Maestro Júnior: O craque do Campeonato Brasileiro de 1992
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Veterano ídolo conduziu nova geração a mais uma conquista
Após passagem pelo Torino e Pescara, ambos da Itália, Júnior decidiu que era o momento de retornar ao futebol brasileiro em 1989, e o destino não poderia ser outro: o CR Flamengo. O retorno de um ídolo dos anos dourados do clube Rubro-Negro, aos 35 anos, surpreendeu muita gente, e o atleta mostrou que, além de atuar em alto nível, ainda poderia se reinventar.
Seu retorno ao Flamengo foi, principalmente, para cumprir o desejo do filho, que nunca o havia visto atuar com a camisa do CR Flamengo. Cria da base flamenguista, seu retorno também seria um espelho para uma nova e talentosa geração que surgiria no clube, que tinha, entre outros, Djalminha, Nélio, Júnior Baiano, Paulo Nunes, Marcelino Carioca. Além de um líder para o jovem elenco e exemplo de uma geração vencedora do clube, o maestro Júnior também seria peça fundamental dentro de campo.
A mudança de posição, saindo da lateral-esquerda e indo atuar no meio de campo não começou no retorno ao Rio de Janeiro. Sob a intenção de ter um desgaste menor dentro de campo, ele pediu para atuar mais avançado quando ainda estava no Torino. Assim, não teria a responsabilidade de percorrer o campo todo quando fosse se avançar no ataque.
Mas foi no Campeonato Brasileiro de 1992, que o maestro Júnior novamente entrou para a história do clube Rubro Negro, agora atuando como meio campista. Já aos 38 anos de idade e com os cabelos já grisalhos predominando na cabeça, fez uma competição que se esperavam dele.
Curiosidades sobre a carreira do maestro Júnior
A vida de Júnior sempre esteve ligada as praias do Rio de Janeiro, cidade na qual chegou aos 5 anos de idade, já que nasceu em João Pessoa, na Paraíba. Vivia jogando bola na areia das praias cariocas, e foi assim que chamou a atenção quando passou a atuar por equipes do futebol de areia. Aos 16 anos iniciou no futebol de salão, que o levaram à base do Flamengo em seguida.
Começou a carreira nos campos como volante, sendo que a sua visão de jogo, velocidade e habilidade impressionaram logo de cara. Foi chamado no ano seguinte para o time profissional, mas para ocupar a lateral direita, principalmente ao seu vigor físico, muito acima da média.
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Com 20 anos, em 1976, o mítico treinador Cláudio Coutinho o improvisou na lateral-esquerda, no lugar de Vanderlei Luxemburgo, e de lá não mais saiu até ir para a Europa, na temporada de 1984. Na lateral esquerda Júnior se firmou facilmente por ser ambidestro, além de possuir uma inteligência e leitura de jogo que o colocou como um dos principais jogadores de sua geração.
Histórico vitorioso e de premiações
Leo Júnior, como era chamado na Itália, já tinha consagrado sua carreira na sua primeira passagem no CR Flamengo. Ali, entre as décadas de 1970 e 1980, havia conquistado três títulos de Campeonato Brasileiro, uma Copa Libertadores da América, em 1981, além do Mundial Interclubes, no histórico confronto contra os ingleses do Liverpool. Sem esquecer de cinco estaduais. Para muitos, o time do Flamengo daquele período é um dos melhores do Brasil de todos os tempos.
Já na Itália Júnior não conseguiu levar, tanto o Torino como o Pescara, a conquistas. Em times sem grande expressão no futebol italiano, ainda assim foi importante no vice-campeonato italiano do time de Turim (Torino), e fundamental na campanha que escapou o time de Abruzzo (Pescara) do rebaixamento à Série B italiana.
Sua trajetória no Flamengo lhe rendeu, além de convocações à Seleção Brasileira, inclusive na poderosa geração que foi ao mundial de 1982, também diversas premiações individuais com as suas impecáveis atuações nos campeonatos nacionais e regional do Brasil.
Venceu o prêmio da Bola de Prata em cinco ocasiões, três delas nos anos 1980, durante a primeira passagem pelo Flamengo, e mais duas vezes na sua segunda passagem, já veterano, nos anos 1990. A Bola de Ouro pelo Campeonato Brasileiro de 1992 coroou a sua carreira. Não apenas pelo histórico do atleta, e sim pelo protagonismo que ele desempenhou em todo o Campeonato Brasileiro, quando foi o grande líder do Flamengo na conquista do campeonato.
Retorno triunfante ao Flamengo
Com 4 anos, Rodrigo, filho mais velho do maestro Júnior só havia visto o pai com a camisa Rubro Negra em imagens antigas, e ele pediu ao pai para voltar a atuar pelo clube. O pedido foi prontamente atendido no ano de 1989, após Júnior passar quase cinco anos na Itália. Leo Júnior voltaria para reviver as glórias que Júnior Capacete viveu na “era de ouro” do Flamengo no início dos anos 1980.
No seu retorno, Júnior era o único remanescente daquele período mágico do Flamengo. Após também passar pela Itália, Zico voltou ao clube em 1985, foi campeão da Copa União em 1987, e havia encerrado sua carreira pouco depois do retorno de Júnior. O “Capacete” agora teria uma outra função como o mais experiente e velho ídolo do clube. Líder de uma geração promissora, logo ganhou a braçadeira de capitão e o apelido de “Vovô-Garoto”.
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Seu vigor físico que sempre impressionou ao longo da carreira, aos 38 anos alcançou números incríveis pelo Flamengo. Totalizou, nas duas passagens pelo clube incríveis 874 jogos, recorde absoluto de um jogador pelo clube, com 77 gols.
Júnior comanda time no Brasileiro de 1992
Capitão, Júnior foi um verdadeiro maestro em campo durante a difícil temporada no Campeonato Brasileiro de 1992. O jogador mais experiente do elenco Rubro Negro estava em busca de seu quarto Brasileirão, e a motivação era a de um jovem no início dos anos 1980.
Na primeira fase da competição o Flamengo ficou na quarta colocação, após uma arrancada de recuperação e que deu direito ao clube a uma das vagas para a segunda etapa do torneio. Nela, o Flamengo dividiu o grupo com Vasco da Gama, São Paulo e Santos, terminando em primeiro lugar após turno e returno.
Com a primeira colocação, o Flamengo conseguiu se classificar para à decisão da competição para enfrentar o Botafogo/RJ, líder do outro grupo e favorito na decisão. O time alvinegro contava com o craque Renato Gaúcho, além da vantagem de dois empates para ser campeão. E toda a vantagem do Botafogo/RJ foi revertida ainda nos primeiros 45 minutos da primeira partida, quando o Flamengo já vencia por 3 a 0. O clima de “já ganhou” tomou o vestiário e a festa que estava sendo preparada foi encerrada e ignorada até o final da segunda partida. Tudo a mando do veterano capitão.
A bronca no elenco manteve a seriedade do time para a disputa da segunda partida, não dando margem para o azar, contra um sedento Botafogo/RJ, que estava em busca da primeira conquista do Brasileiro no novo formato. O “Vovô-Garoto” Júnior anotou nove gols no campeonato, e pela primeira vez foi o artilheiro de uma equipe ao fim de uma competição. Dois deles foram nas partidas da final, sendo um de falta, uma de suas grandes especialidades no retorno ao Flamengo.
O veterano foi o que mais comemorou o título do Campeonato Brasileiro de 1992, e realmente parecia um garoto.