Bahia 1959: O Campeão do Brasil!
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Tricolor de Aço ganhou o primeiro torneio nacional
No final da década de 1950, o Santos Futebol Clube sob a figura de um ainda jovem Pelé, daria início a uma hegemonia no futebol brasileiro que somente não seria maior por conta de outros grandes times daquele período. E ainda que o time da baixada santista fosse uma das principais equipes não somente do Brasil, com do mundo naquele ano de 1959, seria o EC Bahia a equipe que venceria a Taça Brasil, o primeiro campeonato nacional disputado no país.
Ao vencer a competição, o Tricolor de Aço também teria a honra de ser a primeira equipe brasileira na história a disputar uma Copa Libertadores da América, que teria a sua primeira edição um ano depois, em 1960.
O time do Nordeste brasileiro, quase 30 anos depois, ainda conquistaria o seu segundo título brasileiro, em 1988, mas já em outra circunstância e em outro formato de competição. Mas aqui, vamos relembrar essa importante e histórica conquista do Tricolor Baiano na temporada de 1959!
A formação do EC Bahia 1959
Elenco do Bahia campeão da taça Brasil 1959.
Jogo decisivo
Bahia 3 x 1 Santos
Estádio do Maracanã, Rio de Janeiro
Público: 20.000 pagantes pic.twitter.com/HJsdOTyrGq— Gabriel (@gabrielrubis17) October 18, 2021
O Esporte Clube Bahia é daqueles times que já nasceu gigante dentro de seu próprio estado. Até porque, desde sua fundação, no ano de 1931, o clube já montava projetos grandiosos, pensando na conquistas de títulos e melhorarias em sua estrutura. Nessa caminhada, em 1951, o Tricolor de Aço inaugurou o estádio Octavio Mangabeira, mais conhecida como a Fonte Nova, um dos principais estádios do Brasil.
E seria justamente neste período que o clube se tornaria hegemônico em sua região, superando o seu principal rival desde sempre, o Vitória/BA, nos primórdios do clássico BAVI. Contudo, toda essa hegemonia jamais seria possível se não fosse um planejamento já diferenciado do clube em relação a novas contratações.
Ídolos chegariam ao clube
A primeira das contratações que fariam parte do inesquecível Bahia 1959 seria a de Marito, mais conhecido como o “Garrincha da Bahia”, ponta-direita que chegou do Ypiranga/BA, ainda em 1953. Três anos depois, em 1956, chegaram o zagueiro Vicente Arenari, além de Leone, considerado o maior lateral-direito da história do Tricolor de Aço, e um dos grandes ídolos do Bahia. No ano seguinte chegou zagueiro Henrique e o ponta-esquerda Biriba.
Para completar a base daquele time que consagraria o clube baiano na história do futebol brasileiro, em 1958 o atacante Léo Briglia foi contratado. Ele quase seria convocado para a Copa do Mundo daquele ano, quando a seleção brasileira se consagraria com o primeiro mundial. Já na temporada do primeiro campeonato brasileiro da história, também foram contratado o atacante Alencar (o “Pelé do Bahia”), e o volante Flávio.
No banco, o Tricolor de Aço ainda contava Carlito, o maior artilheiro na história do clube que, aos 32 anos de idade, já estava em decadência física.
A conquista do estadual de 1958
Contando com um elenco recheado de bons jogadores, o EC Bahia fez aquilo que a maioria dos torcedores locais esperava, e venceu o Campeonato Baiano de 1958. No torneio, o Tricolor foi dominante, liderando de ponta a ponta os dois turnos, até chegar à grande decisão contra o Vitória. E na final não deu outra, o Bahia confirmou o favoritismo e venceu os rivais pelo placar de 2 a 0.
Para se ter uma ideia, aquele era o início de um pentacampeonato estadual do clube, que culminaria até o ano de 1962 e que mostraria toda a hegemonia do clube em seu estado.
