Em 1976, o Cruzeiro teve a sua chance de conquistar o mundo!
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Mundial de Clubes de 1976 recebe Cruzeiro e Bayern Munich
Na partida de ida, disputada em um campo coberto de neve, o Cruzeiro sucumbiu diante do talento de Gerd Muller e da eficiência alemã e perdeu por 2 a 0. No jogo de volta em um Mineirão tomado por mais de 100 mil pessoas, um empate sem gols frustrava a torcida ali presente.
Com a conquista da Copa Libertadores da América em 1976, o Cruzeiro se classificou para a disputa do Mundial Interclubes, contra o Bayern de Munique, da Alemanha. Os bávaros eram base da seleção alemã, campeã do mundo em 1974 e de quebra vinham de um tricampeonato europeu.
O formato de disputa consistia na realização de duas partidas. A primeira seria realizada em Munique, no Estádio Olímpico, e a segunda em Belo Horizonte, no Estádio do Mineirão.
O Brasil voltava a disputa 13 anos após o Santos de Pelé faturar o bicampeonato mundial e o Cruzeiro fazia a sua primeira tentativa pelo título intercontinental. O Bayern de Munique por sua vez, apesar de contar com três conquistas de Liga dos Campeões, pela primeira vez participava de uma disputa de Mundial.
O tamanho do desafio
Visitas memorables: En 1976, el @FCBayernES viajó hasta 🇧🇷 para ser Campeón Intercontinental 🏆 en el Mineirao. 👉https://t.co/Ax1XSthket pic.twitter.com/9BeE05lT2z
— Bundesliga Español (@Bundesliga_ES) February 13, 2017
O desafio não seria fácil, afinal o Bayern de Munique, vivia o seu auge e era a equipe dominante na Europa. Este grande time era a base da seleção alemã que havia conquistado a Copa do Mundo em 1974.
A começar pela meta, cujo o dono era a lenda Sepp Mayer, que participou de quatro Copas do Mundo defendendo a seleção da Alemanha. Ele que dedicou a sua carreira inteira como profissional ao Bayer de Munique.
Franz Beckenbauer, talvez o maior nome do futebol alemão de todos os tempos, era muito mais do que um líbero. Ele exercia uma liderança natural pelo clube e pela seleção, e era capaz de atuar tanto na zaga, quanto no meio, como volante e até como meia. Era um jogador preciso nos desarmes e grande qualidade nos passes curtos e longos.
No meio de campo e no ataque outros nomes de grande expressão. Como por exemplo, Uli Hoeneß e Karl-Heinz Rummenigge que também fizeram história pelo clube e pela seleção.
E mais a frente, Gerd Müller, um dos maiores centroavantes de todos os tempos do futebol mundial e dono de várias marcas que levaram décadas para serem quebrados, como o recorde de gols em uma única temporada na Bundelisga quebrado recentemente por Robert Lewandowski e o recorde de gols em Copas do Mundo, superado inicialmente por Ronaldo em 2006 e depois por Miroslav Klose.
Tricampeão europeu, mas estreante em Mundiais
O Bayern de Munique havia conquistado a Liga dos Campeões pela primeira vez na temporada de 1973-74, e portanto estava qualificado para enfrentar o Independiente, da Argentina, na final da Copa Intercontinental de 1974. Porém, a equipe se recusou a participar do torneio, e o Atlético de Madrid-ESP, vice-campeão daquela edição o substituiu na disputa. Até por isso, o colchonero se tornou o primeiro time campeão mundial sem ter vencido a Liga dos Campeões ou a Libertadores .
Na temporada seguinte, o time alemão mais uma vez conquistou o torneio europeu e novamente não aceitou participar da disputa intercontinental. O presidente do clube na época, declarou que não era financeiramente interessante a disputa contra o Independiente. Tudo por conta dos custos das viagens, até por isso, o mandatário defendia um duelo contra o Dínamo de Kiev, vencedor da Recopa Europeia. O Leeds United vice-campeão europeu naquele ano, foi impedido de disputar a competição devido a uma punição imposta pela UEFA, devido a atos de vandalismo de sua torcida naquela final.
Após a terceira conquista da Liga dos Campeões, diante do Saint-Étienne-FRA, o Bayern, enfim aceitaria o duelo contra o campeão sul-americano, que na ocaisão seria o Cruzeiro. Jornais da época, indicam que o fato de ser um time brasileiro na disputa, animou um pouco os alemães, que praticavam um futebol mais técnico, diferente da violência praticada pelo futebol argentino, que teria sido um dos motivos das recusas anteriores.
Cruzeiro derrotado no gelo
Tal día como hoy en 1976 el Bayern ganaba al Cruzeiro 2-0 en un Olímpico de Múnich nevado en la ida de la final de la Copa Intercontinental. pic.twitter.com/KjpxoWK3Ft
— Falso 9 (@falso9web) November 23, 2016
Na noite do dia 23 de novembro de 1976, fazia muito frio em Munique. Com gramado coberto de neve e a temperatura abaixo dos zero graus, os jogadores do Cruzeiro em sua maioria, foram a campo utilizando luvas enquanto. Para se ter uma ideia, o goleiro Raul jogou a partida com uma espécie de macacão.
Apenas 18 mil torcedores estiveram presentes no Estádio Olímpico de Munique, palco da primeira partida da decisão, que não foi televisionada devido ao desinteresse das emissoras alemãs.
