(1962) Santos x Botafogo/RJ: O maior jogo do mundo!
Índice
- 1 Santos: O melhor time do mundo
- 2 Do outro lado o Botafogo/RJ, o principal candidato para barrar o Peixe
- 3 Taça Brasil 1962: Santos e Botafogo alcançam a final!
- 4 A primeira parte do “maior jogo do mundo”: Duelo de tirar o fôlego!
- 5 No segundo jogo, Botafogo/RJ leva a melhor
- 6 No confronto derradeiro, Santos não tomou conhecimento do rival
- 7 Santos x Botafogo: O Maior Jogo do Mundo
Por Leonardo Silva em colaboração com Arnaldo Rocha
Quem vivenciou as décadas de 1950 e 1960, viu uma época de ouro do futebol brasileiro. Mais exatamente entre o final dos anos 50 e início dos anos 60, o que se viu no Brasil foi um dos maiores momentos do futebol brasileiros, quiçá mundial, com duas equipes que se tornaram referência no quesito futebol arte.
Santos Futebol Clube e Botafogo/RJ eram verdadeiros esquadrões que escancaravam a beleza do futebol brasileiro sob liderança de dois gênios do futebol. Nada mais nada menos do que o Rei Pelé e o anjo das pernas tortas, Garrincha. Eram dois times que representaram uma era mágica do futebol brasileiro, a base da seleção brasileira que se tornaria bicampeã mundial, em 1958 e 1962.
E em 1963, protagonizaram aquele que ficou conhecido como “o maior jogo do mundo”. Em três jogos eletrizantes, válidos pela final da Taça Brasil do ano anterior, as duas equipes provaram porque o futebol brasileiro era o melhor do mundo no período.
Santos: O melhor time do mundo
Santos FC, 1962. pic.twitter.com/XYALqtpG0Z
— Valeria Rodríguez (@Valrodriguezv_) May 1, 2021
Em 1962, o Santos passava por um dos melhores momentos de sua história . Comandados por Pelé, na companhia de outros grandes craques, a equipe dominou o cenário nacional entre o final da década de 1950, até meados dos anos 1970.
Nesse período a equipe colecionou diversos títulos no Brasil e no exterior, sendo inclusive convidados com frequência para realização de diversos torneios amistosos. E foi justamente no ano de 1962 que o Santos viveu o ápice dos seus momentos de glória, com a conquista de sua primeira Copa Libertadores da América e do Mundial Interclubes.
A equipe também vinha de outras conquistas importantes, como o tricampeonato paulista (1960, 1961 e 1962), e a Taça Brasil de 1961. Em excelente fase o Peixe estava mais uma vez classificado para a disputa da final da Taça Brasil , desta vez contra o Botafogo/RJ.
Um elenco cheio de estrelas sob a regência de Pelé
O Santos Futebol Clube contava com um elenco repleto de estrelas. O time base alvinegro praiano naquele período era formado por: Gilmar; Lima, Mauro e Dalmo; Calvet, Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. No banco, o lendário técnico Lula.
Para se ter uma ideia da força deste time, sete destes jogadores também serviram a seleção brasileira bicampeã do mundo em 1962, no Chile. Eram eles: o goleiro Gilmar, Mauro, Zito, Mengálvio, Pelé, Coutinho e Pepe. Dessa forma, não é nenhum exagero dizer que a aquele time do Santos era uma verdadeira seleção.
Do outro lado o Botafogo/RJ, o principal candidato para barrar o Peixe
Você já ouviu falar na seleção que o Botafogo tinha em 1962?
Em Pé: Paulistinha, Manga, Jadir,Nilton Santos, Airton e Rildo;
Agachados: Garrincha, Edson, Quarentinha, Amarildo e Zagallo.Grandes jogadores da história do clube e do Brasil nesta imagem. pic.twitter.com/cgt8pcIxH2
— Canal do Medeiros (@CanalMedeiros_) May 15, 2020
Assim, como o rival alvinegro paulista praiano, o Botafogo/RJ vivia uma das melhores épocas de sua história, com a conquista de importantes títulos no período. Dentre eles: o bicampeonato carioca de 1961 e 1962, e o torneio Rio-São Paulo, também conquistado em 1962. O time de General Severiano era o principal time do Rio naquele momento e o único capaz de medir forças contra o Santos de Pelé.