O regulamento da Taça Brasil de 1959
Para o ano de 1960, a Conmebol, confederação que rege o futebol na América do Sul, resolveu organizar o primeiro torneio de caráter sul-americano entre clubes. Dessa forma, foi criada a Copa Libertadores da América, competição que tinha como objetivo reunir os principais times do continente que, por ventura, teriam que ser as campeãs de seus respectivos países.
Porém, no Brasil, ainda não existia uma competição oficial de caráter nacional, e sim, apenas os campeonatos estaduais. Sendo assim, a CBD – então confederação do futebol brasileiro – se viu obrigada a criar uma competição nacional. Ali, reuniria os então cada campeão de cada estado. Foi então, que em 1959, seria organizada o primeiro campeonato de caráter nacional no país, chamada de Taça Brasil, e com os campeões estaduais do ano de 1958.
Segundo o regulamento da competição, os campeões paulista e carioca já entraria diretamente na fase semifinal. Enquanto isso, os times campeões dos demais estados teriam que disputar pequenos mata-matas com quatro equipes, divididos por cada região do país. Foi assim, que o EC Bahia garantiu sua vaga para a Taça Brasil de 1959, justamente por ter sido campeão estadual no ano anterior.
Como foi a participação do EC Bahia
Em sua estreia na Taça Brasil de 1959, o EC Bahia entrou no Grupo Nordeste da competição, onde se reunia os campeões estaduais do Ceará, de Alagoas e do Rio Grande do Norte. No cruzamento das chaves, o primeiro adversário do Tricolor de Aço foi o CSA, atual campeão alagoano. E na estreia, em Maceió, a diferença técnica entre as duas equipes foi visível e o Bahia atropelou pelo placar de 5 a 0. Alencar anotou três na partida, enquanto o Carioca e Léo Briglia anotaram um gol cada.
Na partida de volta, agora no Estádio da Fonte Nova, o placar foi de 2 a 0 para o Bahia. Marito e Léo Briglia, novamente, anotaram os gols que sacramentaram a classificação do campeão baiano para a decisão do Grupo Nordeste.
Na final do Grupo Nordeste, vitória suada contra o Ceará
Depois de passar pelo CSA numa das “semifinais” até com certa tranquilidade, o Bahia teria agora pela frente um adversário que, no período, já era considerado mais complicado, o Ceará. Tanto é que, logo na partida de ida, disputado na capital cearense, o Tricolor de Aço conseguiu ficar no empate sem gols. A decisão seria em Salvador.
No duelo de volta, na Fonte Nova, a partida terminaria em mais um empate, mas dessa vez com gols, pelo placar de 2 a 2. Léo Briglia e Claudinho contra, anotaram os gols do time baiano. O resultado forçaria uma terceira partida, um duelo de desempate.
Chamado na época de jogo extra, aconteceu novamente no Estádio da Fonte Nova, e terminou com o triunfo do time da casa, na bacia das almas. Biriba abriu o placar para o Tricolor no final do primeiro tempo, e viu, minutos depois, Doca empatar para o Ceará. Já na prorrogação, aos 27 minutos do primeiro tempo, Léo Briglia, o grande goleador do Bahia, apareceu para anotar o segundo e o gol que iria garantir a classificação da equipe por 2 a 1.
Quartas de final: É goleado, mas supera o Sport/PE
Após a classificação contra o Ceará, na decisão do Grupo Nordeste, o Bahia conquistou a classificação para as quartas de final da Taça Brasil de 1959, agora para enfrentar o Sport Recife. Vale destacar que, mesmo sendo uma equipe do Nordeste, o Sport/PE figurou no Grupo Norte da competição, onde se classificaria.
No primeiro jogo, realizado dentro de seu território, uma partida equilibrada e vitória suada do Bahia pelo placar de 3 a 2. Marito, Biriba e o atacante Ari marcaram os gols do time baiano.
