Flamengo x Internacional: Tudo sobre a final da Copa União 1987!
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Flamengo, de Zico, levou a melhor sobre o Internacional, de Taffarel
Após empatar em 1 a 1 na primeira partida da final da Copa União de 1987, Flamengo e Internacional chegaram ao Maracanã no dia 06 de dezembro de 1987 para decidir quem seria o melhor time do Brasil na temporada, tudo isso em volta de polêmicas políticas.
Após confusão envolvendo a CBF no ano de 1986, foi criado o “Clube dos 13” para organizar uma nova liga no país. Com as principais equipes do Brasil (Flamengo, Fluminense, Vasco, Botafogo/RJ, Corinthians, Palmeiras, São Paulo, Santos, Grêmio, Internacional, Atlético Mineiro, Cruzeiro e Bahia), foi organizada uma competição própria que foi chamada de Copa União.
E até hoje há disputas e debates sobre quem é de fato o verdadeiro campeão brasileiro. Se é o Flamengo, ou o Sport/PE que venceu o campeonato organizado pela CBF, mas que não contou com as principais equipes do país.
Tira teima de tricampeões
Ambos clubes tricampeões brasileiros, SC Internacional e CR Flamengo foram os dois maiores times das décadas de 1970 e 1980, respectivamente, no Brasil. O Inter levantou o Campeonato Brasileiro de 1975, 1976 e 1979 (na foto acima), ambos sob comando do gênio Paulo Roberto Falcão em grande companhia. Já o Flamengo dominou o futebol do Brasil a partir da década seguinte. Sob maestria de Zico com um time inesquecível, o maior da história do clube, foram também três campeonatos brasileiros – 1980, 1982 e 1983.
A trupe Rubro Negra era uma máquina de jogar futebol, e foi a grande inspiração da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1982, considerada uma das maiores seleções de todos os tempos, mas que acabou derrotada pela Itália, em tarde inspirada de Paolo Rossi.
Se a final entre Flamengo e Internacional colocava a frente dos dois maiores times do Brasil das últimas décadas, em campo a situação era diferente. Enquanto o time do Sport Clube Internacional não possui nenhum dos campeões da década passada – pelo menos dentro de campo – no Flamengo a situação era um pouco diferente. Além de Zico, que voltou ao clube em 1985 após rápida passagem pela Itália, na Udinese, também contava com Andrade e Leandro, além de Edinho, ídolo do rival Fluminense, e que foi contratado naquele ano de 1987.
Esta base mais experiente conduzia um time especialmente jovem e muito promissor que chegava da base Rubro Negra. Para se ter uma ideia, quatro daqueles jovens que atuariam na final entre Flamengo e Internacional de 1987 – Zinho, Jorginho, Leonardo e Bebeto, além de Aldair no banco de reservas – seriam, anos mais tarde, em 1994, campeões e titulares na disputa da Copa do Mundo. Ainda vale destacar que, do outro lado, estava o também goleiro titular de 94, Claudio Taffarel.
Confronto entre lendários jogadores!
Enquanto o Internacional vinha com um time mais jovem e menos experiente a grandes decisões, o Flamengo tinha uma mescla de jogadores mais velhos e ídolos, com jovens oriundos da base e muito promissora. Na primeira partida da final em Porto Alegre, no estádio do Beira Rio, Bebeto e Amarildo deixaram tudo igual para quem, na partida de volta vencesse, no Maracanã, se tornaria o campeão. Empate levaria a partida para a prorrogação.
E esse time do Flamengo, campeão da Copa União de 1987, contra o Internacional? Praticamente uma seleção.
Dos 11…
Publicado por Lendas do Futebol em Segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021
O Flamengo entrou em campo com: Zé Carlos; Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo. Andrade, Ailton, Zinho e Zico; Renato Gaúcho e Bebeto. O técnico era Carlinhos.
Já o Internacional foi escalado assim: Taffarel, Luis Carlos Winck, Aloísio, Paulinho e Nenê. Norberto, Luis Fernando e Balaio; Heider, Britez e Amarildo. No comando do time estava Ênio Andrade, técnico campeão brasileiro em 1979 com o próprio Internacional, na campanha que ficaria conhecida como “O Time que Nunca Perdeu“. Além disso, havia conquistado mais dois campeonatos brasileiros nos últimos anos. Com Grêmio (1981) e Coritiba (1985).
