Galinho Zico faria uma de suas maiores partidas na carreira

No dia 13 de dezembro de 1981, o mundo conhecia uma das maiores equipes de futebol de todos os tempos, o CR Flamengo – campeão da Copa Libertadores e do Mundial Interclubes de 1981. Uma verdadeira seleção que tinha craques como Raul Plasmam, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Andrade, Adílio, Zico, Tita, Nunes e Lico. Naqueles anos, o futebol brasileiro era o centro do mundo, e o Estádio do Maracanã a celebração da festa do futebol.

Naquele glorioso e histórico ano para os Rubro-Negros, após uma violenta final de Copa Libertadores da América, com vitória sobre o Cobreloa e a Ditadura Chilena, o foco se voltou totalmente para a partida contra o forte Liverpool FC, então campeão da Europa e favoritos para a disputa da final no Japão. Com tantos ingredientes para a época, esta final proporcionou uma das partidas mais lembradas desse histórico Flamengo e, também, de Zico, grande orquestrador da Máquina Rubro Negra.

Aqui vamos relembrar grandes momentos da formação desse time do Flamengo e também da conquista do Mundial Interclubes!

Tudo começou com o “Pacto do Barril”

Em 1976, o CR Flamengo havia perdido a final do primeiro turno do Campeonato Carioca para o rival Vasco da Gama, nas penalidades máximas, e que impossibilitou o clube da briga pelo título. Em 1977, o filme parecia se repetir e – já na grande decisão da competição – os rubro-negros foram derrotados mais uma vez para os vascaínos e nas cobranças de pênaltis.

O autor da última cobrança seria o ainda jovem Tita, de 18 anos e que acabara de subir ao profissional do clube, que viu sua cobrança parar nas mãos do icônico goleiro Mazzaropi.

Após a derrota pelo segundo ano consecutivo, o Galinho Zico – que já era o principal protagonista do time – além do lateral Júnior, propuseram junto a comissão técnica, algo inusitado. Como ambos tinham muita moral por conta da já história no clube carioca, crias da base, propuseram ideia de reunir o grupo de jogadores em um famoso restaurante no Rio de Janeiro: o Barril 1800.

E por mais que se especulasse na época, não seria uma reunião “comemorativa” após uma derrota tão dura para o elenco. Não tinha nada de celebração, e sim como um meio de lavar a roupa suja para voltar a motivar um elenco que era visto sim como um promissor time. Aquele episódio ficaria conhecido como o “Pacto do Barril”.

A aurora do Flamengo de 1981: Uma incrível sequência de títulos!

Dez números marcantes do primeiro título brasileiro do Flamengo

Em 1º de junho de 1980, há 40 anos, Rubro-Negro derrotava o Atlético-MG no Maracanã superlotado e conquistava o Campeonato Brasileiro https://t.co/3XV0cGaRsF pic.twitter.com/rRFj8tfnQI

— ge (@geglobo) June 1, 2020

E após passar três temporadas batendo na trave do título carioca, o titulo do Campeonato Carioca no ano de 1978 teria aspectos dramáticos. Novamente contra o arqui-rival do período, o Vasco da Gama do craque Roberto Dinamite, a partida se encaminhava para o empate sem gols, quando ao final da partida, em um escanteio cobrado por Zico, o zagueiro Rondinelli subiria mais que todo mundo para acertar um petardo de cabeça, para ver o Maracanã explodir.

Contudo, aquele seria apenas o primeiro passo de uma trajetória rumo ao mundo e a soberania do futebol brasileiro. Na temporada seguinte voltariam a conquistar o Campeonato Carioca. Mais do que isso, em 1979 o Flamengo conquistaria o título carioca por duas vezes, já que naquele ano a Federação Carioca criou o Campeonato Carioca Especial.