Já no duelo de volta, o Tricolor de Aço esteve irreconhecível no Estádio da Ilha do Retiro, com uma catastrófica goleada de 6 a 0. Como naquela época não havia critério de saldo de gols, um terceiro jogo teria que ser realizado. Quem vencesse garantiria uma vaga para as semifinais. Em mais um duelo na Ilha do Retiro, em Recife, o time do Bahia entrou totalmente concentrado, e garantiu a vitória pelo placar de 2 a 0, gols de Biriba e Léo Briglia.
Na semifinal, bate o Vasco da Gama de Yustrich
Vasco x Bahia em 1959 Copa Brasil semifinais https://t.co/YvuAXaxIXR pic.twitter.com/rc6CZddco2
— InfoVasco ✠ (@InfoVasco) July 1, 2017
Naquele ano de 1959, um treinador se destacava no futebol brasileiro pelo seu jeitão explosivo e disciplinador. Esse treinador estava no Vasco na Gama e era Dorival Knipel, mais conhecido como Yustrich – apelido herdado por conta de sua semelhança física com um antigo jogador argentino com o mesmo nome. Á época, Yustrich já havia passado por América Mineiro, América/RJ e também havia sido campeão português pelo Porto.
E o time cruzmaltino era considerado um dos principais do Brasil naquela época, contando com jogadores de nível da seleção brasileira, como o zagueiro Bellini, o lateral-esquerdo Coronel, e o atacante Pinga. Além de outros atletas que eram eventualmente convocados.
Contudo, na semifinal da Taça Brasil 1959, o Bahia não se intimidou diante da força do time carioca e, em pleno Maracanã, venceu pelo placar de 1 a 0, com gol de Alencar. Já no duelo de volta, em Salvador, o Tricolor de Aço não conseguiu segurar o Vasco, sendo derrotados por 2 a 1. Sendo assim, novamente um terceiro jogo teria que ser realizado, e novamente na Fonte Nova. E, dessa vez, o time baiano não titubeou e venceu pelo magro placar de 1 a 0, com gol de Léo Briglia.
Taça Brasil 1959: Na final, duelo contra o Santos, do Rei Pelé
Apenas o fato de o Bahia ter eliminado o forte time do Vasco da Gama, já poderia ser considerado um grande feito para o time nordestino. Contudo, a equipe chegava para a final da Taça Brasil 1959 para fazer história, e teria pela frente nada menos do que o Santos FC, que no período contava com um time histórico: Manga; Pavão e Mourão; Dalmo, Zito e Formiga; Dorval, Jair da Rosa Pinto, Coutinho, Pelé e Pepe. No comando técnico, Lula.
Ainda que na época, o Peixe ainda não era o time que, anos depois seria campeão nacional, da Copa Libertadores e do Mundial, porém já contava com a sua base que ficaria marcada para sempre.
Com um time como esse, além de contar com o ainda jovem Pelé, grande nome do título mundial da seleção brasileira um ano antes, o Santos FC era considerado um dos melhores times do país, e grande favorito nesta decisão contra o time do Bahia. Na primeira partida da final, na Vila Belmiro, o time visitante já chegou surpreendendo e venceu pelo placar de 3 a 2. Biriba e Alencar, duas vezes, foram os heróis daquele histórico triunfo do Tricolor de Aço.
Contudo, no duelo de volta, na Fonte Nova, o Santos daria o troco, pelo placar de 2 a 0. Naquele dia, Pelé e Coutinho tomaram conta da partida e anotaram os gols santistas, forçando assim a uma terceira e decisiva partida.
Antes da partida decisiva, Bahia troca o treinador e Santos viaja pelo mundo
Naquela época, nos bastidores da final da Taça Brasil 1959, corria a informação de que os dirigentes do Bahia chegaram a oferecer dinheiro à cúpula santista para disputar a decisão na Fonte Nova. Porém, os santistas não aceitaram e seguiram o que estava previsto no regulamento, que a partida decisiva fosse realizada no templo histórico do futebol mundial, o Estádio do Maracanã.