Sem contar que, no início daquele ano de 1962, o time da Estrela Solitária havia vencido o próprio Peixe em um amistoso, pelo placar de 3 a 0. Com dois gols de Amarildo e o outro de China. Dessa forma, era o principal time naquele período capaz de rivalizar com o Santos. Situação que mudaria poucos anos depois, com a ascensão da primeira Academia do Palmeiras.
Glorioso também base da seleção brasileira
Se de um lado o Santos de Pelé tinha um elenco recheado de craques, o time de General Severiano também não ficava atrás. Além de Mané Garrincha, o gênio das pernas tortas, completavam aquele brilhante time: Manga, Rildo, Zé Maria, Nilton Santos, Ivan, Airton, Edison, Quarentinha, Amarildo e Zagallo. O técnico era Marinho Rodrigues, que foi jogador do próprio Botafogo.
Entre os jogadores da Estrela Solitária que sempre estavam presentes nas convocações da seleção brasileira, estavam a “Enciclopédia” Nilton Santos, Didi, o inventor da “Folha Seca”. Além de Garrincha, Zagallo e Amarildo, também presentes no bicampeonato mundial de 1962.
Didi, o príncipe etíope, que já vinha caminhando para o final da carreira, mas com o passe ainda vinculado ao Botafogo, passou uma temporada no Sporting Cristal/PER, antes de retornar ao Glorioso.
Taça Brasil 1962: Santos e Botafogo alcançam a final!
Os dois maiores times na história do Brasil, Santos e Botafogo/RJ era a base da seleção brasileira entre os anos de 1958 e 1962! pic.twitter.com/g1p69qubjm
— Lendas do Futebol (@futebol_lendas) June 25, 2021
Como eram os atuais campeões dos estaduais mais prestigiados do país, Santos e Botafogo garantiam assim, e automaticamente, uma vaga direta para a fase final da Taça Brasil de 1962 (o então Campeonato Brasileiro da época). No lado da chave do Peixe, o Santos empatou com o Sport, em 1 a 1, na Ilha do Retiro, para depois garantir seu passaporte para a grande final após bater e golear por 4 a 0 no estádio da Vila Belmiro.
Do outro lado, após empatar os dois primeiros jogos em 2 a 2 com o SC Internacional, em partidas realizadas no Maracanã e no Olímpico, respectivamente, o Fogão bateu o Colorado por 2 a 0 no jogo desempate. Também realizado no estádio do rival Grêmio.
O calendário do futebol brasileiro era bastante bagunçado na época. Enquanto o Botafogo disputava a série semifinal contra o Internacional, em novembro de 1962, o Santos enfrentaria o Sport apenas em janeiro do ano seguinte. Sendo que as finais da Taça Brasil de 1962 começariam a ser disputadas apenas em março de 1963. Com o jogo derradeiro disputado em 2 de abril.
Garrincha fora do primeiro jogo!
Na foto, #Garrincha em pose para foto oficial da delegação brasileira que partiria para a #CopadoMundo de 1962.
O Brasil saiu com o título, e Mané acabou como artilheiro e Bola de Ouro do torneio. pic.twitter.com/8xDY70dJbW
— Lendas do Futebol (@futebol_lendas) June 26, 2021
Manoel Francisco dos Santos, o Garrincha, voltou do Chile como herói na conquista do bicampeonato mundial. Artilheiro e eleito também o melhor jogador do torneio. Porém, o clima em General Severiano não era dos melhores. Com muitas propostas de clubes do exterior desde a brilhante campanha no Chile, Mané estava em pé de guerra com o clube.
O jogador, aconselhado pela então companheira Elza Soares, exigia do Botafogo uma valorização salarial e o pagamento de prêmios atrasados. Suas declarações polêmicas às rádios e jornais da época lhe custaram uma multa de 60% sobre seu salário, além da suspensão do contrato. Tudo isso às vésperas da primeira partida decisiva da Taça Brasil.
A primeira parte do “maior jogo do mundo”: Duelo de tirar o fôlego!
Foi no dia 19 de março de 1963 que estariam frente a frente as duas maiores equipes do Brasil no período. Era uma final super aguardada, e que preencheria todas as expectativas de torcedores e críticos. Santos e Botafogo fizeram uma verdadeira final. Em confronto realizado no estádio do Pacaembu, o Botafogo logo deu a sua cartada inicial ao abrir o placar com Quarentinha, de falta, aos 13 minutos de jogo.
