Como foi a formação da seleção brasileira para o Mundial de 1990?
Índice
- 1 No Brasil, o início do famoso “futebol moderno”
- 2 Sob desconfiança, Sebastião Lazaroni chega à seleção brasileira
- 3 O fatídico Torneio da Dinamarca e o início do 3-5-2
- 4 No Brasil, conquista a Copa América de 1989
- 5 Campanha nas Eliminatórias para a Copa de 1990
- 6 Seleção convocada e a ausência de Neto
- 7 Crise com patrocinador e racha no grupo
- 8 Copa do Mundo 1990: Que Venga Maradona!
No Brasil, o início do famoso “futebol moderno”
Ás vésperas da Copa do Mundo de 1990, a seleção brasileira já amargava um período de 20 anos sem conquistar um título oficial sequer. A última Copa havia sido conquistada em 1970, sendo que a última Copa América em tempo ainda mais longevos: em 1949. Por conta disso, o clima dentro da seleção era de intensa pressão, ainda mais quando se via um nova safra surgindo, ainda sem a total confiança dos torcedores.
Naquele período o país ainda realizava a sua primeira eleição direta para presidente da República após o regime de Ditadura Militar, e o discurso “moderno”, trazido pelo eleito Fernando Collor de Mello, marcando o início do neoliberalismo no país, também influenciaria dentro dos corredores da CBF, já presidida por Ricardo Teixeira.
Junto de tudo isso, também seria um período que os jogadores brasileiros passariam a ir atuar no futebol da Europa cada vez mais cedo, com o futebol dando passos – ainda pequenos – em uma globalização, também focada em questões táticas e físicas. E seria em uma destas evoluções que a seleção brasileira daquela Copa do Mundo ficaria lembrada.
Tentando se igualar no plano tático as seleções européias, após tomar um chocalhão em torneio amistoso na Dinamarca, a seleção símbolo do futebol ofensivo seria colocada para atuar num desconhecido esquema tático: o tal do 3-5-2. Uma nova era se iniciava, e nela ficaria marcada para sempre por um nome e sobrenome: Sebastião Lazaroni.
Sob desconfiança, Sebastião Lazaroni chega à seleção brasileira
Sebastião Lazaroni chegou à seleção brasileira no ano de 1989, após a saída de Carlos Alberto Silva, então treinador do escrete brasileiro, que havia se notabilizado no futebol principalmente por conta da conquista do título brasileiro de 1978, com o Guarani.
Ainda desconhecido pelo grande público, Lazaroni chegou à seleção sob desconfiança. Seu currículo como treinador não era dos melhores, porém, contava com um tricampeonato carioca conquistado em suas passagens por Flamengo e CR Vasco da Gama, entre os anos de 1986 e 1988. Depois desses dois clubes, o treinador ainda passou pelo mundo árabe, além de Grêmio e Paraná, sem sucesso.
Com muita relação no futebol carioca e, principalmente, no Vasco da Gama, Lazaroni tinha um padrinho forte para indicar seu nome para o cargo de técnico na seleção: Eurico Miranda. Então vice-presidente do Vasco, e amigo pessoal de Lazaroni, Eurico tinha acabado de conseguir um cargo de diretor na CBF pela sua proximidade com o presidente Ricardo Teixeira, que havia sido recém-eleito da entidade máxima do futebol brasileiro.
O fatídico Torneio da Dinamarca e o início do 3-5-2
Em 1989, no Torneio da Dinamarca, com uma seleção alternativa, o Brasil foi goleado por incríveis 4 a 0 para o time da casa, com um show de #MichaelLaudrup.
Lances de M. Laudrup contra o Brasil: https://t.co/5Pg7lwzIGw pic.twitter.com/X8rwcORfCk
— Lendas do Futebol (@futebol_lendas) October 12, 2021
Às vésperas da década de 1990, ainda não existia as “Data FIFA”, sendo que os clubes não eram obrigados a ceder seus jogadores para as seleções. Por isso, para o Torneio da Dinamarca, competição amistosa que teria, além das presenças de Dinamarca e Brasil, também a Suécia.
