, polêmicos e competitivos.
Contudo, ambos os jogadores não foram capazes de evitar constantes decepções do Flamengo. Na semifinal do Troféu Teresa Herrera, os rubro-negros tomaram uma sonora goleada por 3 a 0 do Deportivo La Coruña, que na época contava com Bebeto, jogador que seria contratado pelos cariocas no ano seguinte.
Outra decepção ocorreu na semifinal da Copa do Brasil, em que o Flamengo até venceu a primeira partida no Maracanã pelo placar de 2 a 1. Contudo, no Olímpico, os gremistas venceram por 1 a 0, resultado suficiente para garantir a classificação gaúcha.
O Flamengo sequer venceu a Supercopa, passando perto do título, ao perder a final para o Independente da Argentina. Nessa mesma competição, aconteceu o fatídico jogo contra o Velez Sarsfield, no Parque do Sabiá, em Uberlândia, pois o Flamengo estava brigado com a FERJ e ficou alguns jogos sem atuar no Maracanã. Na ocasião, os rubro-negros venciam por 3 a 0 o duelo de volta da primeira fase, foi quando Edmundo se envolveu em uma briga com o argentino Flávio Zandoná.
Apesar de terem feito um rap para demonstrar forte parceria, dentro dos bastidores, Romário e Edmundo não se entendiam. Ambos os jogadores tinham temperamento forte e o ego de cada um passou a atrapalhar cada vez mais a equipe do Flamengo.
Como prova disso, o time começou a despencar no segundo semestre, durante o Campeonato Brasileiro. Tanto que terminou em último lugar em sua chave na primeira fase e na segunda etapa ficou com um modesto sétimo lugar.
Para piorar, Romário passou a ser cobrado de maneira mais acintosa, pois se tornaram recorrentes as críticas ao seu desempenho. Treinando cada vez menos e fora de forma, o Baixinho começou a conviver com algumas lesões que o deixaram fora de algumas partidas. Sua vida pessoal também não estava em um bom período, pois o jogador acabara de terminar o seu primeiro casamento.
Uma propaganda da Varig, antiga empresa de aviação, colocava o Flamengo como o melhor ataque do mundo. Porém, como os rubro-negros passaram em branco em relação a títulos, os rivais se aproveitaram da situação para tirar um sarro, denominando a linha de frente formada por Romário, Sávio e Edmundo como o pior ataque do mundo.
Sendo assim, ainda naquele ano de 1995, aquele time do Flamengo começou a derreter. Branco deixou a equipe rumo ao SC Internacional, Luís Carlos Winck se transferiu para o São José, o goleiro Paulo César se mudou para o Guarani, enquanto Djair foi para o São Paulo. Contudo, a saída mais badalada foi a de Edmundo, que foi emprestado para o Corinthians.
Enquanto isso, Romário viveu entre idas e vindas entre Flamengo e Valência até 1999 e o “Anjo Loiro” Savio se transferiu para o Real Madrid em 1998.