Porém, ainda no primeiro tempo, o Santos usou do mesmo remédio para empatar a partida com Pepe, o “Canhão da Vila”.
Após a igualdade na etapa inicial, o Peixe voltou de forma avassaladora para o segundo tempo. Com um minuto, o artilheiro Coutinho virou para o Santos, e como se não bastasse, Dorval faria o terceiro gol do Peixe pouco tempo depois, dando a impressão de que o duelo estaria resolvido.
Entretanto, o Botafogo não se entregou, e Amarildo diminuiu para os cariocas, aos 21. Mas, aquele parecia ser mesmo o dia de Pepe, que marcou o quarto gol do Peixe, em um arremate de 40 metros, ampliando a vantagem para 4 a 2. Nos últimos minutos, ainda deu tempo de Amarildo, “O Possesso”, diminuir para a equipe do Botafogo em um dos jogos mais fantásticos da história, o “Maior Jogo do Mundo”.
No segundo jogo, Botafogo/RJ leva a melhor
Na segunda partida, que também era válida para o Torneio Rio-São Paulo, realizada no Maracanã, esteve presente um público de mais de 100 mil torcedores, que ansiava em ver o desfile de craques. O Santos Futebol Clube precisava apenas de um empate para garantir o título nacional. Já o Botafogo/RJ contava com o retorno de Mané Garrincha, e só a vitória interessava.
De fato, o anjo das pernas tortas foi a principal atração do Botafogo naquela partida. Embora ainda fora de forma, o craque protagonizou alguns lances plásticos, sofreu faltas e ainda carimbou a trave no segundo tempo. O duelo foi equilibrado, e o Botafogo abriu o placar com Édison, que aproveitou uma sobra e chutou cruzado, sem chances para o goleiro Gilmar. O clube alvinegro carioca saiu em vantagem para o intervalo.
Pelé bem marcado passa em branco
No segundo tempo o Santos voltou atacando, mas o Botafogo se mostrava mais organizado, se defendendo bem. Pelé não jogava mal, mas um senhor lateral de 38 anos, chamado Nilton Santos, marcava brilhantemente o Rei do Futebol. E em um lance de contra-ataque, o time de General Severiano ampliou a vantagem aos 14. Quarentinha chutou forte no canto direito de Gilmar, depois de ótima jogada de Amarildo.
Apático, o Santos não conseguia reagir e ainda viu o “Possesso” Amarildo, o melhor em campo, marcar o terceiro para o Botafogo/RJ. O Peixe só conseguiu diminuir no final da partida, devido a um gol contra do botafoguense Rildo.
Mesmo com a vitória carioca por 3 a 1 no segundo jogo do confronto, como a regra não priorizava o saldo de gols e sim o número de vitórias, a Taça Brasil de 1962 ainda não tinha um campeão definido. Santos e Botafogo teriam que realizar um terceiro jogo para saber quem ficaria com o título.
No confronto derradeiro, Santos não tomou conhecimento do rival
Em mais um duelo realizado no estádio do Maracanã, foi no dia 2 de abril de 1963 – desta vez para um público com cerca de 70 mil pessoas – que Santos e Botafogo/RJ se enfrentariam para decidir quem seria o grande campeão brasileiro do ano de 1962. E o terceiro jogo estava em aberto. Era um confronto entre a base da seleção brasileira, bicampeã mundial, decidindo com todos os melhores ingredientes, o melhor time do país.
Porém, o que se viu um verdadeiro show da equipe do Peixe, para comprovar aquele como o melhor time do mundo no período, sem sombra de dúvidas.
Logo aos 25 minutos da etapa inicial, Dorval abriu o placar para o Santos. Já no final do primeiro tempo, Pepe tratou de ampliar para os santistas, anotando 2 a 0, em um arremate de longa distância, característica do “Canhão da Vila”. Porém, contando com falha do mítico goleiro Manga.
Se no primeiro tempo o time da Vila dominou a partida, na segunda etapa não teria sido diferente. Coutinho anotou o terceiro gol da equipe do Peixe e – nos últimos 15 minutos de jogo – a estrela de Pelé brilhou. O Rei do Futebol anotou mais dois gols para o Santos e fechou o jogo com goleada para os santistas. De maneira avassaladora, o Peixe conquistava o seu segundo título brasileiro da história!