E para esta competição, Sebastião Lazaroni não pôde contar com os seus melhores jogadores e levou uma equipe alternativa e pouco confiante. O resultado disso seria um vexame imenso da seleção brasileira, com uma derrota estrondosa para os donos da casa por 4 a 0, com um show do craque Michael Laudrup, além de 2 a 1 para os suecos.
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Contudo, e sendo massacrado por escolas totalmente diferentes daquelas que conhecia, seria no Torneio da Dinamarca que Lazaroni tiraria a ideia de utilizar um novo esquema tático na seleção brasileira. Com objetivo de melhorar a efetividade defensiva do time, com maior segurança, nasceria pela primeira vez o 3-5-2 na então seleção referência de um futebol ofensivo em todo o mundo.
De acordo com o técnico, com esta mudança a equipe teria maior liberdade para atacar, principalmente pelas laterais, que poderiam subir ao ataque sem grandes preocupações defensivas.
No Brasil, conquista a Copa América de 1989
Já com os principais jogadores para convocar à sua disposição, Sebastião Lazaroni colocaria pela primeira vez o esquema 3-5-2 na Copa América de 1989, que seria disputada no Brasil. E aquela competição, mesmo com o título do Brasil após 40 anos, seria conturbado. Já no início da competição, disputado em vários estádios e estados pelo Brasil, a seleção brasileira teria pela frente a Venezuela, em partida que seria realizada na Arena da Fonte Nova, na Bahia.
Para piorar, a torcida baiana, pistola da vida com o técnico por ele não convocar o então atacante e ídolo Charles – campeão brasileiro pelo EC Bahia em 1988 – deixou um clima não muito amigável. Era um clima de protesto para cima da seleção e do técnico. Entre os atos, torcedores queimaram uma bandeira brasileira nas arquibancadas e ainda jogaram um ovo na cabeça do atacante Renato Gaúcho.
Dentro de campo, sob um gramado muito ruim por conta da chuva, o Brasil venceu pelo placar de 3 a 1, mas sem jogar um futebol convincente. Na sequência, ainda na fase de grupos, a seleção brasileira empatou com Peru e Colômbia pelo placar de 0 a 0, o que aumentou ainda mais a pressão para cima da comissão e seus jogadores.
Início da dupla Bebeto e Romário
Enquanto os gritos nos estádios brasileiros eram pela saída de Sebastião Lazaroni, uma dupla passaria a brilhar com a amarelinha: Bebeto e Romário. No momento que o titular Careca não reunia condições físicas de estar em campo, a estrela daquela que seria uma das grandes duplas na história do futebol, começaria a brilhar ainda na fase de grupos da Copa América 1989. Diante do Paraguai, vitória brasileira com Bebeto marcando duas vezes.
Classificado, o Brasil ingressou para a segunda fase de grupos da competição, com sua dupla de atacantes sendo o ponto positivo daquele período. Ambos os jogadores foram autores dos gols da vitória brasileira por 2 a 0, diante da Argentina, com direito a uma bela caneta de Romário para cima do Deus Maradona. Em seguida, mais dois gols de Bebeto, e outro de Romário, em vitória por 3 a 0 sobre a seleção paraguaia.
Na partida final, que decidiria quem seria o campeão, Brasil e Uruguai fizeram uma das partidas mais lembradas daquele período. Como uma final, quem deixaria o dele, o gol do título, seria Romário, para cima de uma de suas vítimas preferidas vestindo a camisa da seleção. Vitória por um a zero, e o título da Copa América após 40 anos.
Campanha nas Eliminatórias para a Copa de 1990
Mesmo com o título da Copa América de 1989, a desconfiança ainda pairava sobre o escrete brasileiro. E foi dessa forma que o Brasil estreou nas Eliminatórias para a Copa do Mundo, diante da fraca Venezuela.
E o principal motivo da pressão era sobre a discutível maneira que a seleção de Sebastião Lazaroni atuava, longe do estilo ofensivo e mágico que caracterizou a seleção naqueles anos, principalmente com a memória do encantado futebol de 1982. E além da torcida, parte da imprensa pedia clamorosamente para que Lazaroni pelo menos experimentasse um esquema com três atacantes – situação que ele atenderia.