Disputa de laterais: Luis Carlos Winck vs Leonardo
90 mil torcedores estavam no Maracanã, mesmo com o Rio de Janeiro envolto em grande chuva desde o dia anterior. E com o decorrer da partida alguns confrontos se mostravam interessantes. Num corredor do campo estava o confronto entre os laterais Luis Carlos Winck e Leonardo. Lateral-direito com excelente carreira profissional, Luis Carlos Winck era, naquele time do Internacional, a principal jogada de ataque com seus cruzamentos precisos. E na partida final não foi diferente.
Durante a carreira teve, inclusive, boa passagem pela seleção brasileira. Ficou somente de fora da Copa do Mundo de 1990 devido a uma fratura na perna. Também pela seleção participou das Olimpíadas de 1984 e 1988, sendo que em ambas ficou com a medalha de prata.
Já Leonardo teve carreira ainda mais destacada, seja atuando na lateral-esquerda, quando foi convocado para a Copa de 1994, como no meio de campo, quanto esteve na de 1998. Na final da Copa União 1987, tinha apenas 18 anos e era o mais jovem em campo.
Um jovem goleiro Claudio Taffarel
Com um time jovem e muito aguerrido, o principal destaque do Internacional estava no gol e com apenas 21 anos. Titular da seleção brasileira nas copas de 1990, 1994 e 1998, Claudio Taffarel se tornou uma das referências de sua geração. E já jovem, no SC Internacional era destaque. Jovem, porém, já transmitia toda tranquilidade para o time, além da apurada técnica tanto que, um ano depois, no Campeonato Brasileiro de 1988, recebeu a Bola de Ouro como o melhor jogador da competição – ainda que o Inter não tenha sido o campeão.
No Bola de Prata de 1987, além de Claudio Taffarel que recebeu prêmio como melhor goleiro da competição, mais três jogadores do Internacional também receberam reconhecido prêmio da Revista Palcar: o já citado Luis Carlos Winck, e também Aloísio e Norberto, zagueiro e volante do time, respectivamente.
Já no Flamengo, apenas dos jogadores entraram no time do campeonato da Bola de Prata: Zico e Renato Gaúcho. Sendo que o segundo também recebeu a Bola de Ouro como o melhor jogador da competição.
Bola de Ouro: Renato Gaúcho homenageia o ídolo Zico
E um dos que corria, e correu muito, naquele campeonato foi o atacante Renato Portaluppi, que mais tarde seria conhecido também como Renato Gaúcho. Chegou ao Flamengo em 1987, após passagem marcante pelo Grêmio, onde inclusive conquistou o Mundo em 1983, aos 21 anos de idade. Agora, com 25, sentia-se desgastado em Porto Alegre e sua ida para o Flamengo, deu a oportunidade de atuar ao lado do ídolo Zico.
“A gente via o sofrimento do Zico. Era o Zico, meu ídolo. Eu chego a ficar arrepiado. A gente via o sofrimento durante a semana e aí chega o dia do jogo, como é que eu não ia correr por ele? Como nós todos não íamos correr por ele? Ele foi fundamental e foi o símbolo daquele título”, relembrou anos mais tarde.
Correu tanto que levou a Bola de Ouro como o melhor jogador da Copa União de 1987. Renato estava no auge de sua vitalidade, em um time perfeito para também fazer ele brilhar. Além de Zico, Zinho e também Bebeto eram jovens com muita fome de bola, que colocavam e deixavam tudo ali, ao longo dos 90 minutos.
Na partida final contra o Internacional, apesar das péssimas condições do gramado, decorrente da chuva intensa, Renato correu, se doou e foi um dos principais nomes daquele time na grande final.
Já o Galinho Zico, após comandar no início da década de 1980 o Brasil, junto a uma estrelado Flamengo, resolveu tentar a sorte na Itália em 1983 para atuar na Udinese, e contra grandes nomes do futebol mundial como Michel Platini, Paulo Roberto Falcão e, mais tarde, Diego Maradona. Apesar de não ter conquistado títulos, logo se tornou ídolo do time italiano, sendo reverenciado até os dias atuais. Em 1985, retorna ao Flamengo, para colocar novamente o clube entre os principais do país. E, em 1987, comandou um jovem time que praticamente corria para ele, que já ele estava com 34 anos e envolto a diversos problemas físicos.
A Crônica de Flamengo x Internacional
Sob grito de “Mennngoooo, Mennngoooo…”, perder aquele título seria um Maracanazo para os torcedores do Flamengo, que abarrotavam o estádio Mário Filho, com mais de 90 mil presentes. Décima quarta partida entre Flamengo e Internacional pelo Campeonato Brasileiro, à época estavam rigorosamente iguais no confronto. Eram quatro vitórias para cada, e mais cinco empates.