Mais do que isso. A partida decisiva entre Santos e Bahia ficou com a data marcada apenas para março de 1959, já que a equipe santista tinha uma série de amistosos internacionais marcados antes do jogo decisivo. Inclusive, rolava a informação de bastidores de que nesse meio tempo, os dirigentes do Peixe já negociavam as passagens para que seus jogadores disputassem a Copa Libertadores da América em 1960.
Enquanto isso, o Bahia passava por mudanças em seu comando técnico, com a saída do então treinador Geninho. Na época, o comandante tricolor percebeu que, para o jogo final, seria mais interessante a presença de Carlos Volante, ex-jogador argentino conhecido por sua liderança em campo. Inclusive, ele era uma espécie de meio-campista marcador e foi em homenagem ao seu nome que surgiu a função de volante no futebol brasileiro.
Sem Pelé, Santos perde a cabeça e Bahia 1959 é o campeão!
Em um Maracanã que contava com apenas um público que beirava 20 mil pagantes, o Santos Futebol Clube chegava exausto por conta de sua excursão internacional. Para piorar, na sua série de amistosos, o Peixe perdeu seu principal jogador, Pelé, que se contundiu naquele período. Contudo, mesmo com esses problemas, o Santos ainda conseguiu abriu o marcador do jogo com um gol do camisa 9, Coutinho, ainda no primeiro tempo. Pouco depois, no finalzinho da primeira etapa, Vicente tratou de empatar o jogo e Léo Briglia virou a partida para o Tricolor de Aço, desestruturando o psicológico do time santista.
Transtornados, os jogadores do Peixe perderam a cabeça. O primeiro a ser expulso foi o lateral-direito Getúlio, Logo depois, quem recebeu o cartão vermelho foi o zagueiro Formiga. Em seguida, até mesmo os craques Dorval e Coutinho foram expulsos, após uma troca de agressões com Flávio, lateral do Bahia, que também acabou expulso.
Com dez jogadores em campo, contra apenas sete jogadores santistas, o EC Bahia ainda ampliou o placar em 3 a 1, já na reta final da partida, com gol de Alencar. Após o apito final, o Bahia se sagrava o primeiro campeão brasileiro da história, com a conquista da Taça Brasil 1959. Como se não bastasse, o Tricolor de Aço ainda ostentou o artilheiro da competição, Léo Briglia, com oito gols.
A participação do Bahia na Copa Libertadores 1960
🇧🇷 O Esporte Clube Bahia, foi o primeiro representante brasileiro a disputar a Libertadores.
O clube foi o único BR da primeira edição de Copa Libertadores em 1960.
⚠️ Faltam 41 dias para a final da Copa #Libertadores 2021! pic.twitter.com/e6wEOP25fF
— Futebol Sul-americano (@futsulamerica_) October 17, 2021
Primeiro time brasileiro a participar de uma Copa Libertadores da América, em 1960 o enfrentou o San Lorenzo, da Argentina, em duas partidas. No duelo de ida, realizado fora de casa, o Tricolor Baiano sofreu dura derrota pelo placar de 3 a 0. Já na partida de volta, o time brasileiro venceu pelo placar de 3 a 2, mas como a competição tinha em seu regulamento a questão do saldo de gols, o Bahia acabou eliminado na competição. Carlitos, Flavio Santos e Marito foram os responsáveis por marcar os primeiros gols brasileiros em uma Copa Libertadores.
No final das contas, quem acabou ficando o título daquela competição foi o Peñarol, do Uruguai. Na ocasião, os uruguaios derrotaram o Olímpia. do Paraguai, para se sagrarem os primeiros campeões da Libertadores. No ano seguinte, na final contra a SE Palmeiras, o time uruguaio se sagraria bicampeão da competição continental.