Diante da Venezuela, a seleção brasileira iria para campo com Romário, Bebeto e Careca no trio de ataque. Contudo, aquela formação não funcionaria como todos imaginavam e, mesmo diante de um frágil adversário, os três atacantes não conseguiram criar grandes lances de gols. Para a segunda etapa, Careca seria sacrificado pelo meia Silas, e o resultado disso foi um 4 a 0 para o escrete canarinho.
O Maracanazo chileno
Roberto Rojas abre o jogo e revela a consequência pela farsa no Maracanã https://t.co/qi9d1BLedv pic.twitter.com/WbeJlfXYr2
— São Paulo – LANCE! (de 🏠) (@lance_saopaulo) April 22, 2020
Após recuar nas suas idéias, em relação ao esquema tático, Sebastião Lazaroni seria taxado mais uma vez como um treinador retranqueiro. E foi com essa fama que ele prepararia seleção brasileira para duas batalhas importantes contra o Chile, pelas eliminatórias.
Em Santiago, e sob muita pressão por parte dos torcedores chilenos, que chegaram a atirar pedras nos jogadores brasileiros já na entrada do hotel, o Brasil empatou em 1 a 1. Dentro de campo, o que se viu foi uma verdadeira guerra, com direito a uma mordida em Romário que resultaria em uma agressão do Baixinho contra um jogador chileno. O atacante brasileiro seria expulso, e isso no minutos iniciais da partida.
Na partida da volta no Estádio do Maracanã, e com o Brasil precisando da vitória para se qualificar para o Mundial, ainda mais confusão pelo lado chileno. Em complicada partida, a seleção brasileira vencia por 1 a 0, até os 24 minutos do primeiro tempo, quando um sinalizador foi atirado em campo. Naquele instante todos olharam e viram o goleiro chileno Roberto Rojas estirado no chão com o rosto sangrando.
Porém, aquela seria uma das maiores farsas já que o arqueiro entrou com uma lâmina dentro da própria luva e – com o sinalizador caindo perto dele – utilizou daquele momento para fazer um corte no próprio supercílio. Contudo, tal farsa não deu certo e, com a vitória da seleção brasileira estava garantida em meio a muita confusão, a vaga para a Copa do Mundo de 1990, que seria disputada na Itália.
Seleção convocada e a ausência de Neto
Em março de 1990, meses antes do início da Copa do Mundo, Romário romperia o tornozelo enquanto atuava com a camisa do PSV Eindhoven. Com o baixinho machucado, muitos ficaram na expectativa sobre a sua não convocação.
Porém, o técnico Lazaroni decidiu manter Romário na convocação, sendo que para aquele Mundial o atacante não conseguiria se recuperar e atuaria apenas 45 minutos na competição. E um dos jogadores que ficaram de fora da convocação final foi o meia-atacante Neto, que à época ainda não havia conquistado o título brasileiro pelo SC Corinthians – feito que realizaria apenas no final do ano. O meio-campista corintiano era um dos nomes lembrados e pedidos pela imprensa naquele período.
Dentre os 22 nomes convocados, os principais destaques eram: Claudio Taffarel, Mauro Galvão, Mozer, Ricardo Gomes, Dunga, Alemão, Jorginho, Branco, Valdo, Careca, Muller, Silas, Bebeto, Aldair, Renato Gaúcho e o próprio Romário. Outro nome contestado na convocação seria do jovem Bismark, meia atacante do Vasco da Gama. Por isso, uma das perguntas que mais Sebastião Lazaroni tem que escutar desde aquele Mundial é: Neto merecia a convocação?
Crise com patrocinador e racha no grupo
Ao ser eleito presidente da CBF, Ricardo Teixeira se utilizou do populismo para conquistar a eleição do seu primeiro mandato. Ele havia prometido para as Federações Estaduais uma quantia de 1 milhão de dólares, para ser dividido entre elas. Porém, naquele presente momento, a CBF estava sem dinheiro e Teixeira buscava patrocínios para cumprir a promessa.
