História de clube basco tem conquistas, além de nunca ter sido rebaixado

Quando o assunto é identificação com o lugar de origem, poucos clubes pelo mundo se comparam ao Athletic Bilbao. As raízes bascas protagonizam uma longa história também dentro das quatro linhas, onde o futebol significa muito além de apenas vencer.

O País Basco compreende um território com cerca de 20 mil km² localizado na Espanha e na França. A parte espanhola consiste numa comunidade autônoma ao governo central de Madrid e desperta anseios em prol de uma total independência. Já a identidade basca no futebol da cidade de Bilbao tomou forma num processo progressivo ao longo das décadas.

O nascimento do clube ocorreu em 1898, através da união entre trabalhadores ingleses fixados no País Basco, o que explica o Athletic no nome, e jovens locais. Atletas ingleses compunham o elenco nos primeiros anos, o que ocasionava diversas dificuldades burocráticas para levá-los a campo.

Foi no ano de 1912 que o Bilbao adotou a famosa política de contratar somente jogadores bascos. Os laços afetivos com a região se consolidariam décadas mais tarde, no sombrio período da ditadura na Espanha, comandada pelo ditador Francisco Franco.

As manifestações políticas e culturais das comunidades autônomas contrariavam a ditadura no país, que vigorou de 1939 a 1975. Em uma de suas escaladas autoritárias, o franquismo proibiu o uso de línguas estranhas ao castelhano. Dessa forma, o Athletic Bilbao passou a se chamar, temporariamente, Club Atlético de Bilbao.

A repressão do regime, contudo, elevaria o entusiasmo da região basca. Para a torcida do clube, contar só com bascos no elenco significava andar na contramão do ditador Franco. O futebol era um símbolo de resistência, e um refúgio.

5 de dezembro de 1976 e o clássico contra a falta de liberdade

O principal rival basco do Athletic Bilbao é a Real Sociedad – clube de San Sebastian, a 101 km de Bilbao. No dia 5 de dezembro de 1976, um clássico em específico ganhou a eternidade. A Espanha recolhia os cacos de uma ditadura que durou mais de 35 anos, e se encontrava em um arrastado processo de redemocratização.

Contrariando as normas governamentais, os capitães Kortabarria (Real Sociedad) e Iribar (Athletic Bilboa) exibiram a  Ikurriña (bandeira do País Basco) ao adentrarem o gramado do Estádio Anoeta, casa da Real Sociedad.  Menos lembrada é a goleada que o time da casa aplicou sobre o rival, num estrondoso 5 x 0. O que ficou foi o corajoso ato dos atletas.

Críticas e quebras de tabus

Ainda vigora no Athletic Bilbao a política de contratações estabelecida no ano de 1912. Ao todo, apenas oito jogadores não nascidos na parte espanhola do País Basco – incluindo o goleiro brasileiro Vicente Biurrun – integraram o elenco em mais de um século. O clube alega, porém, que eles tinham algum tipo de vínculo com a comunidade basca.

Críticos enxergam um componente racista na história do Athletic, como efeito colateral do nacionalismo basco.

Em novembro de 2011, em partida contra o Sevilha válida por La Liga, o técnico argentino Marcelo Bielsa, “El Loco Bielsa”, escalou Jonás Ramalho. O zagueiro se tornava, assim, o primeiro negro a entrar em campo com a camisa alvirrubra.

Já em fevereiro de 2015, o atacante Iñaki Williams quebrou novo tabu no clube. Contra o Torino, pela Liga Europa, ele foi o primeiro jogador negro a marcar um gol pelo Athletic Bilbao.

Athletic Bilbao: Um clube com histórico de conquistas

Quem pensa que a história do Athletic Club Bilbao se resume à alardeada sintonia com o País Basco, se engana. Há nela certa tradição na arte de empilhar taças. O clube faturou o Campeonato Espanhol em oito oportunidades, e no número de conquistas, fica atrás apenas de Real Madrid, Barcelona e Atlético de Madrid.

Seu melhor período de conquistas foi há muito tempo, nos anos 1930, quando o Athletic Bilbao dominou o futebol espanhol e deu a volta olímpica por quatro temporadas, em dois bicampeonatos (1929-30, 1930-31, 1933-1934, 1935-1936).

A Segunda Guerra Mundial interrompeu as disputas e a sequência gloriosa dos vermelhos e brancos.

O Campeonato Espanhol voltou no ano de 1939, sendo que o Athletic faturaria o nacional em 1942-1943 e, depois, só em 1955-56. Nesse período seria a ascensão do Real Madrid do craque argentino Di Stéfano.

Algumas décadas se passaram para que o clube voltasse às glórias em La Liga. O último período de conquistas aconteceu na década de 1980, com outro bicampeonato – 1982-83 e 1983-84. Na época, os bascos se igualavam ao Atlético de Madrid no ranking de conquistas, e estavam na cola do Barcelona, que já tinha levado nove vezes o campeonato. Já o Real Madrid folgava na ponta, com 20 títulos espanhóis até então.

Outro torneio importante na Espanha é a Copa do Rei, e o Athletic Bilbao venceu 24 edições, ficando atrás apenas do Barcelona.

Criado para homenagear o antigo monarca Afonso XIII, o torneio era o principal da Espanha até o surgimento do Campeonato Espanhol, na temporada de 1929. O Bilbao liderava a lista de vencedores, com 10 canecos na prateleira, e só seria ultrapassado pelos catalães na temporada de 2008-09.

Em sua estante de troféus, os “Leones” ainda possuem três Supercopas da Espanha (1984-85, 2015-16 e 2020-21).

Clube que nunca foi rebaixado

A história do Campeonato Espanhol nunca registrou um rebaixamento do Athletic Bilbao, sendo o único clube a sempre permanecer na elite além, é claro, dos gigantes Real Madrid e Barcelona.

Sua pior colocação foi um 17 lugar na temporada 2006-07, terminando um ponto acima da zona da degola.

As principais lendas do Athletic Bilbao

Ninguém marcou tantos gols com a camisa alvirrubra quanto o lendário atacante Telmo Zarra. Terceiro maior artilheiro de La Liga, soma um total de 251 gols em 277 jogos, ficando atrás apenas de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo. Zarra atuou em um total de 354 partidas pelo time basco, nas décadas de 1940 e 1950, balançando as redes em 335 oportunidades. Também conquistou um título espanhol e cinco Copas do Rei.

Outro grande nome na história do Bilbao foi o atacante Pichichi. Autor do primeiro gol no Estádio San Mamés, em 1913, ele também empresta seu nome ao troféu de artilharia de La Liga. Pelos Leones, de 1913 a 1921, ele marcou 83 gols em 89 aparições, e venceu a Copa do Rei em quatro temporadas.

O goleiro José Angel Iribar, outro  grande ídolo dos bascos,  é o atleta que detém o recorde de números de partidas no clube. De 1962 a 1980, ele vestiu a camisa alvirrubra 614 vezes.

La Catredal

O Estádio de San Mamés, conhecido como “La Catedral”, sobreviveu durante um século, de 1913 a 2013, quando foi demolido. O clube construiu o novo e belíssimo San Mamés, inaugurado já em 2013, num terreno ao lado da antiga casa.