Mas ainda faltava ao time rubro-negro conquistas de maior peso, primeiramente em competições nacionais para colocar o time na história do futebol brasileiro. E tal conquista veio em 1980 com o título do Campeonato Brasileiro, quando os rubro-negros desbancaram o forte Atlético Mineiro, de craques como Toninho Cerezo e Reinaldo. Após este importante passo, o Mais Querido do Brasil estava pronto para ir em busca da conquista da América.

Jogadores chegam para encorpar o time rubro-negro

Quando faturou o título carioca de 1978, o CR Flamengo já contava com uma base forte que tinha, entre outros, o Galinho Zico, Adílio, Paulo Cesar Carpegiani, Cláudio Adão, Júnior. Naquele ano, os rubro-negros também contavam com o treinador Claudio Coutinho, que havia deixado a seleção brasileira após o fiasco na Copa do Mundo de 1978, na Argentina.

O firme e disciplinador Claudio Coutinho seria essencial para a montagem deste forte Flamengo que se avizinhava, e com o passar dos anos passou a contar com outras peças fundamentais. Foi Zico, então capitão da equipe, que enxergava a necessidade do time da Gávea ter mais jogadores caso quisesse ir em busca de maiores conquistas..

A partir de 1978, pouco depois da conquista do estadual, o jovem lateral-direito Leandro seria esta primeira grande peça. Andrade seria a segunda ao retornar para o clube em 1979, após ter sido revelado pelas categorias de base do Flamengo em 1976. Outras duas peças que seriam mais do que importantes na história do Flamengo, Nunes e Lico chegaram praticamente como as cerejas do bolo e já em 1980, às vésperas do grande ano.

Por fim, o comando técnico também sofreria mudanças, e PC Carpegiani iria passar de meio-campista para treinador no ano de 1981, após surpreendente pedido de saída de Claudio Coutinho e breve passagem do lendário Dino Sani.

Flamengo conquista a Copa Libertadores de 1981

Zico. Flamengo – Cobreloa. Final Copa Libertadores. 1981. pic.twitter.com/5Y6zePzOnk

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Com o título do Campeonato Brasileiro de 1980 em mãos, o time do Flamengo se sentia muito mais fortalecido para ir em busca de novas conquistas a nivel continental e mundial. E o primeiro objetivo daquele ano de 1981 seria conquistar o continente, através da Copa Libertadores da América. Na fase de Grupos a equipe rubro-negra teria pela frente o Cerro Porteño e o Olímpia, ambos do Paraguai, além do brasileiro Atlético Mineiro, que naquele período era o principal rival do time carioca.

Inclusive, seria contra os atleticanos que o Flamengo protagonizaria um dos jogos mais estranhos na história do futebol brasileiro. Para ver quem ficaria com a primeira colocação do grupo, e consequentemente a classificação, as duas equipes empataram em 0 a 0, mas por conta das diversas expulsões dos jogadores do Atlético Mineiro, os rubro-negros venceram por W.O.

Decisão frente à forte repressão chilena

Na segunda fase de grupos, os flamenguistas passaram por Deportivo Cali/COL e Jorge Willstermann/BOL, para chegar à grande final da Copa Libertadores da América de 1981. E na decisão o Flamengo teria pela frente não somente o Cobreloa/CHI, mas uma forte repressão que o país vivia sob Ditadura de Pinochet.

No primeiro jogo da decisão contra o Cobreloa, no Estádio do Maracanã, deu Flamengo pelo placar de 2 a 1, com os dois gols de Zico. A volta seria no Estádio Nacional do Chile, sob muitas agressões e pressão para cima dos flamenguistas, que terminou com a vitória dos chilenos por 1 a 0. Com cada time com uma vitória, a terceira e decisiva partida seria disputada no Estádio Centenário de Montevidéu, um campo neutro.

E com mais dois gols do Galinho Zico, os flamenguistas conquistaram pela primeira vez a América após vitória por 2 a 0.

As vésperas do Mundial, morre Claudio Coutinho!