Rei Pelé comanda o baile!
Pelé havia passado em branco nas duas partidas anteriores. Porém, reservava para o jogo decisivo uma atuação espantosa, na mais pura manifestação do futebol arte, com participação direta em quatro dos cinco gols do time santista. No primeiro gol, o Rei atraiu a marcação de três marcadores antes de enfiar um passe na medida para Dorval, livre de marcação abrir o placar para o Santos.
Na jogada do terceiro gol, Zé Maria tentou passar a bola para Nilton Santos, mas acabou entregando de presente para Pelé, que passou a bola por entre as pernas do zagueiro e tocou para Coutinho, que chutou na saída do goleiro Manga.
Em mais uma jogada com a participação de Coutinho, o camisa 10 do Santos saiu do campo de defesa carregando a bola, e realizou uma bonita troca de passes com o camisa 9. Quando Manga saiu do gol para impedi-los, Pelé com um toque sutil encobriu o arqueiro botafoguense para marcar o quarto gol do Peixe.
No último tento santista, Pelé passou fácil por Jadir, chutou, a bola bateu no peito de Manga e se oferece novamente para Pelé liquidar a partida.
Botafogo/RJ até que tentou parar o Santos
O Botafogo/RJ iniciou a partida apresentando um bom futebol, mas o Peixe melhor encaixado em campo, aos poucos foi tomando conta da situação. E, com naturalidade, os gols foram saindo. A lesão de Rildo antes dos 20 minutos da primeira etapa, desestabilizou o sistema defensivo botafoguense. A sua saída puxou Nilton Santos para a lateral e Jadir entrou na vaga de quarto-zagueiro. Mas assim como Zé Maria, seu parceiro de zaga, teve uma atuação desastrosa naquela noite.
No ataque o time carioca até chegou a criar oportunidades de gols durante o primeiro tempo, mas a zaga do Santos estava bem postada, com o lendário goleiro Gilmar bem quando exigido. O time alvinegro carioca não conseguiu vazar a meta santista naquele dia. Já na segunda etapa o time de General Severiano ensaiou uma pressão, mas após sofrer o terceiro gol e já rendido em campo, o Botafogo pouco pode fazer – além de assistir o espetáculo santista em campo.
O drama de Mané Garrincha
Fora de suas condições ideias de jogo, Mané Garrincha esteve um pouco mais participativo do que nos jogos anteriores. Apareceu com dribles, algumas finalizações e quase fez um gol olímpico. Solitário após o jogo, o craque teve uma nova lesão no joelho constatada.
Além do Camisa 7, Mário Jorge Zagallo, o jogador mais cerebral daquele time, também não estava em uma noite boa, sendo completamente anulado por Dorval. Pouco produzindo em campo. E apesar dos cinco gols sofridos, sendo um deles uma falha clamorosa, o goleiro Manga foi um dos melhores jogadores do Botafogo/RJ em campo. Foi responsável por uma série de defesas difíceis.
Santos x Botafogo: O Maior Jogo do Mundo
A atuação do Santos Futebol Clube foi tão impressionante que encantou a maioria dos amantes do futebol brasileiro, incluindo o jornalista Ney Bianchi. Em uma matéria no jornal “Fotos e Fatos”, segundo suas palavras, cada gol do Peixe foi uma verdadeira pintura.
“O Maracanã ainda não tinha visto tamanha exibição de futebol-arte, até quando, terça-feira, o Santos provou ser o maior time do mundo, aniquilando, por 5 x 0, o Botafogo, com Pelé abusando da condição de gênio”.
Nesta mesma publicação, o jornalista atribuiu a partida, o título de “maior jogo do mundo”.
Também citando o jogo, o grande Nelson Rodrigues disse que considerava um pobre diabo o sujeito que não assistiu aquele espetáculo, tecendo inúmeros elogios àquela brilhante atuação santista, sobretudo do Rei Pelé.
Ainda naquele ano de 1963, Santos e Botafogo/RJ voltariam a se enfrentar, agora por dois históricos duelos válidos pela Copa Libertadores da América, que seria vencida pelo Santos de Pelé. O Botafogo conquistaria a Taça Brasil apenas em 1968, em final disputada contra o Fortaleza, mas já sem Garrincha no elenco e como grande nome Paulo César Caju.
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