A partida começou com o Bayer de Munique propondo o jogo e o Cruzeiro com uma postura mais defensiva, apostando nos contra-ataques. O primeiro tempo acabou sem que uma das equipes conseguisse tirar o zero do placar, entretanto o Bayern chegou ao menos 5 vezes ao gol de Raul, que precisou fazer duas grandes defesas para levar o empate sem gols para o intervalo.
No segundo tempo, a equipe mineira, apresentou uma ligeira melhora, conseguindo ganhar terreno no meio de campo e criando oportunidades de gols. A melhor delas surgiu em um lance de contra-ataque em que a bola sobrou para Palhinha que ficou cara a cara com o goleiro, mas chutou raspando a trave.
Mas no momento em que o Cruzeiro parecia seguro do resultado, faltando apenas 10 minutos para acabar, bastou um momento de desatenção da zaga cruzeirense para o Bayern abrir o placar. O lateral sueco Andersson cruzou na área, Vanderlei tentando antecipar acabou escorregou e Gerd Müller não perdoou, fazendo um a zero para os bávaros. Mal deu tempo para a equipe mineira reagir e dois minutos depois Rummenigge fez boa jogada pela esquerda e tocou a bola para Kapellman, que livre de marcação, finalizou no canto do goleiro Raul, fechando o placar em 2 a 0 para o time alemão.
Mais de 100 mil no Mineirão
Em dezembro 1976 fui ao Mineirão com meu pai José p/ ver Cruzeiro X Bayern Munich (2º jogo Mundial Interc.); demais! pic.twitter.com/0FE7zK2vgR
— José Luís Cantanhêde (@ovalazul) January 12, 2015
Depois da derrota na Alemanha, o Cruzeiro tinha a difícil tarefa de vencer a partida por 2 dois gols de diferença para forçar a prorrogação. Mas a torcida celeste estava confiante e compareceu em peso no Mineirão. Mais de 113 mil torcedores lotaram o Gigante da Pampulha na esperança da equipe reverter o placar da primeira partida realizada cerca de um mês antes.
E o Cruzeiro começou o jogo com mais atitude, marcando em cima, buscando controlar o jogo no meio de campo, mas sem ser muito efetivo no ataque. Palhinha teve uma boa oportunidade, depois de uma jogada em que Joãozinho escorregou. Zé Carlos ao tentar corrigir, tocou e a bola bateu em dois defensores do Bayern antes de sobrar para Palhinha que chutou forte pra fora.
O time alemão respondeu com Torstensson, que livre de marcação, também mandou por cima do gol, aos 17 minutos de jogo. Com apenas 22 minutos de bola rolando, o Cruzeiro perderia o seu capitão contundido. O volante Piazza deu lugar a Eduardo, que jogava mais avançado e fez com que o Cruzeiro ameaçasse mais o gol de Maier.
Aos 32, Nelinho teve uma chance cobrando uma falta de longe, mas Maier defendeu bem, encaixando a bola, sem chances de rebote. Ainda no primeiro tempo, Eduardo fez uma grande jogada deixando Schwarzenbeck pra trás e levantou na área para Jairzinho cabecear com perigo, obrigando Sepp Maier a fazer grande defesa e garantir o empate sem gols na etapa inicial.
Bayern Campeão
Na volta do intervalo o Cruzeiro ensaiou uma pressão inicial nos primeiros vinte minutos, mas era o time alemão que levava perigo.
Em uma delas Müller arrancou pela direita e chutou para defesa parcial de Raul, que deu rebote. Na sobra o lateral Pablo Forlán escorregou e a bola ficou com o Bayern novamente. A jogada prossegue e a bola sobra para Müller, dessa vez cara a cara com Raul, que faz grande defesa. A zaga cruzeirense afasta como pode e mais uma vez a posse de bola retorna ao time alemão, que finaliza com Horsman, dessa vez sem grande perigo.
O Cruzeiro chegou com Eduardo, que arriscou o chute próximo à entrada da grande área e Maier se esticou todo para evitar o gol cruzeirense. Depois foi a vez de Jairzinho parar no goleiro alemão, em um chute cara a cara.
O Bayern começava então, a achar cada vez mais espaços e chegava com perigo obrigando Raul a praticar várias defesas. O Cruzeiro já desorganizado em campo, não conseguia mais chegar com perigo ao gol de Maier que não sofreu gols em nenhuma das duas partidas.
Com o empate sem gols, a equipe alemã conquistava o seu primeiro de seus quatro títulos mundiais.
Queda de rendimento
Desde a conquista da Libertadores, o Cruzeiro não obteve bons resultados. Embora tenha tido um saldo positivo em sua excursão pela Europa, com 5 vitórias, 2 empates e 2 derrotas, em amistosos disputados logo após ao término do torneio continental, a participação no campeonato brasileiro foi decepcionante.
Com a eliminação precoce, o time mineiro teve que preencher o calendário com amistosos até o duelo contra o Bayern. O time também teve que conviver com muitas lesões, o que fez com que a equipe perdesse competitividade e fosse presa fácil para os alemães. E para encerrar o ano, o Cruzeiro perderia a final do campeonato mineiro em dois jogos para o rival Atlético.
Já o Bayer de Munique que vinha de um tricampeonato europeu, viria o domínio local passar para as mãos do Borussia Mönchengladbach. O inclusive, esse novos rivais dos bávaros ainda conquistariam a Bundelisga na temporada 1976/77, o terceiro campeonato alemão seguido.
Anos depois, o Cruzeiro teria uma nova oportunidade de título em 1997, mas perdeu a decisão do Mundial em Tóquio, para o também alemão, Borussia Dortmund.