Com a seleção brasileira já classificada para o Mundial de 1990, muitas empresas surgiram interessadas em patrocinar o escrete canarinho. Vale destacar o tamanho da abismo do que conhecemos nos dias atuais sobre gestão e valores de patrocínio, naquele momento tudo ainda estava em seu início. Ainda assim, as grandes empresas já sabiam da importância e do tamanho da marca da camisa amarelinha. A marca de refrigerantes Pepsi foi quem ofereceu a melhor proposta, e com isso se tornou uma das principais patrocinadoras do time brasileiro naquele período.
Jogadores se rebelam por falta de transparência
Porém, mesmo com um patrocínio que parecia promissor, começariam as primeiras polêmicas acerca do mandato de Ricardo Teixeira. Nos contratos com os jogadores, estava previsto que os atletas receberiam 20% em relação ao valor total do patrocínio. Porém, não foi isso que aconteceu, faltou uma certa transparência e, quando os atletas descobriram, se rebelaram. Um momento icônico daquele período seria quando, ao tirarem a foto oficial para a Copa de 1990, já às vésperas do mundial, em um dos cliques eles colocaram a mão no peito tapando o logo do patrocinador.
Naquele período a foto vazou e geraria muita polêmica. Porém, e logo em seguida, os jogadores receberam o seu devido valor, mas a crise já estava instalada dentro do grupo, seja com a figura de Ricardo Teixeira, até mesmo junto a figura do técnico Sebastião Lazaroni. Para piorar, os próprios atletas sequer se entendiam sobre a divisão de prêmios futuramente recebidos. Era o início de um racha.
Seleção dá vexame em amistoso contra a modesta Umbria
No dia 28 de maio de 1990, 13 dias antes da estreia do Brasil na Copa do Mundo de 1990, a seleção brasileira encarou o modesto combinado da Umbria, região no interior da Itália, e que contava com jogadores da 4º divisão nacional. Porém, aquele que era para ser apenas um amistoso preparatório para o mundial, se tornou mais um pesadelo para comissão técnica e jogadores.
E além de terem entrado apenas para um jogo-treino, muitos se poupando para não ter contusão, o escrete brasileiro perdeu pelo placar de 1 a 0, com um futebol que novamente geraria críticas e desconfianças. O Brasil chegava muito pressionado para aquela Copa do Mundo.
Copa do Mundo 1990: Que Venga Maradona!
O dia em que Maradona eliminou o Brasil na copa de 1990 e comemorou a vitória com a camisa da nossa seleção.
Descanse em paz, gênio. O futebol hoje chora. pic.twitter.com/ELzMDj1rNW
— Brasileiríssimos (@brsileirissimos) November 25, 2020
E mesmo sob muita pressão e contestação, a seleção brasileira entrou naquele Mundial de 1990 com o que tinha de melhor de acordo com as ideias de Sebastião Lazaroni – apenas com o baixinho Romário se encontrava baleado e fazendo de tudo para se recuperar. Mas sua Copa seria realmente a de quatro anos depois, quando colocaria um fim aos fantasmas da Era Dunga.
Com um estilo de jogo mais conservador, apostando no esquema 3-5-3, ainda assim o Brasil obteve os resultados necessários para se classificar em primeiro lugar de seu grupo, que ainda tinha Suécia (2×1), Costa Rica (1×0) e Escócia (1×0). Porém, as atuações não agradavam. Com a classificação, a seleção brasileira teria pela frente nada menos do que a atual campeã do mundo, a Argentina do gênio Don Diego Maradona. Os jornais brasileiros colocavam fogo na disputa: “Que Venga Maradona!”.
O craque argentino não era o mesmo de quatro anos antes, a Argentina não fazia um bom mundial, mas naquela que seria a melhor partida do selecionado brasileiro, com muitas chances e algumas bolas na trave, Maradona surgiu em um lance para deixar Claudio Cannigia na cara do gol. A derrota por 1 a 0 para os eu maior rival, colocou fim a qualquer pretensão daquela seleção de Sebastião Lazaroni que ficaria marcada por muitos fatos negativos.
Ainda assim, ali estava um base de jogadores que seriam essenciais quatro anos depois, na Copa do Mundo de 1994, nos EUA, onde finalmente o Brasil conquistaria o sonhado tetracampeonato mundial.
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