Enquanto a jogada aérea era a grande esperança do torcedor Colorado, sempre atento ao atacante Amarildo que vivia ótimo momento, do outro lado estava o time mais técnico do Brasil. O Flamengo era uma seleção. O futebol naquele 1987 era diferente, os maiores craques brasileiros estavam aqui, e dos 11 titulares do Flamengo, dez deles tiveram passagem pela seleção brasileira, sendo que oito deles, em copa do mundo.
Primeiro tempo
O Inter estava totalmente fechado do meio para trás, e pouco a pouco o Flamengo ia conseguindo impor seu jogo de muito toque de bola e velocidade. Tanto que, aos 16 minutos, após abafa no campo de ataque, com Renato Gaúcho e Zinho brigando pela recuperação da bola, rápidos passes encontraram o experiente Andrade que, num toque de classe, deixou o jovem Bebeto, de apenas 23 anos, em ótimas condições para abrir o marcador. 1 a 0 naquele que seria o gol do título.
Segundo o Galinho Zico, que estava em final de carreira naquele ano de 1987, em entrevista anos depois, considera este time de 1987 como o segundo melhor do Flamengo de todos os tempos. Perde apenas para o histórico time de 1981, campeão da Libertadores e do Mundo. E ainda destacou que este, de 1987, atuou muito pouco tempo e partidas juntos.
Se não era um grande jogo, tecnicamente falando, principalmente pelo estado do gramado o Maracanã, pesado, devido a chuva do dia, era uma partida brigada por cada palmo de campo. Ainda assim, o Flamengo conseguia dominar a partida, e dificilmente deixava o Internacional atacar. O grande destaque na primeira etapa, ficou por conta de Andrade, o motor Rubro-Negro que, com a camisa de número 6, iniciava todas as jogadas de ataque do clube Rubro Negro.
Segundo tempo
Na volta para o segundo tempo, o Internacional entrou mais ligado e sabendo que não dava apenas para se defender. Já o Flamengo parecia dar sinais de cansaço, principalmente entre os mais veteranos, casos de Andrade e Zico, motor do time e que correram muito na primeira etapa. Foi ai que apareceu toda a qualidade e maturidade de um time e de jogadores que seriam gigantes em suas carreiras.
E, além dos jovens que apareceram para dar o suporte aos veteranos craques, Andrade estava com 30 anos, a também experiente dupla de zagueiros formada por Leandro (28) e Edinho (32) se mostraram ligados e intransponíveis nas tentativas de ataque do Internacional. Principalmente nas jogadas aéreas, com Amarildo dando trabalho para eles.
Porém, e não a tôa, que o time do Flamengo seria o melhor do Brasil. Nos contra ataques, mostravam ter um acervo gigante de opções. Zinho, Bebeto e Renato Gaúcho davam trabalho ao consistente sistema defensivo do Inter. Aos 8 minutos o Flamengo cria grande chance com Zinho e Renato Gaúcho, em chute do meia esquerda pela rede para fora do gol. Aos 10 minutos, o zagueiro Edinho leva cartão amarelo por falta duríssima em Amarildo.
O campeão é o Flamengo!
A cada minuto que passava a partida ficava mais aberta. Aos 20 minutos da segunda etapa, o jogo fica lá e cá. Em busca do empate, o Internacional deixava muito espaço para o contra ataque Rubro Negro. Zinho era o motor do time na etapa final. Renato Gaúcho, melhor jogador da Copa União, não fazia partida esplendorosa como nas semifinais contra o Atlético/MG, de Telê Santana, dava uma canseira imensa para a zaga Colorada.
O segundo tempo estava mais equilibrado. Ainda assim, o Internacional não conseguia levar grande perigo ao goleiro Zé Carlos. O Flamengo era muito mais perigoso quando se arriscava no ataque.
Última vez que disputou uma final de campeonato nacional no Brasil, se liga na reverência da torcida do Flamengo – e do narrador Galvão Bueno – para Zico, minutos antes do título da Copa União de 1987, contra o SC Internacional. pic.twitter.com/gb84SB3uWu
— Lendas do Futebol (@futebol_lendas) February 18, 2021
Já no final da partida, o mítico treinador do Flamengo, Carlinhos, opta por tirar o Galinho Zico aos 33 minutos, para a entrada de Flávio. Já com 32 anos, Zico jogou as últimas partidas da Copa União no sacrifício, e passaria por nova intervenção no joelho após os confrontos finais. Já consagrado no futebol, sai sob o grito de 90 mil pessoas no Maracanã de “Ei ei ei, Zico é nosso Rei”.
Um título merecido, do melhor time do Brasil, e que revelava uma geração fantástica para o futebol brasileiro.