Hoje, 40 anos da morte de Cláudio Coutinho pic.twitter.com/ZbCoTxylDv

— Gustavo de Almeida (@gustones) November 27, 2021

E quando o Flamengo estava prestes a disputar o Mundial Interclubes de 1981 – também prestes a vencer o Campeonato Carioca – uma dura notícia abalaria o elenco flamenguista. Primeiro técnico dessa reconstrução, e muito próximo dos jogadores, Claudio Coutinho faleceria em novembro daquele ano, após se afogar em mais um de seus mergulhos próximo à praia de Copacabana.

A nação rubro-negra ficou em luto, os jogadores ficaram abalados, tanto é que só não perderam o título do Campeonato Carioca para o Vasco da Gama, pois na primeira partida já haviam construído uma ampla vantagem para o jogo final. Após essa baixa, uma dúvida ficava no ar: será que a morte de Claudio Coutinho teria impacto na briga pelo título mundial do Flamengo?

Na viajem para o Japão, pegadinha com o atacante Peu!

Prestes a embarcar para o Japão, palco da decisão do Mundial de Clubes, uma história no mínimo inusitada e sempre lembrada pelo elenco Rubro Negro aconteceu com o atacante reserva Peu. Durante a viajem rumo ao Japão, alguns jogadores como Júnior e Zico viram que a foto do passaporte de Peu estava sem o bigode que ele cultivava naquela época.

Os craques rubro-negro não aliviaram. Na ingenuidade de Peu naquela época, falaram que ele só conseguiria entrar no Japão se a foto estivesse com a aparência dele naquele momento. Peu não pensou duas vezes antes de entrar no banheiro e, sabe-se lá como, arrancar o bigode do rosto. Quando saiu não teve dúvidas em exclamar “Não é um bigode que não vai me deixar entrar no Japão”. A gargalhada foi geral com a brincadeira.

Após desembarque, o clima era de pura festa por parte dos jogadores do Flamengo, que aos batuques de um bom samba tentavam animar um pouco mais a terra do sol nascente. Por parte dos ingleses o clima era de otimismo, ainda mais depois de ver o franzino e mais frágil fisicamente elenco flamenguista.

Flamengo x Liverpool: Zico e Nunes acabam com o jogo ainda no 1º Tempo

Ao subestimarem o time do Flamengo, os jogadores do Liverpool FC cometeram um grave erro. Os ingleses que contavam com a estrela Kenny Dalglish, acreditavam que a única arma da equipe rubro-negra seriam as cobranças de falta do Galinho Zico, e isso custaria muito caro ao campeão europeu.

Inteligente, Zico recuaria um pouco mais em relação à posição que costumava atuar para ter vantagem frente a uma linha defensiva e de impedimentos que atuavam um pouco mais adiantada. Numa parceria e entendimento das melhores duplas, logo aos 13 minutos Zico encontraria Nunes, que tocaria na saída goleiro Grobbelaar. Aos 34, foi a vez de Adílio se consagrar. Após cobrança de falta do Galinho, o arqueiro dos Reeds deu rebote e o médio volante ampliou.

Já no finalzinho da primeira etapa ainda daria tempo de Nunes anotar o terceiro gol do Flamengo,após mais um lançamento preciso do capitão Rubro-Negro. Seria a consagração mundial do Flamengo e do gênio Zico.

CR Flamengo sagra-se campeão do Mundo!

Flamengo Campeão Mundial 1981 pic.twitter.com/oPHf1YTUdQ

— Moisés Paulo (@Moisespaulo_) January 17, 2019

Com o placar de 3 a 0 na conta, o CR Flamengo só administraria o resultado na segunda etapa para sagrar-se campeão do Mundo. Apáticos, os ingleses nada podiam fazer para reverter a situação do jogo, e o máximo que eles conseguiram fazer foi admirar um jogo de futebol que eles não conseguiam reproduzir. Era o verdadeiro futebol brasileiro em ação para eles e para o mundo.

No estádio Nacional de Tóquio o que imperava eram as bandeiras rubro-negras, que se tornaram ainda mais vivas no Brasil  com a volta dos heróis Rubro-Negros. O Flamengo era campeão mundial!

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